ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 3, p. 253-270, set./dez. 2018.
Segundo Burak (2010), na forma usual o processo de ensino é deflagrado pelo
professor. Já na Modelagem Matemática, o processo é compartilhado com o grupo
de estudantes, pois sua motivação acontece a partir do tema de seu interesse. Daí
decorre maior interesse do grupo pelo fato de compartilharem o processo de
ensino, escolhendo aquilo que gostariam de estudar, tendo a oportunidade de se
manifestar, discutir e propor alternativas. Esse é um dos grandes aspectos
diferenciadores na prática educativa mediada pela Modelagem na Educação
Matemática. Além disso, ocorre maior interação no processo de ensino e de
aprendizagem. Para a aprendizagem, tal procedimento resulta em ganho, pois os
grupos trabalham com aquilo que gostam e que para eles apresenta significado,
tornando-se corresponsáveis pela aprendizagem.
A importância do outro no desenvolvimento do indivíduo é explicitada nos
estudos de Vygotsky. O mediador auxilia a criança a consolidar o desenvolvimento
que está próximo (zona de desenvolvimento proximal), ou seja, ajuda a
transformar o desenvolvimento potencial (àquilo que a criança pode realizar com
auxílio de outro indivíduo) em desenvolvimento real (conquistas já consolidadas,
capacidades ou funções realizadas sem auxílio de outro indivíduo). São as
aprendizagens que ocorrem na zona de desenvolvimento proximal que
contribuem com que a criança/estudante se desenvolva cada vez mais.
A Modelagem Matemática associa-se também a um ensino que se direciona
para as funções psicológicas emergentes ao atuar no limite da zona de
desenvolvimento proximal, estimulando os processos internos maturacionais que
terminam por se efetivar, passando a constituir a base para novas aprendizagens
(SINDER, 1997). Como é a aprendizagem que promove o desenvolvimento
intelectual, a matemática pode ser entendida como a via pela qual as funções
superiores são desenvolvidas.
Outra dificuldade vivenciada diz respeito à elaboração da questão central, face
às diversas questões propostas pelos estudantes. De fato, esse seria o ponto
principal a partir do qual seriam revisitados ou abordados novos conteúdos. No
entanto, discutir questões levantadas pelo grupo de estudantes não era uma
dinâmica usual, geralmente as questões a serem estudadas eram previamente
decididas pela professora, ou seja, as aulas já estavam preparadas.
Num cenário totalmente novo, a imprevisibilidade decorrente da Modelagem
Matemática gera insegurança. Segundo Edgar Morin, há dois meios pelos quais
podemos enfrentar a incerteza. O primeiro se refere à total consciência da aposta
na decisão, o segundo à estratégia. Assim, a consciência da incerteza torna-se
consciência de uma aposta na qual a estratégia deve prevalecer sobre o programa,
pois o programa gera uma sequência de ações a serem executadas em um
ambiente estável, sem variações. Caso haja modificações das condições externas,
o programa fica impedido. Ao contrário, a estratégia permite um cenário que
analisa as certezas e incertezas, as probabilidades e improbabilidades da situação.
As informações recolhidas, os acasos e contratempos representam boas
oportunidades encontradas ao longo deste caminho que podem e devem ser
utilizadas para modificar esse cenário. Contudo, no cerne de nossas estratégias,
podemos utilizar curtas sequências programadas, “mas, para tudo que se efetua
em ambiente instável e incerto, impõe-se a estratégia. Deve, em um momento,
privilegiar a prudência, em outro, a audácia e, se possível, as duas ao mesmo
tempo”. (MORIN, 2000, p.90).