ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 2, p. 255-275, mai./ago. 2018.
estudantes aos questionamentos em função de suas dificuldades de aprendizagem
pode comprometer os processos avaliativos, uma vez diante há poucas
informações sobre o que eles são capazes de produzir coletivamente. Com isso, as
práticas epistêmicas do professor podem ser cada vez mais centralizadas na
expectativa da resposta dos estudantes, ainda que elas não aconteçam, sejam
inadequadas ou insuficientes. Desta forma, aliar as instâncias sociais às práticas
epistêmicas representa um ganho quanto à análise do que ocorre em sala de aula
e como a turma produz o conhecimento sobre a Ciência.
Silva (2015) ao aliar estes dois tipos de categorias considera que podemos
detalhar o trabalho e a ação em sala de aula, analisando a forma como essas ações
(as práticas epistêmicas) e a intervenção por parte do professor para com os alunos
favorece a aprendizagem. Rodrigues e Silva (2001, p. 44) destacam que as
instâncias sociais são formas de “compreensão das dinâmicas propiciadas pelas
atividades investigativas e das formas de participação dos estudantes e,
consequentemente, nos tipos e nos níveis de aprendizagem”. O autor também
acrescenta que são formas de investigar o domínio de práticas científicas
relacionadas à natureza das Ciências, o que não deixa de ser uma reflexão sobre a
epistemologia associada à educação científica (ibidem, p.46).
As práticas epistêmicas podem ser identificadas como formas de
detalhamento das instâncias sociais, que estão vinculadas à sua produção e
representação dos dados, a persuasão e justificação e a legitimação do de um
ponto de vista particular do conhecimento numa determinada comunidade
(RODRIGUES; SILVA, 2008).
A aproximação entre as instâncias sociais e as práticas epistêmicas é
amplamente explorada na literatura (KELLY, 2008; SILVA, 2008; SILVA, 2015;
JIMÈNEZ-ALEIXANDRE et al., 2008; KELLY; DUSCHL, 2002). Tais associações
representam reflexões epistemológicas acerca da Ciência e as operações
características da produção de conhecimento científico, o que também pode ser
analisado por meio das estruturas discursivas na sala de aula, nos quais os
envolvidos realizam práticas sociais visando à aprendizagem em Ciências. Desta
forma, “Entende-se que tal percepção ilumina a orientação e análise das práticas
e compromissos epistemológicos envolvidos nas investigações escolares” (SILVA,
2008, p.50). Trata-se, portanto, da “epistemologia prática” (LIDAR; LUNDQVIST;
ÖSTMAN, 2005) ou de “práticas de contextualização” JIMÈNEZ-ALEIXANDRE et al.,
2008), nos quais interessa problematizar como os estudantes aprendem mediante
as estratégias de suporte do professor, que:
(...) dá as direções para os estudantes sobre o que conta como conhecimento
relevante e as apropriadas formas de adquiri-lo. Nesse sentido, o foco das
atenções recai também sobre o discurso do professor, considerando-se que
este, em interação com os estudantes, apresenta várias ações práticas ou
conversacionais que podem ser pensadas, de acordo com as suas funções,
como epistemológicas (SILVA, 2008, p. 53).
Estes movimentos ou práticas epistêmicas apresentam características
próprias, a depender das circunstâncias e do contexto de realização das atividades
escolares. Elas incluem as estratégias para a assistência, orientação e suporte
oferecidos pelo professor na condução de seu planejamento e diante do que os
estudantes são capazes de produzir, comunicar e avaliar. A seguir exploramos as
aproximações entre as categoriais consideradas para balizar a investigação.