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ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 2, p. 98-115, mai./ago. 2018.
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A prática da leitura no ensino de química:
modos e finalidades de seu uso em sala de
aula
RESUMO
Judite Scherer Wenzel
juditescherer@uffs.edu.br
orcid.org/0000-0002-6601-2990
Universidade Federal da Fronteira Sul
(UFFS), Cerro Largo, Rio Grande do Sul,
Brasil
Joana Laura de Castro Martins
joanalauradecastro@hotmail.com
orcid.org/0000-0002-8106-2371
Universidade Federal da Fronteira Sul
(UFFS), Cerro Largo, Rio Grande do Sul,
Brasil
Camila Carolina Colpo
camilacolpo@hotmail.com
orcid.org/0000-0002-0007-7046
Universidade Federal da Fronteira Sul
(UFFS), Cerro Largo, Rio Grande do Sul,
Brasil
Thiago dos Anjos Ribeiro
thiagodos_anjos@live.com
orcid.org/0000-0003-4239-6827
Universidade Federal da Fronteira Sul
(UFFS), Cerro Largo, Rio Grande do Sul,
Brasil
O presente artigo contempla um estudo sobre a prática da leitura no Ensino de Química.
Parte-se do pressuposto de que a prática da leitura em aulas de Química possibilita ao
estudante um maior contato com a linguagem específica dessa ciência e com isso qualifica
a sua aprendizagem. Com o objetivo de visualizar como tal prática tem sido conduzida nas
aulas de Química e de compreender as finalidades do seu uso, realizou-se uma revisão
bibliográfica nos Anais do Encontro Nacional de Ensino de Química e nos anais do Encontro
Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências. Também foi realizado um olhar para os
últimos anos de publicações da Revista Química Nova na Escola. Os dados foram analisados
com base na análise textual discursiva e emergiram três categorias: gêneros discursivos,
interações discursivas e estratégias de leitura. Os resultados construídos reforçaram a
importância da prática da leitura no processo de aprender Química apontando-a como
modo de oportunizar a apropriação e a significação conceitual em química e a formação de
um estudante mais crítico e participativo.
PALAVRAS-CHAVE: Leitura. Linguagem Científica. Interações Discursivas.
ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 2, p. 98-115, mai./ago. 2018.
INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como objetivo compreender o uso da leitura no ensino de
química, seus modos e finalidades em sala de aula nos diferentes níveis de ensino. Para
tanto, realizamos uma revisão bibliográfica em três espaços diferenciados de publicação
na área, a saber, os anais do Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências
(ENPEC), os Anais do Encontro Nacional de Ensino de Química (ENEQ) e a Revista Química
Nova na Escola (QNEsc).
O referencial teórico que fundamenta o nosso estudo consiste na abordagem histórico
cultural, com a compreensão de que a apropriação da linguagem específica da química se
pelo uso da palavra em diferentes contextos (VIGOTSKI, 2000). Compreendemos com
Wenzel e Maldaner (2014) que aprender química requer a apropriação e a significação da
sua linguagem, a qual apresenta peculiaridades como símbolos, fórmulas, conceitos que
necessitam ser internalizados e significados pelos estudantes. Daí a importância da atenção
para a linguagem estabelecida em sala de aula e para os modos de uso da mesma, seja por
meio da escrita, da fala e/ou da leitura.
Para além do uso da linguagem específica da química, é fundamental que a sala de
aula se torne um espaço de formação de leitores, ou seja, que os estudantes aprendam a
se posicionar frente ao texto, que dialoguem de forma responsável com a leitura realizada,
para que a leitura seja “um processo de interação entre um leitor e um texto” (SOLÉ, 1998,
p. 22), num movimento de leitura interativa, onde se considera tanto o leitor como a forma
de como se lê. Nas aulas de química é primordial que o professor de química atente para o
fato de “formar e produzir leitores com responsabilidade social e política e com capacidade
de julgar, avaliar e decidir no campo do domínio técnico e científico” (TEIXEIRA; SILVA,
2007, p.1368). E um caminho para isso consiste na apropriação da linguagem química, na
sua compreensão conceitual pelo uso significativo da linguagem da química.
Pensando na prática da leitura como modo de ensino concordamos com as autoras
Flôr e Cassiani (2011, p. 75) que para inserir a prática da leitura nas aulas de química é
preciso trabalhar tal perspectiva no decorrer da formação inicial e continuada dos
professores, para que eles enquanto sujeitos em formação possam ampliar o seu olhar para
além da leitura como simples ferramenta de ensino, como uma simples busca de
informações em um texto. E que, pela formação, possam compreender a leitura como
constitutiva do processo de aprender, para que assim, a tornem significativa em suas
práticas de ensino. Isso reforça a nossa hipótese de que a formação do professor deve
oportunizar espaços de orientação, de planejamento para diferentes estratégias de leituras
que possam ser adotadas em sala de aula.
Assim, a problemática da pesquisa, que aqui apresentamos decorre da vivência
formativa num grupo de estudos cujo foco é a inserção da leitura no Ensino Superior de
Química. Olhar para a inserção e a organização da leitura no ensino de Química se mostrou
importante para auxiliar na própria organização do grupo, na busca de visualizar outras
maneiras de desenvolvê-la, além de possibilitar um panorama sobre como tal prática vem
sendo contemplada junto ao ensino de química nos diferentes níveis de ensino. Segue um
diálogo sobre a metodologia da pesquisa.
