John M. Synge e o orientalismo interno em The Aran Islands
Resumo
Em contraste com a atenção dada a literaturas de viagem intercontinentais, pouco se atenta para a representação/construção da alteridade no interior do território europeu, o que sugere uma noção essencialista de Europa como uma entidade homogênea, sem desigualdades e tensões internas. A identificação de relações de saber/poder em representações empreendidas no próprio continente constitui um desafio instigante, pois neste caso a invenção da diferença requer do viajante um jogo discursivo mais engenhoso. Mediante a leitura de The Aran Islands (1907), relato de viagem do irlandês John Synge às ilhas situadas no oeste do país, este trabalho examina como o dramaturgo representa a comunidade camponesa, investida pela intelligentsia nacionalista de valor simbólico enquanto guardiã de heranças pré-coloniais. Na contramão de leituras tradicionais limitadas a sublinhar o papel da experiência etnográfica no desenvolvimento da estética syngueana, demonstro que a representação de Synge acerca dos camponeses assume contornos orientalistas na medida em que deixa entrever relações assimétricas entre o viajante, sujeito do discurso, e os nativos, condicionados à posição de objetos de saber. Inserido numa formação discursiva orientalista, o viajante reitera dualismos como natureza/cultura e civilização/barbárie, cristalizando diferenças entre o campesinato e a aristocracia anglo-irlandesa, classe dominante à qual pertencia.
Palavras-chave
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PDFDOI: 10.3895/rl.v19n27.3934
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