ACTIO, Curitiba, v. 4, n. 1, p. 184-205, jan./abr. 2019.
pedagógica. Segundo Contreras (2012), esse modelo de professor ainda não se
importa com a qualidade moral e educativa da ação. Em concordância com esta
preocupação, Queirós (2012) ressaltou a necessidade de resgatar a base reflexiva
e a crítica transformadora da profissão docente, a fim de entender as situações
problemáticas das práticas de ensino.
Shön (1983, 1992) desenvolveu a ideia de profissional reflexivo, a partir da
situação de que “o conhecimento na ação e a reflexão na ação”, é uma reflexão
sobre a forma que, cotidianamente, entendemos as ações. Com esta ação, o
professor torna-se um pesquisador no contexto da prática, já que entende estar
inserido na situação. Trata-se justamente de suprir todas as necessidades
inesperadas da prática que os profissionais enfrentam e não são resolvidas com
repertórios técnicos, por se tratarem de situações incertas, singulares, instáveis,
das quais não se pode exercer um controle específico. O conhecimento na ação
não precede a ação, é construído na ação, já que é um conjunto de ações que se
realiza espontaneamente. E a reflexão na ação é pensar sobre o que se faz,
pensando enquanto faz determinada atividade (SHÖN, 1983, 1992).
Nesse modelo, rompe-se a dicotomia entre a pesquisa e a prática, uma vez
que deixa de ser aplicação de produtos da pesquisa e torna-se uma forma de
pesquisar e experimentar, cujo propósito é a elaboração de novas compreensões
adequadas ao caso e, simultaneamente, à transformação da situação. Estabelece-
se uma relação de negociação com diálogo reflexivo entre o professor e a situação
problema e, assim, o fazer e o pensar fundem-se no diálogo concebido entre a ação
e suas consequências, o que origina uma nova apreciação do caso (CONTRERAS,
2012).
De acordo com Contreras (2012), o modelo de professor reflexivo de Shön
permite recuperar uma concepção prática da atividade docente, coisa que a
perspectiva da racionalidade técnica não fez. Esta dimensão reflexiva é racional,
pois consegue conectar o conhecimento e a ação aos contextos práticos. Tal
prática é acompanhada da meditação, da reflexão na prática e suas intenções, que
se expressam como qualidades que guiam e se modificam, conforme as
necessidades e não se preocupam com os resultados esperados (QUEIRÓS, 2012).
Um dos pontos que Contreras (2012) levantou como uma das fraquezas do
modelo de professor reflexivo foi a sugestão de uma reflexão, que atenda a
pluralidade dos contextos educacionais. Este termo, reflexivo, geralmente é
utilizado de forma distorcida na literatura e nas práticas pedagógicas, pois muitas
vezes, torna-se uma caracterização de racionalidade técnica, ou seja, um discurso
reflexivo para camuflar o tecnicismo na formação de professores, e, assim, perde
o sentido defendido por Schön. Por outro lado, independente das distorções, esse
modelo é limitado, porque de acordo com Contreras (2012) os professores quando
formados na perspectiva reflexiva não conseguem ter uma capacidade maior de
intervenção e decisão em questões de injustiças e desigualdade social, pois reduz
a reflexão das práticas pedagógicas ao ambiente da sala de aula e ao conteúdo
disciplinar. Não são fomentadas, por exemplo, na formação docente, ações na
comunidade com viés de transformação da realidade social de forma crítica.
O modelo do professor como intelectual crítico, segundo Giroux (1997) é uma
alternativa a essa limitação, pois permite aos docentes o desenvolvimento de
críticas às condições sociais, culturais e econômicas do contexto em que estão