CAMINHO METODOLÓGICO
A pesquisa se caracterizou como um estudo de caráter qualitativo, do tipo documental
(LUDKE; ANDRÉ, 2001) e contemplou uma revisão bibliográfica em diferentes instâncias de
divulgação na área do Ensino de Química: nos anais do ENPEC nas edições do ano de 2011,
2013 e 2015; nos anais do ENEQ dos anos de 2010, 2012 e 2014 e, nas edições da QNEsc
publicadas no ano de 2005 à 2015. Tendo em vista as particularidades de cada um dos
focos da revisão bibliográfica, segue um detalhamento sobre as mesmas:
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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA NOS ANAIS DO ENPEC
O ENPEC busca reunir e possibilitar a interação entre os pesquisadores das áreas de
Ensino de Física, de Biologia, de Química, de Geociências, de Ambiente, de Saúde e áreas
afins, com a finalidade de discutir trabalhos de pesquisa recentes e tratar de temas de
interesse da Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências (ABRAPEC). Assim,
devido à importância e a representatividade desse evento para a área do Ensino de
Ciências/Química julgamos oportuno inseri-lo na revisão bibliográfica.
Selecionamos as seções Linguagem e Ensino de Ciências no ano de 2011 e
Linguagens, Discurso e Educação em Ciênciasnos anos de 2013 e 2015, na busca das
palavras: leitura e linguagem. De um total de 233 artigos publicados nessa seção 44
trabalhos foram inicialmente selecionados. Após a leitura dos resumos, devido ao olhar da
pesquisa estar focado no ensino de química, dos 44 trabalhos apenas 3 tratavam da
temática em questão. Esses três se encontram no quadro 1 com seus respectivos autores
e ano de publicação, bem como a indicação do código que será utilizado na sua discussão.
Quadro 1 Artigos do ENPEC
Título dos Trabalhos
Autores
Código
Produção textual em variados gêneros: um
estudo na formação de professores de
química
Francisco Júnior (2011)
A
EC(1)
Oficinas de leitura: produção de sentidos no
ensino superior de química
Santos e Queiroz
(2013)
A
EC(2)
As contribuições de uma estratégia de
leitura em uma perspectiva progressista
para a educação química
Guaita e Gonçalves
(2013)
A
EC(3)
Fonte: Autoria própria (2017).
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA NOS ANAIS DO ENEQ
O ENEQ é responsável por estimular a pesquisa em ensino de química e apresenta
discussões de experiências de ensino e de formação de professores de química, o que
justifica a seleção de tal evento para compor a revisão bibliográfica. Nos Anais (2010, 2012
e 2014) procuramos as palavras leitura e linguagem, no título e/ou nas palavras chaves dos
trabalhos publicados na temática “Linguagem e Cognição”.
De um total de 74 trabalhos publicados, 29 foram selecionados num primeiro
momento. Depois, ao realizarmos uma leitura dos resumos selecionamos 18 trabalhos que
contemplaram especificamente a leitura no ensino de química. Os demais tratavam de
outros aspectos da linguagem e não mencionaram em seus resumos explicitamente a
prática de leitura e por isso não foram analisados. Segue no quadro 02 a indicação dos
trabalhos que foram analisados, seus respectivos autores e ano de publicação, bem como
a indicação de um código para sua discussão.
Quadro 2 Artigos do ENEQ
Título dos Trabalhos
Autores
Código
A influência da linguagem química
empregada nos livros didáticos na
compreensão e resoluções dos exercícios
sobre “Interações Intermoleculares”
Medina et al (2010)
AEQ(1)
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Análise das Perguntas e das Perguntas e
Respostas Elaboradas por Licenciandos em
Química em Atividades de Leitura
Francisco Junior (2010)
A
EQ(2)
Peer review no ensino superior de química:
investigando aspectos estruturais e
retóricos da linguagem científica valorizados
pelos estudantes
Oliveira, Porto e
Queiroz (2010)
A
EQ(3)
Possibilidades para a construção da
linguagem escrita da ciência em salas de
aulas de química
Souza e Arroio (2010)
A
EQ(4)
A leitura de textos científicos como uma
possibilidade de análise do aprimoramento
de gêneros do discurso.
Andrade et al (2012)
A
EQ(5)
Compreensão da linguagem química
simbólica por alunos de ensino médio.
Batiston, Silva e
Kiouranis (2012)
A
EQ(6)
Estratégias de leitura na formação inicial em
química: uma análise de dois casos a partir
do uso de literatura científica
Barros et al (2012)
A
EQ(7)
O desenvolvimento da argumentação e da
linguagem científica por graduandos em
química mediante a produção textual
Garcia et al (2012)
A
EQ(8)
Qual química ensinar? reflexões a respeito
da educação química algumas de suas
configurações no ensino médio
Flôr e Cassiani (2012)
A
EQ(9)
(Des)caminhos da pesquisa sobre leitura e
formação de leitores em aulas de química
no Ensino Médio
Francisco Junior, Lima
e Machado (2012)
A
EQ(10)
A mediação da leitura de textos didáticos e
o processo de compreensão dos conteúdos
químicos
Miranda, Mauro e Flôr
(2012)
A
EQ(11)
Imagem da Ciência no cinema: um
levantamento de produções
cinematográficas comerciais produzidas no
período entre 2000 e 2011
Miranda et al (2012)
A
EQ(12)
Investigando as concepções de estudantes
do ensino fundamental sobre a equação
química
Reis e Lopes (2012)
A
EQ(13)
Produção e avaliação de uma história em
quadrinhos para o ensino de Química
Uchôa, Francisco
Junior e Francisco
(2012)
A
EQ(14)
Classificando o Perfil de Leitores do Curso
de Química Licenciatura da UFS a partir da
leitura.
