v. 1, n. 2 (2008)

DOI: 10.3895/S1982-873X20080002

Em um cenário extremamente complexo, que é o da Sociedade do Conhecimento, vivemos num país de contrastes. A idéia presente no título da obra maior de Gilberto Freyre, Casa-Grande e Senzala, transformada em alegoria, talvez seja o melhor retrato de um país onde os contrastes são forjados com riqueza extrema e pobreza abjeta, misturando, num mesmo tempo, o arcaico e o moderno. Com o desenho não se pretende reduzir o Brasil a um gigantesco engenho de cana-de-açúcar pernambucano. A questão apresenta uma complexidade muito maior e perpassa pela necessidade um projeto de nação que não possuímos. Um projeto de país é feito com educação.

As desigualdades existentes produzem mazelas que, se já não são, tendem, muito rapidamente, tornar-se permanentes. A educação é a única possibilidade, em médio prazo, de transmudar este cenário cinzento. A educação pode gerar pesquisa científica, que é a única possibilidade real de mudança. Só com ciência e tecnologia deixaremos de ser um país exportador de matéria-prima de baixo custo e importador de produtos com tecnologia agregada de custos elevados.

O ponto nodal de passagem para um país melhor está situado na junção da educação com a ciência e tecnologia. Trata-se de algo que não se faz do dia para a noite. É verdade, que muita coisa tem sido feita, entretanto, é igualmente verdade, que existe muito por se fazer. Destarte, é com imensa satisfação que, na condição de diretor do Campus Ponta Grossa da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, vejo a iniciativa do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia em abrir mais um espaço privilegiado para a discussão do ensino de ciência e tecnologia.

Este segundo número da Revista Brasileira de Ensino de Ciência e Tecnologia vem a público, mantendo rigorosamente a periodicidade proposta, trazendo seis artigos de pesquisadores de diferentes instituições brasileiras.

O primeiro artigo intitulado Ciência, tecnologia e sociedade e formação do engenheiro, de autoria de Tatiana Menestrina e Walter Antônio Bazzo, faz uma análise da legislação vigente, tendo como pano de fundo os diferentes enfoques teóricos que servem para evidenciar concepções acerca dos paradigmas educacionais, ensino de engenharia, epistemologia da construção do conhecimento em educação e as perspectivas em termos de Ciência, Tecnologia e Sociedade - CTS.

No artigo Análises preliminares de revistas da área de educação matemática, Marinez Meneghello Passos, Roberto Nardi e Sérgio de Mello Arruda apresentam considerações relacionadas aos artigos publicados em cinco periódicos de âmbito nacional da área de Educação Matemática. Em tempos em que a difusão dos resultados de pesquisas é uma obrigação do pesquisador, a discussão é bastante oportuna.

Com o artigo Recursos na internet e dobraduras para poliedros estrelados, Wellington Gonçalves Lemos e Marcelo Almeida Bairral buscam, na rede mundial de computadores, alternativas para formular uma proposta para o trabalho no ensino médio. Merece ser destacado que, como ressaltam os autores, dos conteúdos trabalhados na Matemática escolar atual os Poliedros Estrelados são inexistentes nas propostas oficiais nacionais. A constatação permite vislumbrar a originalidade do estudo.

No artigo Jogos virtuais no ensino, de autoria de Thais Dutra Silva e outros, é mostrado como a tecnologia computacional, que está presente em algumas escolas, tem sido utilizada de forma limitada como ferramenta de aprendizagem. O seu uso é restrito à área de informática, o que ignora o potencial do recurso, que é atrativo para o público infanto-juvenil e apresenta possibilidades em todas as áreas do ensino. Neste contexto, os autores analisam a interatividade e aceitação de jogos computacionais sobre a dengue, uma das doenças virais que mais matam no mundo, pelo público infanto-juvenil em espaços formais e não-formais dos estados do Rio de Janeiro e Bahia.

Em Características discursivas de um episódio de estágio de docência em acordo com os PCNs, tendo como ponto de partida a diferenciação entre massa e peso, Rodrigo Drumond Vieira, Silvania Sousa do Nascimento e Carlos Eduardo Porto Villani transitaram pelas concepções pedagógicas de ciência dos licenciandos do caso em exame. Da população, foi selecionado um licenciando cuja concepção pedagógica de ciência mostrou-se mais compatível com as diretrizes consideradas. Com a transcrição de uma aula regida pelo licenciando selecionado, foi realizada uma análise discursiva através de uma estrutura de análise de interações discursivas.

Na pesquisa de João Batista Siqueira Harres e outros, Evolução das Concepções de Futuros Professores sobre a Natureza e as Formas de Conhecer as Idéias dos Alunos, é analisada a evolução das concepções de futuros professores em relação às formas de acessar e considerar as idéias dos alunos. Trata-se de um estudo exploratório feito em uma disciplina do primeiro ano de um curso de licenciatura que forma professores para as disciplinas de física, química e matemática.

Convidando os leitores para visitar o número em tela, deixo registrada a convicção plena que este veículo de transmissão e ampliação do conhecimento produzido e discutido na área se firmará como um ponto de referência significativo para o desenvolvimento de um país tão rico e ao mesmo tempo tão pobre que precisa de avanços educacionais.

Luiz Alberto Pillati

Sumário

Tatiana C. Menestrina, Walter Antônio Bazzo
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Marinez Meneghello Passos, Roberto Nardi, Sérgio de Mello Arruda
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Wellington Gonçalves Lemos, Marcelo Almeida Bairral
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Thais Dutra Silva, Fernanda Serpa Cardoso, Carlos Rangel Rodrigues, Maria Izabel Liberto, Maulori Currié, Marcos André Vannier, Helena Carla Castro
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Rodrigo Drumond Vieira, Silvania Sousa do Nascimento, Carlos Eduardo Porto Villani
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João Batista Siqueira Harres, Michelle Camara Pizzato, Ana Paula Sebastiany, Flaviane Predebon, Magda Cristiane Fonseca
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