ACTIO, Curitiba, v. 4, n. 2, p. 15-29, mai./ago. 2019.
diversas maneiras. Estas podem ser utilizadas em contextos apropriados, e cada
uma delas suportada em compromissos epistemológicos, ontológicos e axiológicos
distintos, que movem o indivíduo a desenvolver determinada visão de mundo.
Para o perfil conceitual de determinado conceito são constituídas zonas que
representam diferentes modos de pensar sobre a realidade. Isto é, diferentes
formas de compreender o significado e o uso daquele conceito, úteis em um ou
mais contextos específicos. Assim, várias zonas podem coexistir em um mesmo
indivíduo, traduzindo uma pluralidade de compromissos epistemológicos,
ontológicos e axiológicos, cada um sendo utilizado em um contexto mais
apropriado (AMARAL; MORTIMER, 2001; COUTINHO, 2005; ARAÚJO, 2014).
Destacamos a relevância dos estudos de proposição de perfis conceituais em
diversos campos. Na Química, chamamos a atenção para os perfis conceituais de
átomos e estados físicos dos materiais (MORTIMER, 2000), molécula (MORTIMER,
1997) e substância (SILVA; AMARAL, 2013). Na fronteira entre a Física e a Química,
sublinhamos os perfis conceituais de calor (AMARAL; MORTIMER, 2001), entropia
e espontaneidade (AMARAL; MORTIMER, 2004) e energia nos contextos de ensino
da física e da química (SIMÕES NETO, 2016). Na Biologia, aparecem os perfis
conceituais de vida (COUTINHO, 2005), adaptação biológica (SEPÚLVEDA, 2010) e
morte (NICOLLI; MORTIMER, 2012). Na Matemática, o primeiro perfil conceitual
apresentado foi o de equação (RIBEIRO, 2013).
Há contextos em que um modo de pensar um conceito é utilizado mais
adequadamente do que outros e existem situações em que a linguagem cotidiana
é mais apropriada do que a linguagem científica, então, o valor pragmático da
linguagem cotidiana preservará significados que estão em desacordo com a visão
científica (MORTIMER; EL-HANI, 2014). No entanto, é fundamental que os
estudantes aprendam a linguagem social da ciência, sendo um aspecto importante
a estreita relação com os modos de pensar cotidianos (MORTIMER et al., 2010).
Assim, a proposta de perfil para o conceito de entropia e espontaneidade
(AMARAL, 2004) pode permitir conhecer os diferentes modos de pensar que
encontram estabilidade em diferentes contextos, o que pode facilitar a
compreensão das visões expressas nas salas de aula, pelo professor e pelos alunos,
em momentos de discussões e debates (SIMÕES NETO, 2016).
Para além das pesquisas de proposição de perfis conceituais, aspectos
metodológicos foram desenvolvidos no cerne da teoria: Viggiano e Mattos (2007)
e o uso de questionários, Mortimer, Scott e El-Hani (2009) e a discussão sobre
conceituação, Dalri (2010) e os compromissos axiológicos, Araújo (2014) e Silva
(2017) que trabalharam com comunidades de prática, e Diniz Júnior, Silva e Amaral
(2015), que ao olhar para o professor ampliaram as bases teóricas, epistemológicas
e metodológicas da teoria. No entanto, a discussão que julgamos essencial para o
momento é sobre a utilização da teoria nas salas de aula.
Concordamos com Sabino e Amaral (2018) quando citam a importância de se
considerar que uma das maiores possibilidades de utilização de um perfil
conceitual, no contexto da sala de aula, é como instrumento central no
planejamento de atividades. Reconhecer modos de pensar e formas de falar sobre
determinado conceito pode contribuir para uma melhor identificação dos
obstáculos da aprendizagem, reconhecer os contextos de utilização de cada modo
de pensar e do seu valor pragmático e trabalhar com estratégias que auxiliem os
estudantes a conhecer as diferentes zonas de um perfil conceitual e na tomada de