Fantasias e didatismos na obra infantil de Fernanda de Castro: entre a monologia e a dissidência
Resumo
Ao mesmo tempo que a literatura infantil de Fernanda de Castro (1900-1994) acusa alguma monologia em relação à ideologia do Estado Novo português (1933-1974), introduz também temas inovadores e singulares à época, como sejam a ecologia e o direito dos animais. Preocupada com a exemplaridade das suas personagens, a autora desenha-as de acordo com um modelo educativo, predominantemente feminino, feito de obediência e disciplina, e desvinculado de preocupações com assuntos como a morte. Neste artigo analisam-se os reflexos da preocupação didática na matéria diegética, o exercício de autocensura exercido tanto nas narrativas realistas como nas de natureza fantasista e, como sugere Hamida Bosmajian (1974), os obstáculos que esta censura pode criar ao pensamento. Por outras palavras, pretendem-se equacionar os limites colocados na representação do que se supõe ser o imaginário infantil, perceber quais os temas mais visados e compreender se as respostas encontradas estão de acordo com opções individuais e/ou ideológicas. Com base na leitura da obra infantil da autora, na sua relação com as suas memórias e com textos e legislação sobre educação, serão selecionados os fragmentos mais elucidativos do modo como fantasia e didatismo dialogam, conflituam ou dissentem da doxa.
Palavras-chave
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PDFDOI: 10.3895/rl.v23n40.13836
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