Novos gêneros replicados em velhas estruturas: O livro didático no Ensino Médio nas escolas públicas estaduais da Paraíba, à luz da BNCC

Resumo

A estrutura, o layout de apresentação dos itens em cada capítulo, bem como o padrão de replicação tradicional de fragmentos e/ou poemas completos extraídos do chamado cânone literário tradicional compõem um rol de características identificadas no livro didático, assinado por Wilton Ormundo e Cristiane Siniscalchi, e intitulado Se Liga nas Linguagens: Português. Obra específica: Língua Portuguesa. Em adendo estampa na própria capa as seguintes informações: Área de conhecimento – Linguagem e suas Tecnologias. Obra específica: Língua Portuguesa. Recomendado pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) nas escolas públicas do Ensino Médio do estado da Paraíba, no quadriênio 2021-2024, trata-se de um impresso único específico para as três séries deste nível. Com efeito, proponho-me a provar – à luz de Sodré (2003), na obra Os Caminhos do Livro e da análise da distribuição das atividades propostas no LD – que o fato de a autoria da grande maioria dos gêneros textuais/discursivos, mencionados como pretexto para as atividades no LD, se centrar no eixo sul-sudeste do Brasil pode apontar para um quadro de preconceito de base regionalista, que implicita o que chamo de censura branca. Ademais, historicizo a origem do LD no Brasil, a partir das adaptações, iniciadas em 1808, das obras clássicas para fins escolares adotadas no Brasil, intituladas ad usum. Analiso, com efeito, de que forma e em que níveis, o LD em análise reproduz a estrutura de tais adaptações, seletistas e, por que não dizer, com fortes tons de censura, sobremaneira com a exclusão dos gêneros textuais do chamado cânone literário.