ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 2, p. 116-132, mai./ago. 2018.
[...] o objeto da argumentação passa a ser um novo estado dos sujeitos,
produto das atividades de investigação desenvolvidas, incluindo o resultado
das leituras, dos experimentos, das entrevistas, dos debates e dos textos
elaborados. O espaço público consiste nos espaços de convivência em que
predomina a própria sala de aula, sem esta ser exclusiva. A prática
argumentativa é o exercício cotidiano no qual os alunos não têm apenas de
ouvir, mas, ao contrário, falar, questionar, responder e argumentar.
A pesquisa proposta por Demo entende diferentes níveis. Inicialmente seria
um estágio de interpretação reprodutiva, considerando fielmente o autor
pesquisado; um segundo estágio, seria o da interpretação própria; no terceiro
estágio, ocorreria à reconstrução; no quarto estágio, a construção e, num quinto
estágio, a criação de novos paradigmas. Para todos os níveis, a linguagem, a escrita
e a leitura, são pressupostos fundamentais.
A linguagem, segundo Maturana e Varela (1995), nos constitui humanos;
como afirmam:
Realizamos a nós mesmos em mútuo acoplamento linguístico, não porque a
linguagem nos permite dizer o que somos, mas porque somos na linguagem,
num contínuo existir de mundos linguísticos e semânticos que produzimos
com os outros. Encontramos a nós mesmos nesse acoplamento, não como a
origem de uma referência, nem em referência a uma origem, mas sim em
contínua transformação no vir-a-ser do mundo linguístico que construímos
com os outros seres humanos. (MATURANA; VARELA, 1995, p. 253)
Para Bakhtin, o diálogo não só é relevante, como imprescindível, “ser significa
comunicar-se dialogicamente. Quando termina o diálogo, tudo termina” (apud
STAM, 1992, p. 72). Ao considerar, então, a linguagem e a escrita como recursos
culturais, entende-se que o pensamento se constitui a partir delas, tendo
implicações cognitivas. Esclarece Galiazzi (2003, p. 99) que:
Na educação, pela linguagem se acessa e se reconstrói o conhecimento
construído no passado. Este processo está muito longe de ser apenas
transmissão e recepção. As ideias não existem separadas do processo
semiótico pelo qual elas são formuladas e comunicadas. Além disso, uma vez
que comunicação é um processo dialógico, os significados feitos pelos
falantes e ouvintes, escritores e leitores, com respeito aos enunciados, são
fortemente influenciados pelo contexto no qual ocorre o discurso. Conhecer
é um processo situado e dialógico.
Dessa forma entendemos a leitura e a escrita (processos que se ensinam e se
aprendem), como habilidades fundamentais para contribuir no efetivo processo
de educação em ciências, elucidando o domínio linguístico próprio da área das
ciências da natureza em diferentes gêneros textuais que permeiam a sociedade,
pelos quais ocorre a comunicação entre as pessoas.
No espaço escolar, as atividades que envolvem a escrita muitas vezes refletem
um exercício mecânico de reprodução de ideias, como cópias e/ou respostas
direcionadas às perguntas prontas, não permitindo a ampliação das ideias, a
complementação e até mesmo sua reestruturação. Considera-se uma escrita,
conforme Almeida, Cassiani e Oliveira (2008, p. 39), “[...] que pudesse contribuir
para a constituição e expressão de pensamento no ensino escolar”.
Na interface com a área das linguagens, buscamos o entendimento de gêneros
textuais que surgem de acordo com sua função na sociedade (BRONCKART, 2003;