Andrade, Melo e
Santos (2014)
A
EQ(15)
Linguagem científica e cotidiana: como os
estudantes explicam um fenômeno
ambiental.
Freitas e Quadros
(2014)
A
EQ(16)
Avaliando uma história em quadrinhos
produzida para o ensino de química e
educação ambiental
Gama e Francisco
Junior (2014)
A
EQ(17)
A música utilizada como metodologia para
descrição do processo biossintético da
fotossíntese.
Santiago et al (2014)
A
EQ(18)
Fonte: Autoria própria (2017).
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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA NA REVISTA DE QUÍMICA NOVA NA ESCOLA (QNESC)
O outro objeto da revisão, a Revista Química Nova na Escola se justifica por
representar um espaço que historicamente dialoga sobre o ensino de química, apresenta
o acesso online gratuito. Os artigos dessa revista foram selecionados de acordo com a
presença das palavras, leitura e linguagem no título e/ou nas palavras-chave. De um total
de 391 artigos publicados no período analisados, 6 foram inicialmente selecionados e, após
a leitura dos resumos, foram selecionados 4 para análise. Os trabalhos estão indicados no
quadro a seguir, junto com a indicação dos respectivos autores e dos códigos que serão
utilizados na discussão.
Quadro 3 Artigos da Revista Química Nova na Escola
Fonte: Autoria própria (2017).
Os trabalhos indicados nos quadros totalizaram 25 artigos que foram analisados e
posteriormente classificados sob um olhar qualitativo pelo uso dos aportes metodológicos
da análise textual discursiva (ATD) (MORAES; GALIAZZI 2007). Tal processo metodológico
se caracteriza por possibilitar uma impregnação dos textos, iniciando-se pelo agrupamento
das unidades de significados e, em seguida, na busca de relações entre elas para
posteriormente ampliar as compreensões na (re)construção dos textos. De um modo geral
a ATD contempla a desconstrução, a unitarização e a categorização do texto. Segue uma
discussão sobre as categorias emergentes do processo analítico e as suas implicações para
a prática da leitura no ensino de Química.
RESULTADOS CONSTRUÍDOS
Ao iniciarmos a leitura do corpus da pesquisa o nosso olhar estava voltado para
identificar como a prática da leitura está sendo compreendida no ensino de química. As
perguntas consistiram em: com quais finalidades está sendo realizada a prática de leitura?;
quais as estratégias, os modos de leitura que estão sendo empregados? ; qual a concepção
de leitura do professor de química? Assim, o corpus foi reorganizado em unidades de
significado (partes do texto que foram destacadas no decorrer da leitura). Para Moraes e
Galiazzi (2007, p. 114) “unitarizar um conjunto de textos é identificar e salientar enunciados
que os compõem”.
Na sequência da ATD realizamos um exercício de aproximação entre as unidades de
significado, num movimento de categorização (MORAES; GALIAZZI, 2007). Emergiram três
categorias: GD - Gêneros do Discurso; ID - Interação Discursiva e EL - Estratégias de Leitura.
Tais categorias contemplaram a temática principal de cada um dos textos analisados. Na
sequência, apresentamos no quadro 4 a descrição de cada categoria e apontamos os
Corpus nos quais emergiram.
Título dos Artigos
Autores
Código
A Leitura dos Estudantes do Curso de Licenciatura
em Química: Analisando o Caso do Curso a
Distância
Quadros e
Miranda (2009)
A
RQ(1)
Estratégias de Leitura e Educação Química: Que
relações?
Francisco Junior
(2010)
A
RQ(2)
Leitura em Sala de Aula: Um Caso Envolvendo o
Funcionamento da Ciência
Francisco Junior e
Garcia Júnior
(2010)
A
RQ(3)
A Leitura em uma Perspectiva Progressista e o
Ensino de Química
Guaita e
Gonçalves (2015)
A
RQ(4)
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Quadro 4 Descrição das categorias de análise
Categorias
Descrição
Textos/Corpus
Gênero Discursivo
Essa categoria retrata a preocupação
com as especificidades da linguagem
química, com os diferentes gêneros
discursivos que constituem o ensino de
Química como: relatórios, artigos, livros
didáticos e textos de divulgação
científica. A preocupação é quanto a
apropriação das especificidades do
discurso científico em sala de aula.
AEC(1); AEC(2) ;
AEQ(1) ; AEQ(3);
AEQ(4); AEQ(5);
AEQ(6) ; AEQ(7) ;
AEQ(8); AEQ(9);
AEQ(16); ARQ(1)
Interação
Discursiva
Essa categoria indiciou aspectos
relacionados às interações estabelecidas
em sala de aula, nos diálogos entre
estudantes, estudantes e texto,
estudantes e professor num processo de
leitura mediada.
