ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 2, p. 18-38, mai./ago. 2018.
dos indivíduos requer compreender essa inter-relação, pois a linguagem é mais do
que a expressão do pensamento, é por meio dela que ele é formado.
Assim como no reino animal, nos seres humanos “o pensamento e a palavra
não são ligados por um elo primário” (VIGOTSKI 2008, p.149), ou seja, pensamento
e fala têm raízes distintas e suas trajetórias de desenvolvimento não são paralelas.
Assim, no decorrer da evolução humana, em certo ponto da trajetória de
desenvolvimento, pensamento e fala se encontram, surgindo o pensamento verbal
e a fala racional ou intelectual.
Ao propor a expressão dos conhecimentos pela escrita, é preciso considerar
que a palavra na fala interior é uma função por si própria e está repleta de sentido,
o que torna a sua expressão na fala exterior um ato complexo. Para Vigotski, na
fala interior “uma única palavra está tão saturada de sentido, que seriam
necessárias muitas palavras para explicá-las na fala exterior” (VIGOTSKI, 2008, p.
183), ou seja, essa transição, da fala interior para a exterior, não é um simples
processo de tradução entre as linguagens, mas exige a criação de suportes
expressivos e situacionais.
A escrita exige que a atividade da fala assuma formas complexas, pois estão
ausentes os suportes situacionais e expressivos do diálogo face a face, gerando a
necessidade dos rascunhos que refletem o processo mental. Segundo Vigotski,
O planejamento tem um papel importante na escrita, mesmo quando não
fazemos um verdadeiro rascunho. Em geral, dizemos a nós mesmos o que
vamos escrever, o que já constitui um rascunho, embora apenas em
pensamento. [...] esse rascunho mental é uma fala interior (VIGOTSKI, 2008,
p.179/180).
O incentivo à escrita como meio de produção de conhecimentos nas aulas de
física pode ser importante no estímulo e desenvolvimento desse processo mental
de elaboração de rascunhos, por meio do qual o pensamento se torna mais
concreto. A escrita como uma atividade intelectual pode viabilizar não só ao
professor certo acompanhamento da aprendizagem, por a escrita ser uma forma
de expressão, mas principalmente possibilita ao aluno tornar-se mais consciente
sobre o seu ato de pensamento, pela estruturação das suas ideias e de conceitos.
É importante considerar que “o pensamento não é simplesmente expresso por
palavras; é por meio delas que ele passa a existir” (VIGOTSKI, 2008, p.157).
O processo de leitura de textos escritos também não é simples, pois esses
podem adquirir vários sentidos dependendo de quem os produz ou os interpreta.
“Assim como uma frase pode expressar vários pensamentos, um pensamento
pode ser expresso por meio de várias frases” (VIGOTSKI, 2008, p.186), isso porque
a escrita é um processo dinâmico e as palavras assumem sentidos a partir da
interação do leitor com o texto.
Ao usar a leitura e a escrita no ensino de física é preciso refletir sobre os
diferentes sentidos que atividades que envolvem esses processos podem
proporcionar aos estudantes.
Nascimento (2013), pautado na teoria de Vigotski, afirma que “escrever e ler,
cada um a seu modo, mobiliza a percepção dos sujeitos autores e leitores” (p. 450),
pois o domínio e uso dessas práticas proporcionam uma reorganização do
pensamento. Nesse sentido, a leitura e a escrita nas aulas de física podem ser