ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 3, p. 214-235, mai./ago. 2018. Seção Entrevistas.
construir um conhecimento complexo, flexível, adaptável a novas situações, é
importante que a gente encontre problemas para que a partir deles se discuta as
formas de resolvê-los. E aí as TIC podem ser bem empregadas. Por exemplo, hoje,
onde que se encontram situações reais, problemas, informações? Na internet.
Então, é uma riqueza incorporar, por exemplo, a internet como uma possibilidade
de identificar e estabelecer situações problemas, situações reais, e a partir dessas
situações, construir conhecimento. É isso que a gente tem feito em nossas
pesquisas quando investigamos a estratégia do PBL
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e a teoria da Flexibilidade
Cognitiva. Entendemos que não é somente encontrar um problema e tentar
resolvê-lo. A Teoria da Flexibilidade Cognitiva parte da premissa que você deve
encontrar um problema, mas não só um, diversos, o maior número possível, que
tratem da mesma temática. Assim, o indivíduo ao navegar, ao caminhar por esses
diversos problemas, pela construção do conhecimento que envolve esses vários
problemas e suas resoluções, enfim, quando se defrontar na vida real com um
problema que é um pouco diferente, estará preparado para fazer a adaptação do
conhecimento que ele construiu. Isso porque o conhecimento que ele construiu é
flexível. Normalmente, o que acontece na maioria das escolas é que os professores
moldam um único problema para ser resolvido pelo aluno e quando ele se defronta
com um problema ligeiramente diferente em seu cotidiano (seja lá de qual for a
área), ele se sente inseguro: “opa, não me ensinaram desse jeito. E aí o que eu
faço?”. O aluno não consegue fazer a adaptação do conhecimento. Nesse sentido,
as TIC fornecem várias possibilidades de se ter muitos casos, muitos problemas
para serem resolvidos e que podem ajudar nessa estratégia. Enfim, a estratégia é
o mais importante.
Entrevistadores(as): O professor acha que essas estratégias para o uso das TIC
já estão fazendo parte da formação de professores?
Professor Marcelo: Não. Para não ser radical, as estratégias para uso das TIC
pouco fazem parte da formação dos professores, muito pouco. Para exemplificar,
eu tenho uma metáfora que eu gosto e que diz o seguinte: as TIC são como se fosse
uma roda pequena que gira muito rápido. É só observarmos os nossos celulares
que a cada um ano, seis meses, surgem modelos novos. A roda da educação é uma
roda maior e que gira em um processo mais lento. Então, o que se observa hoje é
que há muitas pessoas trabalhando com a formação de professores que são de
uma geração anterior a essa massividade do uso das TIC. Dessa forma, é difícil
essas pessoas se apropriarem e conseguirem construir nos cursos de formação
uma questão mais forte do uso das TIC na formação dos professores. Em linhas
gerais eu acho que exploramos muito pouco o uso das TIC. E dos que exploram
ainda há um percentual que explora da forma como você colocou no início, apenas
para sofisticar o velho. Eu fico danado quando eu vejo nas escolas “matricule seu
filho que aqui nós temos o melhor laboratório de informática”. Quando você vai
olhar como se utiliza o laboratório de informática, percebe que os computadores
são utilizados como se fosse uma máquina de escrever moderna, na qual o aluno
digita o trabalho. Ele vai lá no Google, no máximo, captura algumas informações e
não foge daquele tradicional copiar e colar. Eu advogo a favor do copiar e colar. Eu
falo que o copiar e colar não é um problema de internet, pois já fazíamos isso na
época das enciclopédias. A questão é que precisamos tentar extrair desses
recursos algo mais interessante. E eu não vejo isso nas escolas, ou melhor, eu vejo
em um índice muito baixo. Talvez cada dia menos. O que eu ainda noto muito
fortemente é a questão do querer ser sofisticado, ou seja, o que eu fazia no