AEQ(10); AEQ(11);
AEQ(12); AEQ(13);
AEQ(15)
Estratégias de
Leitura
Essa terceira categoria contemplou
estratégias de leituras em contexto de
ensino cujo objetivo consistiu em
possibilitar ao estudante uma maior
compreensão e apropriação da
linguagem química. Tal categoria remete
para uma preocupação com os modos
de fazer uso da leitura em sala de aula,
indiciando relações entre a prática da
leitura e o aprendizado em química,
assim, apesar de ter contemplado, por
vezes, aspectos da categoria GD e ID, a
maior preocupação foi com as
estratégias de leitura em sala de aula.
Por isso, foi caracterizada como EL.
ARQ(3); ARQ(2);
ARQ(4); AEQ(2);
AEQ(14); AEQ(17);
AEQ(18); AEC(3)
Fonte: Autoria própria (2017).
Ressaltamos que as categorias emergentes não são excludentes entre si, apontam
perspectivas que se aproximam no uso da leitura em sala de aula, pois aprender química
implica a apropriação da sua linguagem que, na maioria das vezes, está apresentada na
forma de um gênero discursivo específico, seja o científico, o de divulgação científica e/ou
o pedagógico (WENZEL, 2014) e todos remetem a espaços de interações e requerem
diferentes estratégias para serem apropriados pelos estudantes. O critério para a inclusão
dos textos numa determinada categoria, apesar de alguns indicarem aspectos de outras
categorias, consistiu no olhar para a temática principal, para a unidade de significado que
mais foi retratada/defendida no texto.
Iniciamos com os resultados construídos para a categoria GD, que contemplou o
diálogo referente aos gêneros discursivos atentando para forma e as especificidades de sua
escrita e organização. A categoria GD englobou um total de 12 trabalhos (Quadro 3).
Entendemos com Bakhtin (2010), que os gêneros discursivos se caracterizam como
enunciados estáveis que apresentam conteúdos temáticos, estilo próprio e também uma
construção composicional específica. A linguagem de um gênero discursivo é histórica e
concreta e, por isso, ocorre no âmbito de interações sociais de uma determinada esfera
social. O que caracteriza um gênero discursivo é o tema, a forma composicional e/ou as
marcas linguísticas.
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Em A
EQ(4)
Souza e Arroio (2010) chamam a atenção para o aprendizado da escrita
científica pelos estudantes. Atentam para as características específicas dessa linguagem
que, de um modo geral, consiste em: estrutura, impessoalidade, clareza-objetividade,
concisão e continuidade. Nessa direção, com atenção para aspectos da linguagem
científica, Oliveira, Porto e Queiroz (2010), em A
EQ(3),
relatam uma atividade avaliativa na
qual graduandos em química produziram textos no formato de artigos científicos. O
objetivo foi verificar se os estudantes conseguem, ao avaliar um texto, distinguir os
diversos elementos que caracterizam o discurso científico, revelando, assim, indícios de
apropriação desse discurso.
Barros et al (2012, p. 01), em A
EQ(7),
desenvolveram uma atividade de leitura de textos
científicos com o intuito de problematizar as características da linguagem científica. O
objetivo era “aprimorar a capacidade de leitura de textos dessa natureza por alunos de
graduação em Química.” A partir da problematização dessas características, os autores,
observaram “melhoras na apropriação da linguagem científica”, por parte dos estudantes.
Nessa direção, Garcia et al (2012), em A
EQ(8),
realizaram uma prática semelhante pois
visaram,
desenvolver a capacidade argumentativa escrita dos graduandos em química,
bem como compreender se e, em que medida, o contato com variados textos
científicos influencia a apropriação da linguagem científica, foi efetuada e
leitura de textos científico, os quais foram utilizados como modelo para a
produção dos relatórios. Os textos foram lidos e discutidos em sala de aula
no que diz respeito ao conteúdo, à forma e às características científicas do
texto (GARCIA et al, 2012, p.4).
Freitas e Quadros (2014) analisaram em A
EQ(16)
os níveis de apropriação da linguagem
científica por um grupo de estudantes ao explicar sobre um fenômeno químico trabalhado
em sala de aula. Elas partem da premissa de que,
aprender ciências implica aprender ou se apropriar da linguagem dessa
ciência. Para isso os estudantes precisam perceber a relação entre a
explicação que possuem para um determinado fenômeno com a explicação
científica e optar pela que lhes parecer mais adequada à explicação (FREITAS;
QUADROS, 2014, p.1).
Num outro viés de análise, ainda em relação ao uso correto dos termos científicos,
Medina et al (2010) alertam em A
EQ(1)
, para importância da análise e releitura de livros
didáticos para desfazer os equívocos cometidos em relação a determinados conceitos. Para
eles (2010, p. 3) “o emprego de palavras inadequadas é um obstáculo na aprendizagem de
certos conceitos químicos (átomo, íon, molécula) e fenômenos (químicos e físicos)”. Nessa
mesma direção, Batiston, Silva e Kiouranis (2012, p. 7) afirmam em A
EQ(6)
que “as
dificuldades que os estudantes têm na comunicação da linguagem química”, decorre da
simbologia e representação muito específica. Ou seja, aprender química requer
compreender a sua linguagem. Com isso, reiteramos a importância da atenção para as
especificidades da linguagem química em diferentes instâncias formativas, na formação
inicial para que o professor formador ajude o licenciando a tomar consciência das
especificidades da linguagem química com a preocupação de se tornar um intermediador
potencial da mesma em sala de aula, qualificando o processo de ensino e aprendizagem.
