ACTIO, Curitiba, v. 4, n. 1, p. 1-25, jan./abr. 2019.
Defendemos que práticas dialógicas necessitam integrar as rotinas das salas
de aula como forma de trazer dinamicidade ao ensinar e aprender, levando os
alunos a se apropriarem dos conhecimentos de forma reflexiva, não somente
analisando os conteúdos, mas também percebendo como estes influenciam o seu
dia a dia, ou conforme explicitam Fontoura, Pierro e Chaves (2011, p.27), “basear-
se no diálogo é respeitar o aprendiz como pessoa capaz de produzir significado, e
não apenas receber lições passivamente”.
Consideramos por ensino de Ciências dialógico aquele que explora o
levantamento de questões, hipóteses e reflexões (BIZZO, 2009a), possibilitando o
surgimento de uma crítica fundamentada. Nessa dinâmica os alunos aprendem
não somente novas explicações, mas maneiras outras de elaborar e reelaborar
explicações próprias. Com Bizzo (2009a), apreendemos a riqueza que reside no
ensino de Ciências mais dialógico, pois, para este autor, a conversa, o debate e a
defesa de pontos de vista descortinam reais oportunidades de aprendizagem.
Logo, “expor ideias próprias é, em si, uma capacidade que deve ser estimulada e
desenvolvida” (p.68).
A valorização do debate como meio para possibilitar o interesse nos alunos
pode ser visualizada no relato TI 1. Para nós, o debate se constitui em perturbações
recíprocas (MATURANA; VARELA, 1995), que se assentam em interações que não
determinam nem informam seus sujeitos, mas desencadeiam mudanças a partir
da correspondência com o meio. Maturana e Varela (1995) assumem o domínio de
perturbação como um corresponder-se, isto é, uma relação recorrente na qual o
organismo e meio transformam-se juntos. Os autores destacam que a categoria
perturbação diferencia-se das interações destrutivas, já que estas últimas são
domínios que desintegram o todo constitutivo de nosso ser rompendo a
correspondência com o meio. Logo, estar imerso nas circunstâncias da vida
cotidiana, retirando os elementos para efetuar proposições explicativas, é
encontrar-se no domínio de perturbação.
Percebemos em respostas obtidas na coleta de dados a ênfase nas aulas
práticas como favorecedoras da apropriação de conhecimentos em Ciências.
Concebemos o termo prática enquanto experimentação, pois segundo os
Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN (BRASIL, 1997) um experimento é
realizado quando os alunos discutem ideias, manipulam e organizam materiais,
observam e relacionam os resultados. Para os PCN, a experimentação, fonte de
investigação que entrelaça os fenômenos e suas transformações, tem suas
possibilidades ampliadas quanto mais os alunos realizam por si mesmos as ações,
discutem os resultados e organizam as anotações sobre o que realizaram. Neste
ângulo, vemos a dinâmica dialógica favorecendo e contribuindo com formas de os
alunos viverem a Ciência em sala de aula, mergulhando-os num espaço de
assunção de responsabilidades e autonomia.
Destacamos a necessária percepção por parte dos professores de que um
experimento, por si só, não constitui garantia de aprendizado. É no
acompanhamento, na exploração e condução pedagógica que a potencialidade da
experimentação vai surgindo. Para Bizzo (2009a), a riqueza de uma experiência
reside na oportunidade de “exercitar uma das características mais fascinantes do
trabalho com o conhecimento científico, que é a possibilidade de levantar
hipóteses originais” (p.96).