ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 3, p. 292-316, set./dez. 2018.
Foucault, contemporâneo a Barthes, em seu discurso de 1969, intitulado “O
que é um autor”, argumenta que a autoria não estava ligada a um único indivíduo.
Para ele a autoria seria mais relacionada à circulação dos discursos. No seu ponto
de vista, a autoria desempenha um papel importante na circulação de discursos na
sociedade, como algo fluido, defendendo assim que “o autor não morreu”,
referindo-se à autoria como um processo vivo e em transformação. Assim Foucault
criou o conceito de função autor: “A função autor é, assim, característica do modo
de existência, de circulação e de funcionamento de alguns discursos no interior de
uma sociedade” (FOUCAULT, 2001, p.46).
Percebemos que embora Barthes e Foucault critiquem a concepção de autor
como gênio criador, existem diferenças nas suas propostas. De acordo com Alves
(2016, p.3), quando Barthes decreta a “morte do autor”, ele está tratando do fim
de uma espécie de instituição. Já Foucault, ainda de acordo com Alves, chega à
questão da autoria por outra via e se volta não exatamente sobre a figura do autor
literário, mas sobre o enunciador de um discurso. Ou seja, é uma questão que
versa sobre as condições de possibilidade de certos discursos constituídos em uma
dada época e por certa cultura “O autor aparece assim como uma especificação
possível da função sujeito, que exerce um papel também específico de controle e
delimitação do discurso” (ALVES, 2016, p. 13).
Já Bakhtin (2003, p. 316) sugere que ver e compreender o autor de uma obra
significa ver e compreender outra consciência, a consciência do outro e seu
mundo, isto é, outro sujeito. Dá-nos subsídio para compreender o autor como um
ser coletivo e por sua vez social, que possui inúmeras influências do mundo a sua
volta, bem como de todas as suas experiências intelectuais e cognitivas.
Para Bakhtin, o sujeito é uma autoconsciência que se constitui reflexivamente
pelo reconhecimento do outro no discurso, isto é, um sujeito que somente
tem existência quando contemplado na intersubjetividade, pois é ela que
permite contemplar a subjetividade o auto-reconhecimento do sujeito pelo
reconhecimento do outro. Desse modo, a alteridade condição do que é outro,
do que é distinto decorre do princípio de que é no reconhecimento do outro
que os indivíduos se constituem como sujeito. (CAVALHEIRO, 2008, p. 79).
Para Faraco (2013), Bakhtin afirmava que o autor-criador é quem dá forma ao
conteúdo: ele não apenas registra passivamente os eventos da vida (ele não é um
estenógrafo desses eventos), mas, a partir de uma certa posição axiológica,
recorta-os e reorganiza-os esteticamente (FARACO, 2013, p. 39). Ou seja, além de
não ser passivo aos acontecimentos, o autor-criador determina a relevância do
assunto que decide escrever, dando destaque aos que estão intimamente
relacionados com suas noções de ética e estética.
Os processos de escrita na web contemporânea, embora algumas vezes se
processem como cópia irrefletida, muitas vezes podem assumir indícios de uma
autoria ativa, ligada às transformações sociais, tecnológicas e a construção de
indivíduos socialmente críticos e reflexivos. Esta forma de escrever na web emerge
de muitos internautas, com base em processos criativos que transformam as
inúmeras informações que se tem na rede em conhecimento, transformando-os
conforme seus atos de criação.
Transcorrido o tempo, com as mudanças da sociedade contemporânea, no
que diz respeito às questões relacionadas às tecnologias de informação e