Considerando a relação do aprender química com a especificidade da sua linguagem,
as autoras Flôr e Cassiani (2012, p. 3) em A
EQ(9)
trazem uma reflexão teórica apresentando
um questionamento acerca de “qual química ensinar” e apontam que “a ciência utiliza uma
linguagem própria e diferenciada para escrever e descrever os fenômenos da natureza”. E
que para aprender e compreender tal linguagem é necessário estar iniciado na mesma, isso
implica a necessidade da atenção para os modos de ensino e de aprendizagem em sala de
ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 2, p. 98-115, mai./ago. 2018.
aula. Daí novamente o papel do professor, de perceber e auxiliar os estudantes junto à
compreensão da linguagem da química em sala de aula.
Numa outra abordagem, Andrade et al (2012) em A
EQ(5)
voltam sua atenção para a
evolução dos gêneros de discurso, do primário para o secundário. Sendo que o primário se
caracteriza por uma linguagem cotidiana, ou seja, a linguagem coloquial, utilizada em
diálogos informais, como, cartas, bilhetes e o dia a dia. Já o gênero de discurso secundário,
aparece em textos científicos, artísticos, sociopolíticos, diálogos formais complexos e, se
mostra como uma linguagem relativamente mais evoluída que a encontrada no gênero
primário. As autoras (2012) ressaltam que é função da escola transpor ou permear os
gêneros primários com os gêneros secundários, para que se possam formar cidadãos
capazes de expressar de forma coerente e argumentativa os seus pontos de vista. Para isso
defendem a obrigatoriedade da promoção de momentos de leitura nas diversificadas áreas
do conhecimento. Ou seja, por meio da leitura é possível conhecer e identificar diferentes
gêneros de discurso e se apropriar deles.
Júnior (2011) em A
EC(1)
voltou o olhar para a forma dos gêneros textuais produzidos
pelos estudantes, considerou tanto os aspectos estruturais e composicionais (ou a infra-
estrutura geral) dos textos escritos pelos licenciandos, como, os itens como extensão,
formato da produção e a tipologia textual destacando-os como sendo inerentes ao
processo de ensino. No artigo A
EC(2)
, Santos e Queiroz (2013) voltaram as discussões para
as especificidades da linguagem de um texto de divulgação científica (TDC) e de um texto
científico num artigo de pesquisa - e concluíram que,
a leitura do TDC permitiu, por exemplo, a possibilidade da criação de um
imaginário sobre a vida pessoal do protagonista. Textos que promovem uma
relação de proximidade com o leitor, a partir da inserção de informações
sobre a personalidade de cientistas e com linguagem menos formal, parecem
chamar mais a atenção dos licenciandos. As discussões sobre a leitura do
artigo de pesquisa possibilitaram posicionamentos relacionados com o
processo de produção da ciência, ilustrada a partir da literatura científica, e
também posicionamentos relacionados com a linguagem científica (SANTOS;
QUEIROZ, 2013, p. 7).
Em tal prática foi possível observar a preocupação com o uso de diferentes gêneros,
pois ambos apresentam particularidades que implicam em diferentes motivações e
aprendizados. Assim, na vivência do grupo de estudos optamos por fazer uso da leitura de
TDC a fim de qualificar o diálogo do licenciando com o texto, tendo em vista uma leitura
interativa. Quadros e Miranda (2009) em seu estudo A
RQ(1)
realizaram um fórum de
discussão entre estudantes de um Curso de Química Licenciatura à distância com o intuito
de analisar as leituras e a apropriação do conhecimento cientifico por parte dos
licenciandos. Na prática apresentada pelas autoras (2009) destaque para os modos de
socialização da leitura. Um olhar para como os licenciandos se apropriam das suas leituras
e de como as especificidades da linguagem química são apropriadas.
Reiteramos que esse movimento implica no saber ler, na necessidade de
compreender o que foi lido para assim, conseguir expressar, contar o que leu. Contempla
uma perspectiva de leitura que supera a simples repetição mecânica, ou a simples busca
de informação, mas uma leitura que implica em diferentes relações conceituais, uma vez
que, para falar sobre o que leu é preciso ter se apropriado do texto. E, esse movimento de
apropriação de acordo com Smolka (1992) consiste numa
esfera da atividade particular do indivíduo, ou do movimento de
aprendizagem em relação à realidade física e cultural: relacionados a um
conteúdo específico transmitido pelos outros; concernentes à atividade
prática partilhada; ou ainda dizendo respeito ao processo de (re)construção
interna e transformação das ações e operações; o que esses termos designam
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está relacionado à questão de como um indivíduo adquire, desenvolve e
participa das experiências culturais (SMOLKA, 1992, p. 328).
A categoria ID, que foi indiciada em 6 artigos (Quadro 3), foi caracterizada nos artigos
que tiveram como foco de discussão as interações discursivas nas práticas de leitura.
