ACTIO, Curitiba, v. 4, n. 2, p. 87-108, mai./ago. 2019.
nos Estados Unidos para tratar dos estudos sobre CT. Corroborando Cutcliffe
(1989), os STPP relacionavam-se estreitamente com faculdades de engenharia,
tendo por foco estudar as “mobilizações e gestão em grande escala de CT”
(MITCHAM, 1989, p. 16). Os STPP antecederam os programas Science Technology
and Society (STS), surgidos nas décadas de 1960 e 1970 cujo foco era mais crítico
e sensível à influências sociais externas, na tentativa de compreender CT no
contexto sociocultural.
Nos Estados Unidos os programas CTS de Harvard (1964), Cornell (1969) e
Penn State University (1968-1969) foram pioneiros. Quanto às organizações, tem
destaque a History of Science Society (1924), a Society for Philosophy and
Technology (1976) e a Society for the History of Technology (1958) que, embora
apresentassem uma visão mais estreita sobre aspectos CTS, deram ao campo
maior visibilidade enquanto interesse de pesquisa, impulsionando publicações na
área, essenciais para seu amadurecimento.
Na Espanha, em 1988 é criado o Instituto de Investigaciones sobre Ciencia y
Tecnología (INVESCIT), sediado na Universidade Politécnica de València, reunindo
pesquisadores de outros centros acadêmicos espanhóis ao redor da temática CTS
(PEÑA, 1989), o que indica um importante passo no desenvolvimento das
discussões. Atualmente o INVESCIT concentra avanços relevantes no contexto de
estudos ibero-americanos sobre CTS. Durante os anos 1980 programas CTS
começam a surgir em áreas periféricas, como é o caso da América Latina (LÓPEZ
CEREZO; VERDADEIRO, 2003). A este respeito, na Argentina, expressiva em
produção científica na região à época, nasce o Pensamento Latino Americano CTS
(PLACTS), cujos desdobramentos não cabem aqui explicitar.
Outra experiência que vale menção é o caso cubano. Após o fim da Guerra
Fria, a ilha promoveu uma reforma educacional intitulada Problemas Sociais da
Ciência e Tecnologia, projetando uma expansão para o sistema de ensino superior
que atualmente faz com que, na prática, CTS componha qualquer especialização
universitária, sendo também tema obrigatório de exames para obtenção de títulos
de doutoramento. López Cerezo e Verdadero (2003) explicam que a experiência
exitosa de Cuba se deve a dois fatores:
Primeiramente, o sistema de ensino superior cubano rejeita abertamente a
divisão clássica entre fatos científicos e valores humanos, subjacente a
maioria das fragmentações disciplinares e divisões institucionais entre
ciências e humanidades, enquanto preocupações sociais estão presentes em
todos programas universitários. [...] em segundo lugar, há o esgotamento da
ideologia marxista padrão. No sistema contemporâneo de educação cubano,
CTS ocupa o lugar anteriormente pertencente a temas de filosofia ou exames,
isto é, ao marxismo (LÓPEZ CEREZO; VERDADERO, 2003, p. 156, tradução
nossa).
Com relação ao Brasil, além dos avanços nos estudos CTS em função do
estabelecimento, em 1988, do Departamento de Política Científico-Tecnológica da
Universidade Estadual de Campinas, há ainda outros programas de pós-graduação
que poderiam situar-se como programas CTS, a exemplo do Programa de Pós-
Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade, da Universidade Federal de São
Carlos, criado em 2007 e o Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e
Tecnológica, bastante ativo de pesquisas e estudos sobre a temática CTS e
educação, pertencente à Universidade Federal de Santa Catarina.