ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 3, p. 236-252, mai./ago. 2018. Seção Entrevistas.
COMO A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA SE TORNOU O FOCO DE SEUS ESTUDOS?
Com relação à Matemática, foi uma questão casual, “aconteceu”! Eu sou da
Unesp, que não era universidade. Inicialmente, foram reunidos os Institutos
Isolados de Ensino Superior do Estado de São Paulo, que eram cursos de graduação
de boa qualidade, públicos e gratuitos. Eram isolados no sentido de cada um ter o
seu núcleo administrativo e a sua organização. Em 1976 foi criada a Unesp,
reunindo esses institutos em uma universidade. No processo dessa criação muitos
cursos foram fechados, por exemplo, Pedagogia em Rio Claro, onde eu trabalhava.
Meu ex-marido era professor de Matemática, o curso de Matemática existia
em Rio Claro e permaneceu. Como o curso de pedagogia foi fechado, eu fui
transferida para Araraquara. Só que, em Araraquara, tinham fechado o curso de
Matemática. Inicialmente, tentei permanecer lá naquele campus, que fica a uns
100 km de Rio Claro. Trabalhei lá durante dois/três anos, mas não deu certo,
porque eu tinha minhas filhas com idade de 11 e 12 anos, idade esta que demanda
muito cuidado. Não dava para nós dois morarmos em Araraquara, um sempre iria
ter que viajar. Assim como eu, muita gente da universidade se encontrava nessa
situação e estava explicitando descontentamento pelas dificuldades encontradas.
Como resultado de toda essa manifestação fomos “retransferidos” para os
campus
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de onde éramos provenientes. Eu sempre dei aula de filosofia e quando
eu fui retransferida para Rio Claro, eu já era livre-docente e tinha uma formação
bastante avançada na vida acadêmica. Como não havia o Departamento de
Educação, fui colocada no Departamento de Matemática, onde não havia
disciplinas de filosofia, nem de educação. Aí é que tem o “acontecimento”; assim
se deu meu encontro com a Matemática.
Como eu vim para o Departamento de Matemática e no campus só haviam
disciplinas da área da Educação para as Licenciaturas, ou seja, as quatros
determinadas pela legislação — Didática, Estrutura e Funcionamento e as duas
Psicologias, da Aprendizagem e do Desenvolvimento —, e eu sendo da Filosofia,
cuja disciplina não existia, ficaria sem trabalho. O Departamento De Matemática
era orientado por uma visão muito aberta; preocupava-se com compreender a
Matemática como ciência, com compreender o pensar matemático. Os seus
professores trabalhavam muito com o que denominavam “Fundamentos da
Matemática” e me acolheram, então comecei a dar um curso optativo em Filosofia
da Educação para a Matemática, um curso em Filosofia da Ciência para Física e
outro em Filosofia da Matemática, abordando questões de epistemologia para
quem fazia licenciatura. Não havia pós-graduação. Como eu continuava muita ativa
e presente no grupo do professor Joel lá na PUC de São Paulo, vivenciando as
questões de filosofia, de estrutura e de funcionamento da pós-graduação no Brasil,
passei a ficar atenta à força que existia no Departamento De Matemática já
direcionada para a questão de fundamentos, para a questão da história e para a
questão do ensino de Matemática. Então comecei a conversar sobre a
possibilidade de pensarmos em um curso de pós-graduação stricto sensu. E aí o
Joel foi muito importante, porque ele me deu toda a orientação sobre a legislação
em vigor, sobre as questões administrativas, sobre o modo de estruturar o projeto
a ser apresentado. Os professores da Matemática foram conversando comigo e me
mostrando ideias sobre o pensar e o fazer matemático. Do mesmo modo,
conversava com as professoras da Educação que tinham também sido
retransferidas, mas que estavam em outros departamentos no campus de Rio