Compreendemos com Bakhtin (2002) de que as interações se dão a partir das situações
enunciativas constituídas por dois ou mais indivíduos socialmente organizados. Esta
dimensão social está presente em todas as esferas e manifestações da atividade humana
em relação ao outro, comportando o uso da língua, na dinâmica da responsividade das
relações dialógicas, que abrangem uma língua concreta, fundamentada na enunciação.
Tendo como referencial teórico a análise do discurso, Miranda, Mauro e Flôr (2012),
em A
EQ(11),
destacam a importância de o estudante apresentar um posicionamento crítico
frente a leitura. Eles afirmam que na sala de aula, “estas questões se tornam relevantes,
pois ali, as diversas formações discursivas, carregadas pelos estudantes, irão afetar os seus
dizeres e a sua produção de sentidos” (MIRANDA; MAURO; FLÔR, 2012, p.1) e que, a
“relação entre linguagem e educação científica permite tornar o estudante, além de ativo,
crítico nas suas decisões, mais apto a pensar sobre a sua própria formação e como torná-
la mais significativa” (MIRANDA; MAURO; FLOR, 2012, p. 7).
No artigo A
EQ(12)
, Miranda et al (2012, p. 2) caracterizam o leitor como construtor de
seu próprio histórico de leituras (baseado na sua vivência individual), com isso puderam
inferir que esse mesmo leitor “será responsável por produzir um, ou alguns, dos infinitos
possíveis sentidos que uma interação com textos diversos nos possibilita a produzir.” Ou
seja, a compreensão de um texto se pelas diferentes interações que são estabelecidas
com os conhecimentos que o leitor apresenta. Solé (1998, p. 23) destaca que no processo
de interação/ compreensão do texto “intervêm tanto o texto, sua forma e conteúdo, como
o leitor, suas expectativas e conhecimentos prévios”. Daí a importância da prática da leitura
ser orientada, dialogada em sala de aula. Pois a compreensão de um texto será diferente
para um professor de química do que para um estudante recém-iniciado em química.
É no diálogo da sala de aula a palavra do professor vai se tornando a palavra do aluno,
num movimento de apropriação, estabelecido pelas interações discursivas estabelecidas.
Nessa direção, os autores Reis e Lopes (2012) apresentam em A
EQ(13)
a interação discursiva
como modo de indiciar a aprendizagem, e consideram que
na sala de aula de ciências a cada palavra proferida pelo professor gera-se nos
estudantes, durante o processo de compreensão, uma série de palavras
outras que lhe são próprias formando uma réplica, e quanto mais essas forem
numerosas e consistentes, mais real será o processo de compreensão (REIS;
LOPES, 2012, p.4).
Tal compreensão está de acordo com a perspectiva Vigotskiana (2000) de que um
conceito apenas é compreendido na medida em que se relaciona com outros conceitos
com diferentes veis de generalidade. A fim de contribuir para o estabelecimento de
relações conceituais em sala de aula, por meio da prática da leitura é importante que o
professor atue como intermediador do processo. Júnior, Lima e Machado (2012), em A
EQ(10),
voltam sua atenção para a mediação da leitura de textos didáticos em sala de aula. Eles
evidenciam que:
[...] o estudo do texto didático de ciências requer do professor o
desenvolvimento de estratégias de mediação de leituras. O professor se torna
responsável, em sala de aula, por criar condições para que seus estudantes
ingressem nas práticas sociais de leitura como processos de atribuição de
sentidos (JÚNIOR; LIMA; MACHADO, 2012, p.3).
Tal posicionamento reforça novamente o papel do professor em sala de aula, de
conduzir e oportunizar espaços de diálogos. A leitura em sala de aula precisa ser orientada,
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mediada pelo professor, com isso fica evidenciado também a importância de estratégias
de práticas de leituras a serem elaboradas pelo professor. Apontamos a importância da
formação de professores que compreendam a leitura como constitutiva da prática de
ensino, como modo de aprendizagem e não como um simples instrumento de
decodificação ou de busca pronta de algum conhecimento, mas como potencial na
(re)significação conceitual por meio da leitura interativa. E para qualificar essa prática
interativa destacamos o aspecto que foi indiciado na categoria EL a qual englobou os
artigos que apresentaram estratégias de leitura em práticas de ensino e que foi evidenciada
em 8 artigos (Quadro 4).
A referida categoria aponta na direção de uma alfabetização ou enculturação
científica e apresentou instrumentos e estratégias pedagógicas utilizadas nas práticas de
leitura junto ao ensino de química. Visando a formação de um leitor crítico, Francisco Junior
(2010, p. 5), em A
EQ(2),
indica uma prática de leitura na qual o estudante identifica os
diversos aspectos do texto (autor, conteúdo, título, estilo, tipo de organização, etc.) num
movimento dinâmico a partir do qual compara outros textos sobre o assunto, engendrando
assim novas relações, associações, combinações.
Para isso relata uma atividade na qual os alunos realizaram a leitura de textos com o
foco na experimentação, cujo objetivo era “analisar quais reflexões os leitores são capazes
de engendrar após a leitura e após a socialização das ideias com a turma e com o professor
(FRANCISCO JUNIOR, 2010, p. 2). E para conseguir alcançar o objetivo foram empregadas
estratégias de escrita e de diálogos orais em sala de aula, para além da prática da leitura.
