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ACTIO, Curitiba, v. 4, n. 1, p. 111-126, jan./abr. 2019.
http://periodicos.utfpr.edu.br/actio
Paleontologia e ensino de ciências: uma
análise dos documentos oficiais e materiais
presentes nos anos finais do ensino
fundamental
RESUMO
Dhiego Cunha da Silva
cs.dhiego@gmail.com
orcid.org/0000-0002-9149-2949
Universidade Federal do Paraná (UFPR),
Curitiba, Paraná, Brasil
Rodrigo Arantes Reis
reisra@gmail.com
orcid.org/0000-0002-8082-1591
Universidade Federal do Paraná (UFPR),
Matinhos, Paraná, Brasil
Luiz Everson da Silva
luiz_everson@yahoo.de
orcid.org/0000-0002-2332-3553
Universidade Federal do Paraná (UFPR),
Matinhos, Paraná, Brasil
Tamara Dias Domiciano
tamydomiciano@gmail.com
orcid.org/0000-0001-5346-4827
Universidade Federal do Paraná (UFPR),
Curitiba, Paraná, Brasil
A Paleontologia é uma ciência interdisciplinar, considerada como tema transversal nos
processos de ensino e aprendizagem de ciências. No entanto, esse assunto geralmente é
abordado de forma fragmentada e descontextualizada nos anos finais do Ensino
Fundamental, sem explorar o total potencial desta área do conhecimento. Neste trabalho
objetivou-se identificar como a Paleontologia está presente no Ensino de Ciências nos anos
finais do Ensino Fundamental. Para tanto, foram analisados os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN) e as Diretrizes Curriculares Estaduais (DCE) do Paraná, assim como coleções
de livros didáticos aprovados no edital do PNLD do ano de 2014 (Projeto Araribá e
Companhia das Ciências). Os documentos e livros foram investigados através de análise
documental, utilizando indicadores para apontar a presença de discussões sobre
Paleontologia nos textos, imagens e atividades. A partir da análise dos currículos, ficou
evidente uma disparidade quanto a presença de debates em torno da Paleontologia, sendo
que os PCN orientam de forma mais clara e ampla sua utilização em sala de aula, enquanto
que as DCE exibiram poucas recomendações de ensino por meio do tema. Os livros didáticos
compartilham da mesma problemática. A coleção Projeto Araribá apresentou de forma
ampla e contextualizada questões sobre Paleontologia, e, de forma contrária, o grupo de
livros da Companhia das Ciências não expôs o assunto de forma clara, e com tratamento
descontextualizado, pouco direcionada às questões regionais. Como resultado, foi possível
perceber uma fragilidade nas orientações curriculares e abordagens dos conhecimentos da
Paleontologia dentro da sala de aula, deixando, a critério da afinidade do educador, a
inclusão do tema no processo de ensino, resultando em um baixo proveito das
potencialidades que a Paleontologia oferece para o Ensino de Ciências.
PALAVRAS-CHAVE: Ensino de ciências. Paleontologia. Currículo de Ciências.
ACTIO, Curitiba, v. 4, n. 1, p. 111-126, jan./abr. 2019.
INTRODUÇÃO
Compreender o passado do planeta auxilia no entendimento da vida como ela
é hoje e como ela poderá vir a ser no futuro. A Paleontologia é uma área
intrinsecamente interdisciplinar e umas das ciências de maior apelo para o público
em geral. Abordagens sobre esse tema em sala de aula, podem servir como
catalisadores para processos de ensino e aprendizagem, principalmente na área
de Ensino de Ciências.
Desde a década de 1950, o Ensino de Ciências vem tentando acompanhar o
desenvolvimento científico e tecnológico, sofrendo grandes mudanças ao longo
dos anos. A II Guerra Mundial, assim como a Guerra Fria e o lançamento do satélite
Sputnik, conduziram os objetivos deste ensino para a formação de uma elite
acadêmica, de novos cientistas e engenheiros, pautado principalmente no
emprego do método científico em sala de aula (KRASILCHIK, 1987, BOCHECO,
2011).
De acordo com Krasilchik (1987) esse movimento deu novas faces aos
currículos de Ciências, primeiramente na América do Norte e em seguida na
Europa, influenciando posteriormente os países subdesenvolvidos, como o Brasil,
resultando em uma adoção acrítica de currículos internacionais, a partir da
tradução literal dos materiais didáticos.
