ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 131-147, jan./abr. 2018.
INTRODUÇÃO
Muitas pessoas apresentam representações a respeito de ciência e de
cientistas que podem ser consideradas simplistas, pois apresentam carências em
certos aspectos. No que diz respeito aos cientistas, segundo a literatura, eles são
descritos geralmente como sendo do gênero masculino, louco, que usam jaleco,
que trabalham sozinhos em um laboratório com objetivo de realizar novas
descobertas, além de possuir um vasto conhecimento (REIS; RODRIGUES; SANTOS,
2006). No que se refere a ciência, ela é vista como um conhecimento de caráter
absoluto, verdadeiro e estático, sem ser considerada a natureza da dúvida, da
metodologia científica e suas falhas decorrentes nas pesquisas, sendo ambas as
representações estereotipadas (KOSMINSKY; GIORDAN, 2002).
As representações estereotipadas
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que as pessoas apresentam em relação a
ciência e aos cientistas podem ser influenciadas, muitas vezes, pelo pensamento
científico, cultura que prezam e também pela mídia, sendo esta última o principal
agente não formal para a educação científica. Por exemplo, televisão, jornais e
internet distorcem as representações de ciência, de cientista e de suas atividades,
causando impressões equivocadas de ambos (REIS; GALVÃO, 2006).
A escola é outro meio que pode influenciar para melhorar as representações
simplistas que grande parte da sociedade possui sobre ciência e sobre cientistas,
pois é ali que o estudante tem o primeiro contato com o conhecimento científico,
sendo essa a base para o pensamento dos estudantes em relação a ciência. Além
disso, Kosminsky (2002) afirma que a imagem que professor possui e socializa com
os estudantes também pode influenciar suas representações. Por isso, em sala de
aula, o professor precisa agir de forma cautelosa, para que os estudantes possam
formular representações adequadas e corretas em relação a ciência e em relação
a cientistas, e, consequentemente, para melhorar o ensino desenvolvido.
Acontece, porém, que muitos professores não atentam para a importância de se
trabalhar essas representações na disciplina de Ciências. O que eles, muitas vezes,
relatam é que essa falta de apreço pelo assunto ocorre devido à falta de tempo e
pela quantidade de conteúdos do programa, mostrando “[...] uma concepção de
ciência estática e acabada” (MELO; ROTTA, 2010, s/p) aos estudantes.
De acordo com Silva e Scalfi (2014), as representações estereotipadas podem
influenciar o pensamento dos estudantes (crianças), em relação ao:
[...] julgamento e comportamento em relação à ciência, uma percepção que
pode prevalecer durante a adolescência e na idade adulta. Dessa forma, é
importante detectar e buscar compreender os estereótipos negativos que
podem interferir no interesse dos alunos pela ciência, bem como, por
carreiras científicas (SILVA; SCALFI, 2014, p. 4-5).
Em geral, as representações estereotipadas que as crianças apresentam
podem persistir até a fase adulta. São geralmente representações decorrentes da
mídia, principalmente de desenhos animados. Por isso é necessário que haja um
diálogo com os estudantes a fim de verificar quais são as representações que eles
fazem a respeito de ciência e cientistas, para que se possa, de modo gradual, fazer
com que representações errôneas/estereotipadas se tornem representações
aceitáveis.