Entre o dizer e o não-poder dizer: o cancelamento virtual do sujeito político no movimento dos sentidos no digital
Resumo
O cancelamento virtual tornou-se uma das grandes pautas da comunicação na internet nos anos recentes. Essa prática, consolidada por usuários de redes sociais, tem tornado o espaço online um ambiente hostil de exclusão do diferente. Dessa forma, neste artigo, temos como objetivo investigar o funcionamento discursivo do cancelamento virtual, relacionado a políticas de silenciamento do sujeito político, analisando o jogo entre os funcionamentos polêmico e autoritário na produção de sentidos. Fundamentamos nossa reflexão e análise nos pressupostos da Análise do Discurso materialista (PÊCHEUX 2014, 2008; ORLANDI 2019, 2008, 2007). Selecionamos como corpus prints de postagens e comentários das redes sociais Instagram e Twitter relativos ao episódio de cancelamento da drag queen Rita Von Hunty, tendo em vista uma declaração feita por ela no contexto da eleição presidencial de 2022, manifestando posição contrária ao apoio à chapa Lula-Alckmin no primeiro turno e recomendando voto nas candidaturas do PCB ou Unidade Popular. Consideradas as materialidades analisadas, observamos que a posição de Rita Von Hunty, consistente com o seu lugar discursivo de militante radical de esquerda, repercutiu nas tomadas de posição dos sujeitos internautas sobre o episódio, configurando-se um processo discursivo marcado pelo tensionamento do político – divisão dos sujeitos e dos sentidos (ORLANDI, 2019) –, entre o movimento e a interdição. Especificamente, a posição assumida por Von Hunty de não-adesão à chapa Lula-Alckmin suscitou um debate coletivo em que se confrontaram diferentes tomada de posição, i) de identificação com os sentidos pró-cancelamento, em um processo que desautorizava o movimento político do sujeito e dos sentidos na FD de esquerda, operando nisto uma forma de silenciamento por interdição (ORLANDI, 2007); ii) de desidentificação com essa forma política de silenciamento, reafirmando-se o movimento do sujeito e dos sentidos; e iii) de contraidentificação com a política de cancelamento, assinalando-se posições discordantes, mas, ao mesmo tempo, de repúdio à prática de interdição política do outro. Portanto, no acontecimento heterogêneo de episódios de cancelamento virtual, entram em jogo efeitos de estancamento do político, que tendem à asfixia de sujeitos e de sentidos (discurso autoritário), mas também de contestação, reafirmando-se o movimento do político dos sujeitos e dos sentidos (discurso polêmico).
Palavras-chave
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PDFDOI: 10.3895/rl.v26n48.18716
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