Na década de 1960, frente ao regime militar, o governo brasileiro estabeleceu
uma forma de qualificar os estudantes para o trabalho, aumentando as disciplinas
que envolviam ciência e as deslocando para atender às expectativas do meio
corporativo, com o intuito de formar mão de obra qualificada para o país. Em 1971,
esse objetivo foi reforçado com a promulgação da Lei n
o
5.692 de Diretrizes e Bases
da Educação (KRASILCHIK, 1987).
Em contraste, nos anos de 1980 a 1990, o ensino passou a ser direcionado
para toda a população, com a intencionalidade de formar os cidadãos que
entrariam em contato com os produtos científicos e tecnológicos, de forma que
estes pudessem refletir sobre suas implicações sociais e ambientais (KRASILCHIK,
1987; NARDI, 2005; BOCHECO, 2011).
No mesmo sentido, as diferentes nações passaram a produzir seus próprios
projetos e currículos, em lugar de adotar modelos prontos, afirmando suas
identidades culturais. Porém, por maiores que fossem os esforços, para a
renovação do ensino no Brasil, a legislação em vigor e as fragilidades na formação
de professores, não contribuíram para reformas significativas (KRASILCHIK, 1987).
A escola manteve sua característica de transmissora de conhecimentos,
alicerçado no uso de livros didáticos, em sua maioria de má qualidade, pautado na
resolução de exercícios que demandavam apenas leitura de textos, sem reflexões
e problematizações mais aprofundadas (KRASILCHIK, 1987; NARDI,2005).
A adoção dos livros didáticos no Brasil teve seu início no ano de 1929, através
do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) (BRASIL, 2016) que desde então
vem auxiliando as escolas e profissionais na escolha do livro didático. Distribuídos
pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), o material é
destinado aos estudantes do ensino público Fundamental e Médio, não
contemplando a Educação Infantil.
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Atualmente uma vasta quantidade de pesquisas e projetos preocupados
com o Ensino de Ciências (KRASILCHIK, 1987; NARDI, 2005; BOCHECO, 2011).
Dentre as investigações, destaca-se a busca por temas transversais que possam ser
utilizados como fomento para discussão dos conteúdos curriculares, como o
ensino de Astronomia, Meio Ambiente, Saúde, entre outros. Dentre as áreas que
emergem nestas discussões, a Paleontologia tem se mostrado pouco presente, nos
currículos e matérias focados no Ensino de Ciências no Ensino Fundamental.
A relação entre a Paleontologia e o Ensino de Ciências é estreita, visto a grande
quantidade de conceitos que podem ser abordados a partir deste tema. A exemplo
disso, cita-se a formação da Terra, origem da vida, evolução biológica, formação
dos ecossistemas, combustíveis fósseis, entre outros, que podem ter como ponto
de partida os diferentes tipos de registros fósseis.
Nesse sentido, o objetivo deste trabalho foi identificar como a Paleontologia
está presente no Ensino de Ciências nos anos finais do Ensino Fundamental. Para
tanto, foram analisados indicadores que apontam a presença desta área do
conhecimento em documentos curriculares nacionais e estaduais, bem como livros
didáticos de Ciências.
O ENSINO DE PALEONTOLOGIA NO BRASIL
Para relacionar o desenvolvimento do estudo da paleontologia no Ensino
Básico, é necessário compreender como essa área se desenvolveu no país e como
seus processos históricos refletem a ausência de informações dentro do espaço
escolar.
O termo Paleontologia deriva de três palavras gregas: palaios que significa
“antigo”, ontos representa “ser” e logos estudo”, ou seja, a Paleontologia é a
ciência que estuda o passado da vida no planeta, através de evidências deixadas
pelo tempo e pelo acaso. Esta área do conhecimento é considerada
interdisciplinar, abordando faces da Física, da Química, da Matemática e
principalmente da Biologia e Geologia (CARVALHO, 2010).
Os primeiros registros sobre esta ciência no Brasil são de pouco mais de 200
anos, relatados por naturalistas estrangeiros que vieram ao país para expandir seus
conhecimentos acerca da história e composição da fauna e flora do planeta.
Porém, os investimentos que poderiam ser voltados para essa área de estudo
foram fragmentados, e raramente atendiam às demandas para tornar essa ciência
significativa em território brasileiro. Somente no ano de 1818, quando o Museu
Nacional foi fundando no Rio de Janeiro, uma comissão voltada à estudo dos
fósseis foi estabelecida, conseguindo estruturar as pesquisas e agrupar
pesquisadores brasileiros desta área (CARVALHO, 2010).