Os autores Santiago et al (2014) em A
EQ(18)
utilizaram a leitura de trechos de músicas
para descrever quimicamente como ocorre o processo da fotossíntese. Eles verificaram
que os alunos sentiram dificuldades em interpretar os trechos musicais à luz do
conhecimento científico, mas que essas dificuldades foram superadas através da
intervenção feita pelos pesquisadores. Tal aspecto apresenta uma aproximação com a
categoria ID referente à leitura mediada, da importância de conduzir a leitura, de dialogar
com os estudantes. Ainda indicam que “a música apresentou-se como uma ferramenta
capaz de atrelar o conhecimento artístico ao conhecimento científico, sendo capaz de
despertar o interesse do aluno em buscar compreender os fenômenos da natureza.”
(SANTIAGO et al. 2014, p.1).
Uchôa, Francisco Junior e Francisco (2012), em A
EQ(14)
, descreveram a elaboração e
posterior aplicação de uma história em quadrinhos (HQ) voltada ao tema radioatividade,
com o intuito de avaliar o modo de leitura dos estudantes, bem como o uso da HQ
enquanto proposta dinâmica e lúdica de aprendizado. Em tal prática os alunos realizaram
uma busca de informações sobre o acidente radioativo com o Césio 137 e em seguida,
elaboraram a sua HQ e a aplicaram no site www.bitstrips.com, Nas palavras dos autores
(2012, p. 2) “além de estimular o aluno à prática da leitura, os quadrinhos podem ser
também um meio para o desenvolvimento cognitivo, dando espaço a conhecimentos que
em sala de aula são enfadonhos e de difícil compreensão”. Isso demonstra uma
preocupação com a prática da leitura como modo de aprender. E ainda, por meio da
história em quadrinhos foi possível estimular a prática da leitura tornando-a mais próxima
e/ou atrativa para os estudantes. Isso indica o que diz So(1998) de que para tornar a
prática da leitura mais significativa o tipo de texto também influencia daí a importância de
ampliar os gêneros discursivos que são utilizados em sala de aula.
Nessa mesma direção, Gama e Francisco Junior (2014, p.1), em A
EQ(17),
afirmam que é
“necessário o uso de metodologias de leitura capazes de tornar o desenvolvimento
cognitivo do estudante mais eficaz.” Para isso eles propõem a elaboração e a leitura de
uma HQ, enfocando uma temática ambiental e de conceitos introdutórios de química para
um grupo de estudantes de Licenciatura em Química de uma Universidade Federal.
Considerando a perspectiva do uso de temáticas junto ao ensino de Química Guaita e
Gonçalves (2013) discutem em A
EC(3)
sobre as contribuições de uma estratégia de leitura
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baseada em temas sociais, ou seja, que tinham relação com o cotidiano dos estudantes. O
foco principal esteve voltado ao desenvolvimento e análise da estratégia de leitura
aplicada, sendo a mesma assim descrita,
o primeiro momento, cada aluno explicitava por escrito, motivado por
problematizações, seus conhecimentos acerca do assunto que seria
trabalhado. No segundo momento, solicitava-se que os alunos se reunissem
em grupos [...] para discutir e responder por escrito às questões relativas ao
texto a partir das leituras individuais (GUAITA; GONÇALVES, 2013, p.4).
No artigo A
RQ(2),
Francisco Junior (2010) aponta para as estratégias de leitura em sala
de aula tendo como aporte resultados construídos mediante uma revisão bibliográfica, e,
em seguida apresenta três práticas de leitura, uma realizada numa escola pública e as
outras numa Universidade Federal, as práticas utilizaram de elaboração de perguntas e
respostas por escrito após a leitura com o objetivo de identificar a apropriação do
conhecimento cientifico.
Numa outra prática de leitura apresentada em A
RQ(3)
, Francisco Junior e Garcia Júnior
(2010) propuseram a leitura individual, seguida da elaboração de respostas pelos
estudantes para perguntas previamente elaboradas, pelos autores. O objetivo consistiu
num levantamento quantitativo e qualitativo a respeito da apropriação do conhecimento
cientifico pelos estudantes com base na estratégia de leitura empregada, num movimento
que se aproxima da categoria AD.
Guaita e Gonçalves (2015) avaliam em A
RQ(4)
uma estratégia de leitura na qual foram
adotados os momentos pedagógicos de Freire (2005) tendo em vista a codificação-
problematização-descodificação:
num primeiro momento, cada educando explicitava por escrito, motivado por
problematizações, seus conhecimentos acerca do tema que seria trabalhado
ao longo do texto a ser lido na sequência [...] no segundo momento,
solicitava-se aos educandos que se reunissem em grupos a princípio, de 4 a
5 integrantes [...] A discussão nos pequenos grupos era conduzida por
questionamentos em que os educandos deveriam responder por escrito por
meio de uma negociação coletiva de opiniões acerca do que foi lido [...] Em
seguida, conduzia-se a discussão ao grande grupo para que a educadora
responsável [...] No terceiro momento, o educando era impelido
individualmente a fazer uma atividade por escrito que visava à sua leitura a
partir de análise de tabelas, informações nutricionais, entre outros (GUAITA;
GONÇALVES, 2015. p. 05).
