Este fascículo da RBECT está majoritariamente focado nas tecnologias de informação e comunicação. Trata-se de uma eventualidade e não de uma determinação editorial. É razoável supor que o surgimento espontâneo de tantos artigos relacionados com as TIC deva-se à importância que essas tecnologias têm no atual momento dos processos de ensino e aprendizagem nas diversas áreas do conhecimento. Dos dez artigos publicados neste fascículo, seis tratam sobre esse assunto Os outros quatro abordam a aprendizagem significativa e construtivista, a inserção de textos de divulgação científica em livros de ciências, o enfoque CTS, e a potencialização do ensino de ciências com literatura.
No artigo de abertura, Neci Iolanda Schwanz Kiefer e Luiz Alberto Pilatti apresentam um roteiro para a elaboração de uma aula significativa, um tema de extrema relevância no referencial teórico da teoria da aprendizagem de Ausubel. Os autores observaram especialmente aspectos relacionados com a validade e possibilidade de utilização da ferramenta por outros professores.
Assim como o primeiro, o segundo artigo apresenta uma perspectiva construtivista ao tratar a abordagem de resolução de problemas. Os autores, Verônica Tavares Santos Batinga e Francimar Martins Teixeira, realizaram um estudo de caso a partir da filmagem de quatro aulas de uma professora de química da 3a série do ensino médio. O problema proposto pela professora referia-se à combustão do álcool e tinha como objetivo introduzir o conceito de estequiometria em nível qualitativo. As autoras relatam que a professora adotou alguns elementos da perspectiva construtivista para abordar a resolução de problemas em sala de aula.
Sob o título “Análise do processo de reelaboração discursiva na incorporação de um texto de divulgação científica no livro de ciências”, Pedro Henrique Ribeiro de Souza e Marcelo Borges Rocha abordam um tema de grande relevância no ensino das ciências da natureza. A importância do tema, destacada em inúmeras publicações e nos Parâmetros Curriculares Nacionais, ainda não produziu repercussões em nossos cursos de formação de professores. Professores universitários e do ensino básico têm muita dificuldade para lidar com essa variante do processo de ensino e aprendizagem. Os autores deste trabalho investigaram uma importante componente do processo, qual seja a incorporação de textos de divulgação científica em livros didáticos de ciências. Suas análises sugerem uma redução significativa do texto de divulgação abordado quando inserido no livro didático considerado no estudo, fato este que reforça o papel do professor como mediador das atividades em que esses materiais são inseridos na sala de aula.
Em uma espécie de contrapartida ao artigo anterior, Awdry Feisser Miquelin, Nestor Cortez Saavedra Filho e Sam Adam Hoffman Conceição, apresentam uma reflexão teórica a respeito da influência do determinismo tecnológico no ensino de ciências, tendo como ponto de partida a trilogia Fundação de Isaac Asimov. Ou seja, trata-se aqui da transposição da temática ficcional para o contexto pedagógico da sala de aula. Os autores concluem “que esta obra pode ser utilizada por professores como forma de problematizar e enriquecer discussões em torno do determinismo tecnológico e o Ensino de Ciências para estudantes de diferentes níveis.”
O bloco de artigos relacionados com as tecnologias de informação e comunicação (TIC) inicia com “O Arborescer das TIC na Educação: da raiz aos ramos mais recentes”, assinado por Jefferson Fagundes Ataíde e Nyuara Araújo da Silva Mesquita, no qual apresentam “uma revisão bibliográfica no sentido de propor a descrição de parte da trajetória histórica das TIC na educação” para mostrar que “o progresso atual segueem direção à introdução maciça de tecnologias no ambiente escolar como reflexo à abrupta expansão do mercado tecnológico em consonância aos pressupostos ideológicos fundamentalmente aderidos ao capital. Nesse sentido, fortalece-se a preocupação das ciências sociais em justaposição aos estudos educacionais no sentido de promover uma apropriação mais crítica.”
No artigo seguinte, Washington Romão dos Santos, Jonathan Toczek e Solange Sardi Gimenes apresentam “as potencialidades que os ambientes virtuais proporcionam ao ensino presencial” na educação básica, concluindo que os “estudantes têm um novo espaço para tirar dúvidas, participar de discussões e construir seu próprio conhecimento com o professor acompanhando a construção coletiva”. Portanto, trata-se de um processo com uma perspectiva construtivista.