No passar dos anos, motivado pela crescente expansão dos empreendimentos
voltados à exploração mineral e de combustíveis fósseis, o governo brasileiro,
junto a empresas estatais, criou um programa de escolas para formação de
geólogos no país, equipando diversas Universidades em capitais brasileiras para
preparar profissionais para trabalhar nesta área. Somente a partir de então, os
conhecimentos sobre a Paleontologia, que estavam restritos a especialistas em
museus e poucas Universidades, passaram a ser disseminados em diversos espaços
de ensino, promovendo um interesse de vários estudantes ao longo dos anos,
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contribuindo assim para difusão desta ciência e formação de profissionais desta
área (CARVALHO, 2010).
Nesse mesmo sentido, o território nacional é considerado com grande
potencial na área de Paleontologia, visto que os materiais fósseis encontrados no
Brasil apresentam singularidades quando comparadas a de outros países. Como
consequência, diversos estados brasileiros possuem programas de pós-graduação,
projetos de pesquisa e museus preocupados com esta área de estudos (SBP, 2018)
Entretanto, o investimento nesta ciência não corresponde às necessidades, e
assim fósseis que poderiam ser estudados para construir novos conhecimentos são
perdidos. Além disso, as oportunidades de utilizar esses materiais como
ferramentas de ensino não são possibilitadas (KELLNER, 2015).
Hoje o ensino formal de Paleontologia é realizado exclusivamente no Ensino
Superior, na maioria das vezes compondo o quadro de disciplinas obrigatórias dos
cursos de Bacharelado em Geologia, e mais recentemente do Bacharelado e
Licenciatura em Biologia. Porém, grande parte das disciplinas derivadas dessa área,
como Paleobotânica e Micropaleontologia, são optativas, não exigindo a
participação de futuros professores nestes espaços durante sua trajetória
acadêmica.
O ensino não formal desta ciência fica à cargo dos museus, exposições e
centros de ciências espalhados pelo país, assim como faz o Museu de Paleontologia
de Vertebrados da UFRGS em Porto Alegre, o Museu História de Natural da UFPR
em Curitiba e o Museu de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri, em
Santana do Cariri no Ceará, que abordam questões regionais em suas coleções,
tentando contextualizar ambientes e animais pré-históricos para população.
Nesse mesmo contexto, outras abordagens também são utilizadas para trazer
essa temática à realidade dos estudantes. O Serviço Geológico do Paraná, em
parceria com a Secretaria de Educação do Estado, disponibilizou para as escolas da
rede pública de ensino, kits que auxiliam o professor na construção de aulas sobre
Geologia e Paleontologia. Nessa mesma vertente, o programa Laboratório Móvel
de Educação Científica da UFPR Litoral, desenvolveu jogos didáticos sobre
Paleontologia na América do Sul e Paleontologia Geral, que foram distribuídos para
todas as escolas do Litoral do Paraná, orientando os professores a utilizarem em
sala de aula. Além disso, os jogos foram disponibilizados no portal do programa
(link) tornando o conteúdo acessível para todos os interessados.
Outra forma de aproximação com essa ciência, ocorre através de materiais
disponíveis online, como o blog “Colecionadores de Ossos” (GHILARDI e
AURÉLIANO, 2016), o portal “A Paleontologia na sala de aula” (SOARES, 2017) e o
canal no youtube, “Eu coleciono Dinossauros” (PADILHA, 2016), que possuem um
papel fundamental na divulgação científica focada na Paleontologia em todo o
país.
Diversos autores como Lages e Schwanke (2005), Mello et al. (2005), Faria et
al. (2007), Bergqvist et al. (2014), Moreira e Carvalho (2007), Sobral e Siqueira
(2007), Novais et al. (2015), relatam a utilização da Paleontologia como uma
ferramenta de ensino e aprendizagem nas mais diferentes faixas etárias e
demonstram como essa temática exercita diversos conceitos das ciências. Além
disso é uma área do conhecimento que permite o trabalho pedagógico
interdisciplinar.