Tal prática assim, como as demais, retratou o uso da escrita aliado à leitura, num
movimento de diálogo e de condução em sala de aula. Isso por sua vez, reforça a
importância das interações discursivas e da apropriação do Gênero Discursivo, da
linguagem científica em sala de aula. Assim as estratégias de leitura descritas nos textos
analisados vão ao encontro das demais categorias de análise, pois algumas buscaram mais
a apropriação do discurso científico e outras a motivação à leitura e a interação discursiva.
Por meio de diferentes práticas e metodologias de ensino como, pelo uso da elaboração
de perguntas, da elaboração de respostas, pela leitura de diferentes gêneros discursivos,
como HQ, a música. E ainda, pelo diálogo estabelecido sobre a leitura seja por meio da
escrita, da elaboração e/ou respostas a perguntas, de socializações dialogadas sobre a
leitura.
Barbosa e Hess (2010) destacam que é no processo de leitura e de releitura que o
aluno se faz como alguém que pensa e que significa o que faz. Nesse sentido, por meio da
revisão bibliográfica realizada, defendemos a inserção de espaços de leitura nos diferentes
níveis de ensino para que o estudante aprenda a ler, não no sentido de uma leitura apenas
informativa, mas que pela leitura ele consiga estabelecer um diálogo com o texto e
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apresentar um posicionamento crítico. Especialmente, ao considerarmos a leitura no
ensino da química, defendemos a mesma como um meio para que o aluno seja capaz de
compreender diferentes acontecimentos fazendo uso qualificado da linguagem química
apropriando-se da mesma.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse estudo serviu de base teórica, para o entendimento de como a prática de leitura
está sendo trabalhada em sala de aula, em especial, nas aulas de química. Foi possível
indiciar diferentes estratégias de leituras que, em sua maioria, apresentam a prática da
escrita e do diálogo como aliados. Ainda, chamamos atenção para o papel do professor, de
atuar como intermediador, com atenção especial para as interações estabelecidas em sala
de aula, uma vez que a linguagem química possui particularidades e características
específicas e essas, muitas vezes, tornam-na estranha e de difícil compreensão para quem
não é iniciado na área. Daí a necessidade de práticas de ensino que possibilitem aos
estudantes fazer uso da linguagem específica química em diferentes contextos por meio
de diferentes gêneros discursivos.
As três categorias analíticas emergentes giram em torno do entendimento da
importância da significação e da apropriação da linguagem científica/química em sala de
aula. E, de um modo geral, todos os artigos tiveram por objetivo trabalhar a linguagem
química visando torná-la mais compreensível aos estudantes, num processo sempre
mediado pelo professor a partir do uso de diferentes estratégias de ensino. Com isso
reiteramos a importância da ampliação dos modos de uso da leitura e sala de aula nos
diferentes níveis de ensino.
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The practice of reading in chemistry
teaching: modes and purposes of their use
in a classroom
ABSTRACT
The present paper contemplates a study about the practice of reading in chemistry
teaching. It is started from the presupposition that reading in chemistry teaching allows the
student a greater contact with the specific language of this science and thus qualifies their
learning. With the objective of visualize how this practice has been executed in the
chemistry teaching and to understand the purposes of its use, a bibliographic review was
carried out in the last years of the annals of the National Meeting of Teaching of Chemistry
and of the annals of National Meeting of Research in Education in Sciences. We also looked
at the publications of New Chemistry Magazine at School. It analysis the methodological
option consisted in discursive textual analysis with levels of elaboration emergent
categories: discursive genres, discursive interactions and reading strategies. The results
built the importance of reading practice in the process of learning Chemistry pointing it as
a way of providing appropriation and conceptual meaning in chemistry and the formation
of a more critical and participatory students.
KEYWORDS: Reading. Scientific Language. Discursive Interaction.
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NOTAS
1 Tal grupo vivencia a prática de leitura interativa de Textos de Divulgação Científica (TDC).
O grupo foi aprovado por meio de Edital Institucional e CNPQ teve início em setembro de
2016 participam atualmente 16 licenciandos e 4 professoras formadoras de um Curso de
Química Licenciatura da região Sul do País, os encontros de leitura são mensais.
2 Em um processo dialógico, a atitude responsiva pode ser externa, quando se escreve para
que as pessoas vejam as ideias do autor e possam apresentar uma compreensão e uma
resposta e, também, pode haver uma atitude responsiva interna, quando a pessoa
conversa consigo mesma sobre o texto que produziu. (BAKHTIN, 2003, p. 299).
AGRADECIMENTOS
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS) e a
professora orientadora que, além do fomento, sempre nos forneceu novas experiências, e
oportunidades como essa para estarmos aprendendo cada vez mais.
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Recebido: 20 fev. 2018
Aprovado: 13 jul. 2018
DOI: 10.3895/actio.v3n2.7497
Como citar:
WENZEL, J. S.; MARTINS, J. L. de C.; COLPO, C. C.; RIBEIRO, T. A. A prática da leitura no ensino de
química: modos e finalidades de seu uso em sala de aula. ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 2, p. 98-115, mai./ago.
2018. Disponível em: <https://periodicos.utfpr.edu.br/actio>. Acesso em: XXX
Correspondência:
Judite Scherer Wenzel
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Internacional.