Em “Ĵigo: um editor de objetos de aprendizagem de temas de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS)”, Marcelo Leandro Eichler e José Claudio Del Pino apresentam uma interessante ferramenta para criação de ambientes de ensino e aprendizagem colaborativa em temas relacionados ao meio ambiente. Apesar de sua abordagem específica neste artigo, a metodologia da proposta poderá ser utilizada em projetos de outras áreas. Como salientam os autores, o termo ‘ĵigo’, vem do esperanto, que sugere idéias de jogo, quebra-cabeça, jogo de paciência e puzzle.
Em “Vídeo em Libras: um estudo sobre produção e consumo de material audiovisual para a educação de surdos”, Maria Inês Batista Barbosa Ramo e Luiz Augusto Coimbra Rezende Filho relatam um estudo feito a partir do uso que professores da rede regular de ensino fazem do vídeo em libras “Sinalizando a Sexualidade”, produzido pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos. Para tanto, realizaram uma análise fílmica do vídeo, entrevistaram seus produtores e aplicaram um questionário a sete professores, e chegaram à conclusão de que os professores fizeram uma leitura do vídeo convergente com os objetivos estabelecidos por seus produtores.
Atividades lúdicas sob a forma de jogos pedagógicos vêm sendo investigados no ensino de ciências há décadas. Não surpreende o fato de que esse tipo de abordagem tenha crescido tanto com o advento das novas tecnologias de informação e comunicação. Sérgio Choiti Yamazaki e Regiani Magalhães de Oliveira Yamazaki analisaram vários jogos de biologia, física e química e relataram suas avaliações no artigo “Jogos para o ensino de física, química e bilogia: elaboraçãoo e utilização espontânea ou método teoricamente fundamentado?”. Chegaram à conclusão de que “os jogos não se utilizam de pressupostos teóricos tanto na elaboração quanto na avaliação dos resultados, o que parece se constituir como uma questão problemática por levar à compreensão de que se trata de projetos com regras arbitrárias e inspirados em concepções socialmente incorporadas e espontâneas por natureza.” Pela importância que esse tipo de atividade supostamente tem para o processo de ensino e aprendizagem, a conclusão do presente artigo talvez motive estudos similares para aumentar a amostragem investigada e encaminhar conclusões estatisticamente mais significativas.
No último artigo deste fascículo, José Carlos Pinto Leivas e Juliana Aparecida Gobbi discorrem sobre “O software GeoGebra e a Engenharia Didática no estudo de áreas e perímetros de figuras planas”. O estudo teve como objetivo investigar como alunos realizam a construção do conhecimento de um assunto com a utilização do GeoGebra, e os autores concluíram “que a aplicação da sequência didática ajudou na aprendizagem dos alunos, pelas contribuições obtidas pelo uso do software, pois tornou as aulas dinâmicas e possibilitou o entendimento dos alunos sobre o cálculo de perímetros e áreas, completando uma lacuna existente do ensino da geometria.”
Carlos Alberto dos Santos
Professor Visitante Sênior CAPES-UNILA
Sumário
Artigos
Neci Iolanda Schwanz Kiefer, Luiz Alberto Pilatti
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Verônica Tavares Santos Batinga, Francimar Martins Teixeira
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Pedro Henrique Ribeiro de Souza, Marcelo Borges Rocha
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Awdry Feisser Miquelin, Nestor Cortez Saavedra Filho, Sam Adam Hoffmann Conceição
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Jefferson Fagundes Ataíde, Nyuara Araújo da Silva Mesquita
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Washington Romão dos Santos, Jonathan Tocseck, Solange Sardi Gimenes
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Marcelo Leandro Eichler, José Claudio Del Pino
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Maria Barbosa Ramos, Luiz Augusto Rezende Filho
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Sérgio Choiti Yamazaki, Regiani Magalhães de Oliveira Yamazaki
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José Carlos Pinto Leivas, Juliana Aparecida Gobbi
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