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ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS
Esta pesquisa, de natureza qualitativa (BOGDAN; BIKLEN, 1994), com caráter
de análise documental, foi estruturada em duas etapas complementares. Na
primeira etapa foram analisados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e as
Diretrizes Curriculares Estaduais (DCE) do Paraná, na busca por indicadores de
discussões sobre Paleontologia, seja de forma direta ou indireta. Esses indicadores
foram elaborados com base no referencial teórico de Carvalho (2010), que discute
a Paleontologia em nos âmbitos conceituais, históricos e pedagógicos.
Na segunda etapa da pesquisa, a atenção foi voltada para livros didáticos de
Ciências, confeccionados para os anos finais do Ensino Fundamental, ou seja, de
a anos. Os livros abordados foram baseados nos editais do PNLD do ano de
2014, sendo a coleção Projeto Ararie coleção Companhia das Ciências. Justifica-
se a adoção destas coleções, visto serem os mais adotados nas escolas da região
do litoral paranaense, local em que residem os pesquisadores.
Nos livros didáticos, em conformidade com as análises dos documentos
curriculares, foram investigadas a presença dos indicadores que possibilitam
discussões relacionadas a Paleontologia. Além destes, foi dada atenção também
para imagens e atividades que poderiam ser correlacionadas à essa área do
conhecimento. No Quadro 1 foram descritos os livros didáticos analisados nesta
pesquisa. QUADRO 1 Livros didáticos analisados
Nome do Livro
Denominação
Editora
Autor
Edição
Ano
Projeto Araribá 6º
ano
LD1
Moderna
Vanessa
Shimabukuro
3
2010
Projeto Araribá 7º
ano
LD2
Moderna
Vanessa
Shimabukuro
3
2010
Projeto Araribá 8º
ano
LD3
Moderna
Vanessa
Shimabukuro
3
2010
Projeto Araribá 9º
ano
LD4
Moderna
Vanessa
Shimabukuro
3
2010
Companhia das
Ciências 6º ano
LD5
Saraiva
João Usberco
et al.
2
2012
Companhia das
Ciências 7º ano
LD6
Saraiva
João Usberco
et al.
2
2012
Companhia das
Ciências 8º ano
LD7
Saraiva
João Usberco
et al.
2
2012
Companhia das
Ciências 9º ano
LD8
Saraiva
João Usberco
et al.
2
2012
Fonte: autoria própria (2016). Legenda: LD: Livros Didáticos.
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A PALEONTOLOGIA NO ENSINO DE CIÊNCIAS
Para facilitar o entendimento, as discussões dos resultados encontrados foram
divididas por documento analisado, iniciando com os PCN, seguido das DCE e
finalizando com os livros didáticos.
Parâmetros Curriculares Nacionais
Publicado em 1998, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) são uma
sequência de documentos que tem como objetivo direcionar as práticas e
conteúdos a serem trabalhadas nos ciclos de aprendizagem em todo o país
(BRASIL, 1998). Diferindo das Diretrizes Curriculares Estaduais (DCE) do Paraná, a
construção dos PCN foi centralizada e o movimento de articulação com os
profissionais das áreas de ensino foi mais limitado. Mesmo assim é afirmado que:
Os Parâmetros Curriculares Nacionais foram elaborados procurando, de um
lado, respeitar diversidades regionais, culturais, políticas existentes no país e,
de outro, considerar a necessidade de construir referências nacionais comuns
ao processo educativo em todas as regiões brasileiras. (BRASIL, s/n, 1998).
Os PCN de Ciências foram dirigidos aos educadores intencionando o
aprofundamento nas práticas pedagógicas da disciplina, auxiliando os professores
tanto nos quesitos teóricos quanto práticos dentro do ambiente escolar. Os
conteúdos trabalhados nessas diretrizes estão divididos em quatro grandes áreas;
Terra e Universo, Vida e Ambiente, Ser Humano e Saúde, Tecnologia e Sociedade,
que devem ser trabalhados dentro dos contextos do Ensino Fundamental.
A Tabela 1 apresenta os indicadores encontrados nos PCN que podem ser
abordadas a partir da Paleontologia.
TABELA 1 Análise dos conteúdos dos PCN
Documento
Seção de Ciências dos Parâmetros Curriculares Nacionais
Conteúdos
analisados
Terra e
Universo
Vida e
Ambiente
Ser
Humano e
Saúde
Tecnologia e
Sociedade
Fósseis
X
Fossilização
Paleontologia
X
Eras Geológicas
X
X
Deriva
continental
Paleontólogo
Evolução das
espécies
X
Extinções em
massa
Fonte: autoria própria (2016).
