Formação de professores e estágio obrigatório: discursos que (re)constroem identidades docentes

Carolinne Porto da Silva, Luciana Maria Viviani

Resumo


Demandas sociais da atualidade cada vez mais vêm exigindo constantes atualizações formativas e inovações profissionais, em especial dos profissionais da educação. Mediante esse panorama, é importante entender as diferentes formas de construção identitária docente, entre tantos discursos e perfis identitários que circulam ao longo das práticas formativas e profissionais. O presente artigo analisa discursos associados aos processos de (re)construção de identidades docentes a partir das relações entre um curso de formação de professores e escolas campo em que são realizados estágios obrigatórios, buscando uma melhor compreensão de como o estágio pode contribuir para esse processo identitário, tanto em relação aos estagiários como aos educadores que atuam no ensino básico. O estudo foi embasado em depoimentos obtidos através de entrevistas semiestruturadas com supervisoras do estágio obrigatório do curso de Licenciatura em Ciências da Natureza (EACH – USP), sendo quatro coordenadoras pedagógicas e uma diretora, atuantes em escolas municipais de São Paulo. A análise dos depoimentos foi fundamentada nas teorizações de Michel Foucault sobre os discursos, tendo em vista que as práticas discursivas são moldadas por relações de poder e saber em determinado contexto histórico, produzindo subjetividades. Tais discursos, disseminados como verdades, podem (re)construir identidades profissionais docentes, embasando e norteando as práticas dos professores e estagiários no ambiente escolar. Por meio das análises das entrevistas verificou-se a regularidade de alguns discursos presentes nas falas das supervisoras, sendo um deles a respeito da função articuladora do coordenador pedagógico entre todos os sujeitos e elementos do meio escolar. Também foi evidenciado um discurso de formação docente em que se entende serem as relações estágio-escola facilitadoras do compartilhamento de conhecimentos, experiências e demandas entre professores, coordenadores e estagiários. Ocorrem ainda discursos relacionados à necessidade de participação social ativa dos estagiários, em que estes possam servir de modelo para os estudantes quanto a uma postura social ativa e crítica e quanto a importância da continuidade de estudos. Esses discursos também estão presentes em produções acadêmicas relacionadas às pedagogias críticas, o que aponta para a importância destas formulações, já que circulam tanto no ambiente formativo universitário como nas escolas campo onde são realizados os estágios. Tendo como princípio as teorizações foucaultianas acerca dos discursos, conclui-se que estes se moldam pelas relações de poder instituídas em determinado contexto sócio-histórico e que, ao serem disseminados nos meios educacionais, possuem a capacidade de produzir sujeitos e moldar suas práticas, podendo interferir na (re)construção de identidades docentes.


Palavras-chave


Discursos identitários; Pedagogias críticas; Formação inicial de professores

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DOI: 10.3895/rbect.v17n1.16633

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