ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 2, p. 130-147, mai./ago. 2018.
A ESCRITA NO ENSINO DE CIÊNCIAS E OS GÊNEROS TEXTUAIS
A escrita é uma ferramenta adquirida em nossa trajetória escolar, somos
alfabetizados logo nos primeiros anos de vida e nos utilizamos da escrita diversas
vezes por este percurso, principalmente nas avaliações (CARVALHO, 2013).
Dentro do ensino de ciências, percebemos que a escrita não é somente um
recurso pedagógico, mas também um recurso epistemológico. Neste sentido a
escrita nas aulas ciências promove a construção de um saber escolar que é
fundamental para a compreensão da produção do conhecimento científico. Isto
por que a escrita é fundamental no processo de investigação científica, trazendo
aos alunos a possibilidade de trabalhar com anotação dos dados, o registro de uma
discussão e a publicação de resultados. Estas e outras práticas cientificas
acontecem de forma escrita (HAND; LAWRENCE; YORE, 1999).
Para entender o processo de escrita, temos que compreender o processo de
linguagem como elemento fundamental da interação e comunicação. A linguagem
é intrínseca nas culturas humanas, sendo essencial para produção do
conhecimento e também para construção de uma identidade social. (PANCERA,
2002). Para Bakhtin (2003, p 262):
O emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos)
concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da
atividade humana. Logo, podemos entender os gêneros do discurso como
tipos relativamente estáveis de enunciado.
Embora os gêneros do discurso são tipos relativamente estáveis de
enunciados, não se pode ignorar que são escritos por um indivíduo, de forma a ter
individualidade de quem o fala ou escreve. Logo, seu enunciado pode refletir muito
da particularidade de quem o produziu, mas nem todos os gêneros são igualmente
próprios a tal reflexo (BAKHTIN, 2003). A escrita é uma forma de linguagem que se
apresenta por meio de enunciados, e que pode ser entendida como um discurso
em toda a sua complexidade.
Baseado nas ideias de Bakhtin de que a comunicação ocorre por meio de
enunciados, Marcuschi (2002) busca entender como ocorre a comunicação por
meio dos gêneros textuais, assim definindo que eles são produções sócio
comunicativas estabelecidas pelo seu conteúdo, funcionalidade, composição e
estilo.
Os gêneros textuais possuem um dinamismo em sua caracterização já que
cada um deles tem um papel singular para uma comunicação específica. Por
exemplo, um artigo científico tem como função levar uma nova hipótese para a
comunidade científica, e um artigo jornalístico científico leva as principais notícias
da comunidade científica para a população em geral. Assim, não é possível fazer
uma lista fechada do número existentes de gêneros, tanto que a tendencial atual
não é a de classificação e enumeração dos gêneros existentes, mas sim de como
eles se constituem e circulam socialmente (MARCUSCHI, 2009).
É preciso ser clara a diferença entre os gêneros textuais e os tipos textuais.
Enquanto os gêneros textuais são definidos por seus fins comunicativos, os tipos
textuais são constructos teóricos definidos por propriedades linguísticas
intrínsecas (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas) e