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Dentro da primeira divisão de conteúdo dos PCN, Terra e Universo, ficou
evidente orientações de debates sobre contextos paleontológicos nos anos finais
do Ensino Fundamental. Dentre os conceitos identificados que possibilitam os
educadores abordarem a Paleontologia, cita-se o exemplo da formação geológica
do planeta Terra, bem como as transformações na litosfera com o passar do tempo
geológico, utilizando de conceitos como fósseis, movimentos de placas tectônicas,
erupções de vulcões e alterações no relevo, visando expandir os conhecimentos
sobre a mudanças do planeta.
O segundo eixo temático, Vida e Ambiente, objetiva promover à ampliação do
conhecimento sobre a diversidade da vida nos ambientes naturais ou
transformados pelo ser humano, também estuda a dinâmica da natureza e como
a vida se processa em diferentes espaços e tempos. Neste eixo, os PCN adicionam
ao texto a palavra Paleontologia, citada como assunto de extrema importância
junto à Geologia, Química, Física, entre outros, sob a justificativa de facilitar o
aprendizado dos conhecimentos sobre o contexto de Ecologia. Faces das Ciências
Naturais claramente interdisciplinar e de extrema importância para compreensão
dos educandos (BRASIL, 1998).
No eixo Ser Humano e Saúde, conceitos e sugestões acerca da Paleontologia
não são levadas em consideração, essa etapa do documento foca no indivíduo e
seus processos biológicos e a relação com outras pessoas. Porém, assim como em
outros currículos, existe a orientação ao professor de não se limitar à descrição do
documento e desenvolver temáticas transversais que estimulem o fazer
interdisciplinar.
Na quarta etapa do PCN de Ciências, no eixo Tecnologia e Sociedade, o
educador é convidado a estimular atividades que possibilitem aos educandos
observar o uso da tecnologia no seu cotidiano e suas interações com meios de
automação. Em relação a Paleontologia, a única frente analisada, que possa
promover uma ligação direta com o tema, é o uso e manipulação de combustíveis
fósseis, que podem gerar discussões sobre questões práticas da Paleontologia,
como processos de fossilização, Micropaleontologia e Paleobotânica.
Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná
Objetivando verificar o contexto regional, foram analisadas as Diretrizes
Curriculares Estaduais (DCE) do Paraná, com a intenção de identificar onde se
sugere que a Paleontologia, ou questões que promovam discussões e atividades
sobre este tema, se encontram e como elas podem ser abordadas nos anos finais
do Ensino Fundamental.
As DCE é um documento produzido pela Secretaria de Educação (SEED) do
Estado do Paraná, desenvolvido entre os anos de 2003 e 2008, sendo formalmente
publicada no ano de 2009. Sua construção foi baseada no diálogo com professores
e profissionais da rede pública de ensino, com a finalidade de construir um
regimento que atendesse a necessidades de todos os envolvidos (PARANÁ, 2008).
Organizado de forma a contemplar as dimensões históricas das disciplinas,
visando uma seleção dos conteúdos estruturantes, as DCE reestruturaram os
fundamentos teórico-metodológicos e o modo como o conteúdo deve ser
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selecionado e trabalhado nas escolas, definindo temáticas que deveriam ser
priorizadas e os melhores métodos de avaliação a serem adotados.
As DCE propõem uma introdução as temáticas pertinentes das Ciências
Naturais, como Biologia, Física, Química, Geologia, Astronomia, entre outras, de
forma interdisciplinar e utilizando-se da história da construção desses
conhecimentos, de pedagogias e tecnologias para auxiliar na compreensão dessas
temáticas (PARANÁ, 2008).
A DCE de Ciências está subdividida em conteúdos estruturantes,
representados por Astronomia, Matéria, Sistemas Biológicos e por fim, Energia e
Biodiversidade. Dentro desses conteúdos, buscou-se identificar os conceitos que
correspondessem aos indicadores utilizados nesta pesquisa, que possibilitassem
encaminhamentos para questões de Paleontologia, conforme Tabela 2.
TABELA 2 Análise dos conteúdos dos DCE
Documento
Seção de Ciências das Diretrizes Curriculares Estaduais
Conteúdos
analisados
Astronomia
Matéria
Sistemas
Biológicos
Energia
Biodiversidade
Fósseis
Fossilização
Paleontologia
Eras Geológicas
X
Deriva
continental
Paleontólogo
Evolução das
espécies
X
X
Extinções em
massa
Fonte: autoria própria (2016).
