ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 3, p. 451-470, set./dez. 2018
Etnomatemática, existem outras formas de produzir significados
matemáticos, outras formas que são igualmente Etnomatemáticas, pois
manifestações simbólicas de grupos culturais (KNIJNIK, 2000).
A Etnomatemática, por meio das pesquisas realizadas e do campo que abriu,
deu legitimidade a outros modos de produção de significado para aquilo que se
chama matemática (BARBOSA, 2014; KNIJNIK, 2000).
Sem hierarquias, sem diminuir a legitimidade das especificidades de uma
matemática do campo, percebemos que considerar essas diferenças pode ser rico
para a aprendizagem. Essa bagagem pode contribuir para o desenvolvimento do
aluno, o crescimento da sua confiança e motivação na busca do saber na aula de
matemática.
Bzuneck (2000, p. 9 apud MORAES, VARELA, 2007, p. 3) afirma que “a
motivação, ou o motivo, é aquilo que move uma pessoa ou que a põe em ação ou
a faz mudar de curso” e o fato de utilizarmos a vivência do aluno no ensino da
matemática tende a motivá-lo, dando chance e segurança para ele mostrar o que
já sabe. Segundo Moraes e Varela (2007), “se o conteúdo da aula é interessante
para a criança, ela o associa com seus conhecimentos e experiências prévias” (p.
13), e é essa uma das metas de se utilizar a vivência no campo na sala de aula.
Tendo como base a problemática anunciada, os primeiros questionamentos
que nos ocorreram: Seria possível a matemática escolar usufruir do campo para
auxiliar no aprendizado dos educandos? Como utilizar a matemática no campo,
como ensiná-la para alunos que vivem no campo?
A legislação existente sobre a Educação do Campo (BRASIL, 1996, 2002, 2014;
PARANÁ, 2006) desmistifica a escola apenas situada no campo. A Educação do
Campo, além de se encontrar no campo, segundo Antunes-Rocha e Martins (2009),
também significa aprender com a terra, com o campo, os modos genuínos de olhar
para a vida do homem em sintonia com a natureza. Além disso, significa conhecer
diferentes modos de organização da sociedade e das lutas políticas, e ainda
reconhecer o poder dos gestos, das cores, das imagens próprias do campo como
saberes legítimos.
É de extrema importância que as atividades de matemática envolvam o
conhecimento que o aluno possui, porém, segundo o Plano Nacional de
Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), “quando apontamos para a necessidade de
incorporarmos a cultura dos alunos em nossas práticas pedagógicas, não significa
criarmos ‘probleminhas’ ruralizantes” (BRASIL, 2014, p.24). Esses problemas
ruralizantes seriam, por exemplo: realizar uma operação matemática (nesse
exemplo a soma) e, para tal, utilizar laranjas e afirmar que esta atividade envolve
a Educação do Campo. Mas essa atividade poderia ser feita com carros, casas,
celulares, ou algo que se situa em qualquer lugar. Mais do que isso, uma atividade
de matemática de uma escola do campo deve preparar os alunos para a vida deles
no campo ou fora dele, “pois a escola do campo deve ser considerada como espaço
de vida digna, e, sobretudo, de produção de conhecimento para transformação da
realidade” (NAHIRNE; STRIEDER, 2017, p. 5).
Conforme exposto anteriormente, a escola do campo possui suas
especificidades que nem sempre são compreendidas e respeitadas. Quais as
particularidades da escola do campo? Os professores de matemática relacionam a
Educação do Campo com os conteúdos escolares?