ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 3, p. 489-505, set./dez. 2018.
compreensão da vida política e condições para o desempenho de atividade
econômica.
No entanto, segundo nossa compreensão, isto não basta para ser cidadão. O
cidadão precisa, também, ser dotado de liberdade. Morin diz que liberdade
É a possibilidade de escolha entre diversas alternativas. Bem, a liberdade
supõe duas condições. Em primeiro lugar, uma condição interna, a
capacidade cerebral, mental, intelectual necessária para considerar uma
situação e poder estabelecer suas escolhas, suas apostas. Em segundo lugar,
as condições externas nas quais essas escolhas são possíveis. [...] podemos,
assim, observar diferentes tipos, diferentes graus de liberdade, segundo
tenhamos possibilidades de escolha mais ou menos amplas e mais ou menos
básicas, que permitam gozar de maior grau de liberdade. (MORIN, 1996, p.
53).
Consideramos que o papel da escola na formação do cidadão é também
proporcionar estas condições para a liberdade. A primeira, desenvolvendo
capacidades cerebrais, mentais e intelectuais, por meio da aprendizagem de
conteúdos e habilidades de resolução de situações-problema utilizando
pensamento interdisciplinar. Ou seja, proporcionando as condições intelectuais
necessárias para a compreensão e resolução das situações que se lhes apresentem.
E a segunda, proporcionando espaços de criação, de cidadania e situações em que
os alunos possam exercer sua liberdade de escolha.
Compreendemos o jogo, portanto, como um instrumento que pode ser útil
para proporcionar estas condições de liberdade e cidadania, pois desenvolve
capacidades cerebrais, mentais e intelectuais pelo uso da razão para criação de
estratégias para solucionar situações do jogo buscando vencer.
Além disso, o jogo é um espaço de liberdade de escolha, apesar de ser
necessário seguir regras quando se está jogando. O jogo permite a tomada de
decisão a cada jogada, pois o jogador faz uma escolha ao executar uma ou outra
ação. É possível também avaliar os resultados dessas escolhas e, se desejar, mudar
de estratégia na sequência das jogadas.
O jogo também simula a vida social, na medida em que se constrói na relação
entre os jogadores. Essa relação pode ser ora competitiva, ora colaborativa. Mas é
também um compartilhar de objetivos, ideias, ações, prazer, criação, emoção,
desenvolvimento, superação (de si mesmo e do outro).
No jogo, as relações entre os participantes são permeadas por valores, como
respeito, competitividade, colaboração. E banhadas de emoções, como desejo de
vencer, ansiedade, prazer e desprazer. Em meio a esses valores e emoções o jogo
acontece numa situação de liberdade na qual é possível criação e escolha entre
diversas possibilidades para tomada de decisão. Assim o jogo permite ao aluno
vivenciar uma situação de liberdade, limitada pelas suas regras e pela ação dos
adversários. É também uma situação de responsabilidade, pois as decisões no jogo
terão consequências, como a vitória ou a derrota.
Partindo do que foi colocado até aqui, podemos considerar que o jogo tem um
papel importante na formação individual e na vida social dos alunos,
consequentemente, na formação do cidadão. Ao jogar, a pessoa se humaniza,
exercendo a liberdade presente nas possibilidades do jogo (de criação, de