ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 3, p. 317-335, set./dez. 2018.
maneira possível para a construção deste procedimento, incentivando sua
utilização.
Ainda que essas recomendações pareçam genéricas e pareçam servir a
qualquer outra inovação pedagógica, elas revelam algo mais fundo sobre a
organização escolar e o desconforto trazido pelas tarefas de Modelagem
Matemática. A organização escolar, ainda que seja essencialmente histórica, não
se vê desse modo, assumindo, muitas vezes, o compromisso da manutenção do
status quo. A Modelagem, conforme defendida por diferentes autores, dentre eles
Biembengut (2016), Almeida, Silva e Vertuan (2013), Barbosa (2001, 2002),
Caldeira (2005, 2009), rompe com o paradigma vigente na escola. Sendo assim,
causa um estranhamento muito sobressaliente aos atores escolares, uma vez que
não faz parte e, muitas vezes, sequer tangencia aspectos daquilo que é conhecido
por eles. Essa mudança na rotina da escola trazida de forma mais ressaltada por
uma tendência aberta, crítica e que questiona esse status quo, mais do que o
confirma (CALDEIRA, 2005), requer um esforço mais intenso da parte dos
professores para que resistam e dialoguem com a gestão escolar.
Sem dúvida, professores de outras áreas compõem esse cenário mais amplo e
devem ser orientados sobre os encaminhamentos que a tendência de Modelagem
Matemática irá tomar. Bisognin e Bisognin (2009) apontam que isso pode ser feito
por meio da apresentação de relatos de experiência dos professores de
Matemática para os professores de outras áreas. Além disso, Bisognin e Bisognin
(2012) esclarecem que “o caráter interdisciplinar da Modelagem [pode ser],
também, um fator que gere insegurança, pois o uso de Modelagem pressupõe
saber Matemática e ter conhecimento de outras áreas” (BISOGNIN E BISOGNIN,
2012, p. 1061, adaptação nossa). Isso mostra ainda mais, que romper com a visão
disciplinar da escola e que um trabalho para rescindir com essa visão é necessário.
Assim,
o ato de participar pode ser expresso em diversos níveis ou graus, desde a
simples informação, avançando para opinião, voto, proposta de solução de
problemas, acompanhamento e execução das ações, e que deve gerar um
sentimento de co-responsabilidade sobre as ações. O que importa, então, é
que os atores sociais da escola tenham conhecimento e clareza do sentido do
termo, da responsabilidade que o mesmo encerra e das formas possíveis de
participação no interior de uma gestão democrática para que, assim, eles
possam vivenciar o processo (ARAÚJO, 2003, p. 32).
A participação efetiva da comunidade escolar traz ainda “contradições
relacionadas ao conceito de participação tanto em relação ao poder político, como
também no que concerne à própria amplitude conceitual do termo” (ARAÚJO,
2003, p. 35). A contradição nessa participação da comunidade encontra-se na
clareza que os gestores possuem de gestão democrática, pois alguns interesses
coletivos podem ser coagidos em função de interesses políticos. As relações
políticas externas à escola podem ser apreciadas na preocupação dos gestores
quanto à “imagem” que estão passando para a população externa à escola.
Para finalizar, é importante destacar que os objetivos traçados pelas
instituições de ensino devem ser almejados por toda a comunidade escolar para
que as ações a serem desenvolvidas sejam de sucesso. Aliado isso, os gestores