Ao analisarmos as orientações advindas da unidade Astronomia, as temáticas
que mais se aproximam de frentes da Paleontologia são relações entre corpos
celestes e constituição do Sistema Solar, onde podem ser levantadas discussões
sobre as eras geológicas do planeta Terra e os efeitos que o movimento de corpos
celestes tiveram durante esses períodos.
Analisados os textos sobre Matéria, o direcionamento é dado para o estudo
de estruturas atômicas e não indica possibilidades de abordar discussões sobre
contextos de Paleontologia. Discussões acerca de decaimento radioativo, e como
isso é um dos alicerces para datação de rochas e fósseis, poderia ser utilizado como
catalisador para discussão de viés paleontológico.
Os conceitos abordados no conteúdo estruturante de Sistemas Biológicos
apresentam inferências sobre Morfologia e Fisiologia dos seres vivos e, junto a isso
demonstram mecanismos de herança genética. Ambas as temáticas podem
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facilmente dialogar com conhecimentos da Paleontologia, porém não
orientações claras no documento para a promoção desses debates.
Dentro da subdivisão Energia, não foram identificadas temáticas
propriamente esclarecidas que pudessem ser promotoras de discussões acerca de
Paleontologia, mas isso não impede que o mediador do processo de aprendizagem
utilize desse momento para trabalhar essa temática. Como exemplo, a energia em
forma de combustível pode ser abordada a partir de combustíveis fósseis; como se
deu sua formação e quais foram os organismos responsáveis pela existência desse
material.
Dentre as cinco constituintes, o conteúdo estruturante Biodiversidade
apresentou mais opções para contextualizar e exercitar questões sobre
Paleontologia. Por ser uma temática mais próxima aos conceitos da Biologia,
assuntos como sistemática, origem da vida e evolução dos seres vivos são
diretamente orientados a serem trabalhados nessa área do conhecimento. Esses
temas têm grande poder de promover abordagens sobre Paleontologia, como
exercícios de classificação filogenética e seleção natural.
Livros Didáticos
Dividido em quatro volumes, esses livros contemplam turmas de do ao
ano, e são distribuídos pelo Governo Federal a todos os estudantes matriculados.
A Tabela 3 apresenta de forma sintetizada os conceitos identificados nos livros
didáticos, que dizem respeito à Paleontologia.
TABELA 3 Conceitos de Paleontologia identificado nos livros
Conceitos
LD1
LD2
LD3
LD4
LD5
LD6
LD7
LD8
Paleontologia
x
Conceito de
Fóssil
X
X
X
X
Processos de
fossilização
X
Métodos de
datação
Tempo
Geológico
X
X
Evolução das
espécies
X
X
X
Fósseis como
evidências da
evolução
X
X
Extinções em
massa
Fonte: autoria própria (2016).
O LD1 iniciou o primeiro capítulo com discussões que abordam conceitos de
Geologia e Biologia, denominado de Terra Redescoberta. Com isso, foi
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observado que este livro trabalhou questões de Paleontologia logo nos primeiros
momentos contemplando a maior parte dos conceitos analisados nesta pesquisa.
O LD2 não trouxe tantos conteúdos sobre Paleontologia quanto o anterior,
porém destaca os fósseis como exemplo da diversidade de organismos que
habitaram o planeta, exemplificando como os estudos desses materiais auxiliam
no entendimento da evolução. Nesse mesmo sentido, o LD3 apresentou menos
informações, porém foi aprofundada a conceituação de fóssil e sua aplicabilidade
no estudo de morfologia comparada. Seguindo esse sentido decrescente, o LD4
foca seus conteúdos em outras atividades, e não exercitam ao longo do volume
relações com a Paleontologia.
Os volumes analisados a seguir, confeccionados pela editora Saraiva,
comparada com o grupo de livros da coleção Araribá, parece não prezar a
Paleontologia como temática necessária para o Ensino de Ciências. Durante seus
quatro volumes, o conteúdo sobre fósseis aparece apenas duas vezes e de forma
pouco evidente dentro dos livros. Outro fator relevante frente a essa análise, é que
mesmo assuntos mais genéricos como períodos do tempo geológico ou até mesmo
eras geológicas como um todo, não estão presentes nesta coleção.
