Reflexões sobre a pseudo-aceitação em O Patinho Feio, de Andersen, à luz da psicologia cultural semiótica

Tatiana Alves de Melo Valério, Maria C.D.P. Lyra, Divaneide Ferreira da Silva, Jessica Sabrina de Oliveira Menezes, João Roberto Ratis Tenório da Silva

Resumo


O conto intitulado O Patinho Feio (1843), de Hans Christian Andersen, é uma obra clássica infantil, largamente adotada como leitura literária para estudantes da educação infantil no Brasil. O presente estudo – desenvolvido por meio de pesquisa bibliográfica e do cotejamento entre teoria e obra literária – busca discutir as formas de intolerância presentes nesse conto, contribuindo para uma reflexão acerca do modo como a literatura infantil pode reforçar formas de intolerância. Para tanto, fazemos um breve percurso histórico acerca do surgimento das primeiras produções literárias para o público infantil, a fim de perceber que esta não apenas foi convocada, quando de seu nascedouro, para atuar na solidificação de valores burgueses, como vem convivendo historicamente com a função primeira que lhe foi atribuída, a de moralizar os indivíduos (embora não se possa negar que essa condição vem sendo questionada e/ou passando por renegociações em produções contemporâneas). Além disso, recorremos à abordagem da Psicologia Cultural Semiótica, mais especificamente à noção de “distinção carregada de valor” (VALSINER, 2012), na condição de interpretação que ocorre no processo de significação de distinções perceptuais (o outro, diferente de mim) nas relações humanas. A leitura da obra, à luz do referencial teórico utilizado, permitiu observar a presença da estratégia de ação denominada intolerância eliminativa (resultante da valoração negativa em relação à diferença). De acordo com a argumentação aqui desenvolvida, esta [a intolerância eliminativa] atravessa o enredo do conto, sem ter sido transformada em tolerância ou aceitação. Portanto, de acordo com a análise aqui desenvolvida, a leitura de O Patinho Feio, com seu suposto final feliz, pode reforçar preconceitos em relação à diferença ou, contrariamente, a partir de uma reflexão sobre os dilemas enfrentados pelo personagem principal, pode favorecer formas de tolerância e aceitação da diferença.


Palavras-chave


Psicologia Cultural Semiótica; Literatura Infantil; Intolerância

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DOI: 10.3895/rl.v23n43.14782

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