Um plano para a educação sexual na Bahia no início do século XX: as ideias feministas da médica Ítala Oliveira

Izaura Santiago da Cruz

Resumo


A segunda metade do século XIX e as décadas iniciais do século XX foram marcadas pelo que Foucault (2014) chama de “uma proliferação de discursos sobre a sexualidade” convergindo discussões no campo da biologia, particularmente as teorias evolucionistas ao discutirem a questão da origem do homem e da seleção sexual (DARWIN, 2004); da psicanálise, a partir dos trabalhos de Freud sobre o desenvolvimento da sexualidade, e da medicina, por meio de pesquisas sobre o corpo feminino e a reprodução. Autores como Tannahill (1983), Duby (1991), Hobsbawm (1998), Laqueur (2001), Ariès (2006), Del Priori (2008), Stearns (2010) trataram das questões da sexualidade ao longo da história descrevendo mudanças em diferentes contextos e, mais marcadamente nos dois últimos séculos, as influências da produção científica neste campo. Face a esse contexto, buscamos refletir sobre como essas ideias foram incorporadas pela educação em forma de propostas de Educação Sexual. O presente trabalho apresenta as proposições da médica Ítala Oliveira sobre Educação Sexual, depreendidas de sua tese “Da sexualidade à Educação Sexual”, apresentada em 1927, na Faculdade de Medicina da Bahia. Ítala Oliveira nasceu em Aracajú-SE em 1897, onde, após concluir os cursos Ginasial e Normal, a futura médica teve uma forte ação política, participando de cursos de alfabetização para adultos e defendendo sempre a instrução feminina. Continuando seus estudos, entrou na Faculdade de Medicina da Bahia e, em 1922, obteve o título de parteira, formando-se em medicina em 1927 e apresentando a tese citada anteriormente. Após a leitura e análise dos escritos de Ítala Oliveira, notamos que esta médica não apenas propunha ideias gerais sobre Educação Sexual, mas apresentava uma espécie de roteiro, que incluía informações sobre: a importância e justificativas para a Educação Sexual; os objetivos; temas abordados; elementos importantes; onde, por quem e como deveria ser ministrada. A partir desses eixos, pudemos depreender aspectos importantes da sua proposta, tais como, a inserção da Educação sexual nas escolas e desde a infância; vinculação às disciplinas de História Natural apontando para uma perspectiva científica; a importância da Educação Sexual para as mulheres e crianças e a importância da interação entre a família e a escola neste campo. Assim, compreendemos que o posicionamento político da médica, atuando sempre na defesa dos direitos das mulheres, configura uma perspectiva feminista às suas proposições sobre Educação Sexual, na medida em que defendia, entre outros aspectos, uma Educação Sexual para a equidade entre homens e mulheres.


Palavras-chave


História das ciências. Gênero e ciência. Educação Sexual. Feminismos.

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DOI: 10.3895/cgt.v15n45.12731

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