Nas primeiras etapas do LD5 foram debatidos aspectos sobre a litologia
terrestre e suas estruturas, porém não é citado a estimativa de idade do planeta,
indireta ou diretamente. A aproximação mais evidente desse conjunto de livros
com a Paleontologia, ocorreu no livro LD7, onde juntamente com o estudo sobre
répteis foi debatido conceitos sobre dinossauros, de forma pouco significativa e
nada regionalista, apresentando animais provenientes de outras localidades sem
comentar dos fósseis brasileiros.
Os livros didáticos também foram analisados em relação à quantidade de
abordagens que discutem a temática de estudo. Assim, foram analisados textos e
atividades que continham definições, questionamentos ou menções a temática
analisada. Quanto às figuras, buscou-se retratos que inferissem a fósseis,
ferramentas de trabalho paleontológico, questões geológicas, formação da terra,
animais pré-históricos ou evolução biológica. Os dados obtidos estão
representados na Tabela 4.
TABELA 4 Materiais presentes nos livros sobre Paleontologia
Livro didático
Imagens
Textos
Atividades
LD1
16
18
2
LD2
8
5
1
LD3
8
8
0
LD4
0
0
0
LD5
2
2
0
LD6
9
9
4
LD7
0
0
0
LD8
0
0
0
Fonte: autoria própria (2016).
Pode-se inferir, que os livros do Projeto Arariabordaram de forma mais
significativa conceitos sobre Paleontologia, enquanto os livros da coleção
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Companhia das Ciências não expressaram conteúdos relacionados ao tema em
seus volumes.
Dessa forma foi possível notar que os livros do Projeto Araribá, apresentam
maior potencial para trabalhar questões acerca da Paleontologia, tanto de forma
quantitativa, com mais uso de textos, imagens e atividades, como também de
forma qualitativa, pois apresentam um maior número de conceitos que podem
balizar as discussões relacionadas ao tema Paleontologia, correlacionados aos
demais componentes curriculares de ciências.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Paleontologia é uma ciência ampla, que trabalha com diferentes áreas de
estudo, o que possibilita sua adoção como tema transversal no exercício da
interdisciplinaridade. A partir das análises destacadas nesse artigo, foi possível
concluir que a Paleontologia está presente no Ensino de Ciências, porém de forma
fragmentada e descontextualizada, dificultando o processo de aprendizagem dos
estudantes. Deriva continental, evolução e extinções das espécies são alguns
exemplos de assuntos abordados em sala de aula que dizem respeito à esta ciência
de forma indireta. Esses conhecimentos foram construídos com base em
evidências paleontológicas, porém, geralmente são suprimidos do processo de
ensino. Questões como eras geológicas, extinções em massa e fósseis, que estão
diretamente relacionadas à Paleontologia, são menos frequentemente abordadas
em sala de aula.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais expressaram de forma significativa o
uso de temas transversais interdisciplinares que auxiliam os professores e
estudantes durante o processo de ensino e aprendizagem. Diante disso, a
Paleontologia foi fortemente defendida como uma temática facilitadora para a
compreensão dos conteúdos do ensino de ciências, contribuindo para a construção
de conhecimentos de forma contextualizada. Em contraste, as DCE do Paraná
exploram pouco esta temática, porém suas orientações foram mais claras.
Dentre os livros didáticos analisados, foi evidenciado disparidades quanto as
abordagens dos conceitos sobre Paleontologia. Os volumes da coleção Araribá
representaram de forma significativa os conteúdos desta temática.
Diferentemente, a coleção Companhia das Ciências não contemplou este assunto.
Outro contraste entre os livros foi a presença de discussões sobre o contexto
paleontológico brasileiro, representado de forma ampla no projeto Araribá e
desconsiderado nos livros da Companhia das Ciências.
O Quadro 2 apresenta alguns conceitos que possibilitam debates sobre
Paleontologia nos anos finais do Ensino Fundamental, concebida a partir dos eixos
estruturantes dos Parâmetros Curriculares Nacionais, com sugestões de
abordagens.
ACTIO, Curitiba, v. 4, n. 1, p. 111-126, jan./abr. 2019.
QUADRO 2 Conceitos e abordagens sobre Paleontologia
Ano
Conceitos
Abordagem
6º e 7º
Constituição da Terra
Demonstrar como o registro fóssil possibilita
interpretar diferentes ambientes terrestres
(glaciação, altas temperaturas, baixa
oxigenação, etc.) e como a vida estava
presente nestes meios.
