ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 268-285, jan./abr. 2018.
modo destinam-se diretamente a todo e qualquer leitor que esteja em
condições de os ler. (GADAMER, 2015, p. 504)
E complementa que a essência da tradição de linguagem está na escrita e que
esta possui significado hermenêutico (GADAMER, 2015).
O ensinamento de Aristóteles de que “o homem é o ser vivo dotado de logos”
foi preservado no Ocidente com o significado de que o homem é o animal racional,
ou seja, dotado de racionalidade, vinculando logos à razão, ao pensamento
(ROHDEN, 2002). Rohden argumenta, ao trazer elementos do próprio Aristóteles,
que logos significa também linguagem, lição que Gadamer aprendeu com
Heidegger. Gadamer ampliou sua concepção de linguagem desde Verdade e
Método I, em que vinculava linguagem ao “ser o texto”, compreendendo a
linguagem como aquela que se realiza no diálogo, seja no gestual, seja nos
costumes, seja no silêncio, seja na busca de expressão acerca do mundo (ROHDEN,
2002).
Para este texto, tentamos delinear aspectos da tradição de linguagem na
Educação Química no plano dialógico-textual, conscientes da possibilidade de
emergência de outras tradições de linguagem ao longo desta tentativa. Desse
modo, valorizamos a tradição de linguagem escrita por concordarmos com
Gadamer que:
A tradição escrita não é apenas uma parte de um mundo passado, mas já
sempre se elevou acima deste, na esfera do sentido que ela enuncia. Trata-se
da idealidade da palavra que todo elemento de linguagem eleva acima da
determinação finita e efêmera, própria aos restos de existências passadas. O
portador da tradição não é este manuscrito como uma parte do passado, mas
a continuidade da memória. Através dela, a tradição se converte numa parte
do próprio mundo e, assim, o que ela nos comunica pode chegar
imediatamente à linguagem. Onde uma tradição escrita chega a nós, não só
conhecemos algo individual, mas se faz presente em nossa pessoa uma
humanidade passada em sua relação universal. (GADAMER, 2015, p. 505)
As interpretações de uma tradição escrita, já constituem uma elevação acima
dela, como modo de aprender sobre ela, sobre nós mesmos e, assim, sobre o
próprio mundo, numa reinterpretação que já é mudança dessa tradição, nossa e
também do mundo. Compreendemos que é por isso que Rohden (2002, p. 231) diz
que “ler compreensivamente um texto não é uma atividade arqueológica, nem
teleológica asséptica, mas significa tomar parte dele”.
Um dos críticos do conceito de tradição de Gadamer é Jürgen Habermas, que
entende que ao buscar compreender, na hermenêutica filosófica, a partir de
preconceitos herdados de uma tradição não é possível superá-los por uma reflexão
condicionada por esta mesma tradição. Neste modo de reflexão, apenas se
conserva e se dá visibilidade a uma precompreensão histórica consciente. Já
Günter Figal entendia que na hermenêutica de Gadamer apenas se confirma a
continuidade da tradição que nos molda e que uma busca de compreensão é
transitória, pois a tradição continua a ser efetiva (LEIVISKÄ, 2015).
Gadamer não traça uma definição do conceito de tradição, mas, a partir dele,
Leiviskä (2015) distingue dois significados diferentes. O primeiro é tradição como
estrutura ontológica que se refere a todo o processo de tradição, um contínuo das
influências históricas. Vincula-se à noção Gadameriana de história efeitual, em que