Transformações nos
ambientes provocadas pela
ação humana
Como são formados os combustíveis fósseis,
elencando sua finitude.
Características adaptativas
dos seres vivos
Exemplos dessa diversidade podem ser
consultada no registro fóssil. Sugere-se para
discussão o aparecimento do voo pleno, que
ocorre apenas em 4 grupos de organismos;
mamíferos, insetos, pterossauros e aves.
7º e 8º
Organização estrutural da
Terra
Tipos de rochas e quais delas podem ser
encontradas fósseis e quais são constituídas
de material fossilífero.
História geológica do planeta
e a evolução dos seres vivos
Uso da Tabela Cronoestratigráfica como
meio de direcionamento dos trabalhos,
elencando processo de extinção em massa
associando a eventos geológicos e cósmicos.
Relações entre os fenômenos
da
fotossíntese, da respiração
celular e da combustão para
explicar
os ciclos do carbono e do
oxigênio
Relação com os primeiros organismos
habitarem o planeta e suas estratégias de
sobrevivência. Demonstrado como são
preservados no período fóssil e qual sua
idade
Fonte: autoria própria (2016).
Apesar das fragilidades encontradas em currículos, livros didáticos e na
formação de professores, percebe-se um aumento na abordagem da Paleontologia
em sala de aula. Devido a sua característica interdisciplinar, além da presença na
mídia, torna-se uma temática atrativa para os estudantes, possibilitando maior
envolvimento nas atividades. Para além disso, conforme apresentando no artigo,
materiais didáticos como jogos, livros, vídeos, entre outros, que podem servir
de suporte para educadores na inclusão de debates em torno deste tema nos anos
finais do Ensino Fundamental, a partir do Ensino de Ciências.
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Paleontology and science teaching: an
official document and textbooks analyzes of
elementary school materials
ABSTRACT
Paleontology is an interdisciplinary science, considered as a transversal theme in the
teaching and learning processes of sciences. However, this subject is usually approached in
a fragmented and decontextualized way in the final years of elementary school, without
exploiting the full potential of this area of knowledge. In this work we aimed to identify how
Paleontology is present in the Teaching of Sciences in the final years of Elementary
Education. To fulfil this goal, documents as National Curricular Parameters (NCP) and State
Curricular Guidelines (SCG) were analyzed. Also, textbooks collections, approved in the
Textbooks National Plan in 2008 (Projeto Araribá) and 2014 (Companhia das Ciências), were
studied. To evaluate these documents a documental analysis was applied searching for
texts, images and activities related to Paleontology. From the analysis of the curricula, it
was evident a disparity in the presence of debates around Paleontology, with the NCP
guiding their use in the classroom more clearly and broadly, while the SCG showed few
recommendations of teaching through the theme. The textbooks share the same problem,
the Araribá Project collection presented in a broad and contextualized way questions about
Paleontology, and, conversely, the books of the Company of Sciences, did not present the
subject in a clear way, and with decontextualized treatment and little targeted at regional
issues. As a result, it was possible to perceive a fragility in the curricular guidelines and
approaches of the knowledge of Paleontology within the classroom, leaving, at the criterion
of the teacher's affinity, the inclusion of the theme in the teaching process, resulting in a
low profit of the potentialities that the Paleontology provides for Science Teaching.
KEYWORDS:
Science Teaching. Paleontology. Science Curriculum
ACTIO, Curitiba, v. 4, n. 1, p. 111-126, jan./abr. 2019.
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ACTIO, Curitiba, v. 4, n. 1, p. 111-126, jan./abr. 2019.
Recebido: 09 mar. 2018
Aprovado: 15 abr. 2019
DOI: 10.3895/actio.v4n1.8001
Como citar:
SILVA, D. C.; REIS, R. A.; SILVA, L. E.; DOMICIANO, T. D. Paleontologia e ensino de ciências: uma análise
dos documentos oficiais e materiais presentes nos anos finais do ensino fundamental. ACTIO, Curitiba, v. 4,
n. 1, p. 111-126, jan./abr. 2019. Disponível em: <https://periodicos.utfpr.edu.br/actio>. Acesso em: XXX
Correspondência:
Dhiego Cunha da Silva
Rua Agamenon Magalhaes, n.142, Cristo Rei, Curitiba, Paraná, Brasil.
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