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ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 131-131, jan./abr. 2018.
http://periodicos.utfpr.edu.br/actio
Representações de ciência e de cientistas de
crianças participantes de Iniciação Científica
Júnior (CNPq/CAPES)
RESUMO
Caroline Fortuna
carolinefortunacf@gmail.com
orcid.org/0000-0003-3666-7870
Universidade Estadual do Oeste do
Paraná (UNIOESTE), Toledo, Paraná,
Brasil
Letícia Manica Grando
letycynhay@hotmail.com
orcid.orq/0000-0002-0910-1786
Universidade Estadual do Oeste do
Paraná (UNIOESTE), Cascavel, Paraná,
Brasil
Rosana Franzen Leite
rosana.leite@unioeste.br
orcid.orq/0000-0002-0471-337X
Universidade Estadual do Oeste do
Paraná (UNIOESTE), Toledo, Paraná,
Brasil
O presente trabalho tem o intuito apresentar a análise das representações referentes a
ciência e cientista de crianças integrantes de um projeto de Iniciação Cientifica Júnior. Os
instrumentos utilizados para a coleta de dados foram questionários e desenhos, onde as
análises deste estudo foram realizadas a partir da Análise de Conteúdo de Laurence Bardin.
Com os resultados foi observado que os três estudantes envolvidos na pesquisa possuem
algumas representações estereotipadas tanto em relação ao saber identificado como
ciência quanto em relação ao perfil de cientista. Espera-se, com o estudo, que os
professores reflitam sobre as informações e as atividades que propõem aos estudantes nas
aulas de Ciências, sendo de grande importância o conhecimento prévio dos estudantes
sobre essas representações. Além disso, os professores devem considerar a Iniciação
Cientifica Júnior fundamental para que os estudantes possam expressar e ampliar as suas
representações em relação a ciência e a cientista, sendo necessário que o contexto escolar
modifique as formas de abordar os assuntos relacionados a ciência e a cientistas.
PALAVRAS-CHAVE:
Representações. Iniciação Científica Júnior. Ensino de Ciências
ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 131-147, jan./abr. 2018.
INTRODUÇÃO
Muitas pessoas apresentam representações a respeito de ciência e de
cientistas que podem ser consideradas simplistas, pois apresentam carências em
certos aspectos. No que diz respeito aos cientistas, segundo a literatura, eles são
descritos geralmente como sendo do gênero masculino, louco, que usam jaleco,
que trabalham sozinhos em um laboratório com objetivo de realizar novas
descobertas, além de possuir um vasto conhecimento (REIS; RODRIGUES; SANTOS,
2006). No que se refere a ciência, ela é vista como um conhecimento de caráter
absoluto, verdadeiro e estático, sem ser considerada a natureza da dúvida, da
metodologia científica e suas falhas decorrentes nas pesquisas, sendo ambas as
representações estereotipadas (KOSMINSKY; GIORDAN, 2002).
As representações estereotipadas
1
que as pessoas apresentam em relação a
ciência e aos cientistas podem ser influenciadas, muitas vezes, pelo pensamento
científico, cultura que prezam e também pela mídia, sendo esta última o principal
agente não formal para a educação científica. Por exemplo, televisão, jornais e
internet distorcem as representações de ciência, de cientista e de suas atividades,
causando impressões equivocadas de ambos (REIS; GALVÃO, 2006).
A escola é outro meio que pode influenciar para melhorar as representações
simplistas que grande parte da sociedade possui sobre ciência e sobre cientistas,
pois é ali que o estudante tem o primeiro contato com o conhecimento científico,
sendo essa a base para o pensamento dos estudantes em relação a ciência. Além
disso, Kosminsky (2002) afirma que a imagem que professor possui e socializa com
os estudantes também pode influenciar suas representações. Por isso, em sala de
aula, o professor precisa agir de forma cautelosa, para que os estudantes possam
formular representações adequadas e corretas em relação a ciência e em relação
a cientistas, e, consequentemente, para melhorar o ensino desenvolvido.
Acontece, porém, que muitos professores não atentam para a importância de se
trabalhar essas representações na disciplina de Ciências. O que eles, muitas vezes,
relatam é que essa falta de apreço pelo assunto ocorre devido à falta de tempo e
pela quantidade de conteúdos do programa, mostrando “[...] uma concepção de
ciência estática e acabada” (MELO; ROTTA, 2010, s/p) aos estudantes.
De acordo com Silva e Scalfi (2014), as representações estereotipadas podem
influenciar o pensamento dos estudantes (crianças), em relação ao:
[...] julgamento e comportamento em relação à ciência, uma percepção que
pode prevalecer durante a adolescência e na idade adulta. Dessa forma, é
importante detectar e buscar compreender os estereótipos negativos que
podem interferir no interesse dos alunos pela ciência, bem como, por
carreiras científicas (SILVA; SCALFI, 2014, p. 4-5).
Em geral, as representações estereotipadas que as crianças apresentam
podem persistir até a fase adulta. São geralmente representações decorrentes da
mídia, principalmente de desenhos animados. Por isso é necessário que haja um
diálogo com os estudantes a fim de verificar quais são as representações que eles
fazem a respeito de ciência e cientistas, para que se possa, de modo gradual, fazer
com que representações errôneas/estereotipadas se tornem representações
aceitáveis.
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No trabalho Stereotypic Images of the Scientist: The Draw-A-Scientist Test2,
realizado por Chambers (1983), foram verificadas representações estereotipadas
em relação aos cientistas. Esse trabalho foi realizado com estudantes de 5 a 11
anos de idade. Chambers realizou o teste DAST (Draw a Scientist Test), em que faz
a análise de desenhos e de descrições de estudantes em relação aos cientistas. O
mesmo autor identifica que as representações dos alunos apresentam os seguintes
elementos:
(1) Jaleco (usualmente, mas não necessariamente branco).
(2) Óculos
(3) O crescimento facial do cabelo (incluindo barbas, bigodes, ou costeletas
anormais).
(4) Símbolos de pesquisa: instrumentos científicos e equipamentos de
laboratório de qualquer tipo.
(5) Símbolos de conhecimento: principalmente livros e armários.
(6) Tecnologia: os “produtos” da ciência.
(7) Legendas relevantes: fórmulas, classificação taxonômica, a ndrome do
“eureka”!, etc. (CHAMBERS, 1983, p. 258, tradução nossa).
Para utilizar o teste DAST conforme Maoldomhnaigh e Hunt (1988, apud
SILVA; SCALFI, 2014), também é importante verificar as representações que os
estudantes apresentam sobre os cientistas, se estas são ou não simplistas. Esse
tipo de análise pode ser determinado por meio de escritas e entrevistas.
Reis, Rodrigues e Santos (2006) também citam representações errôneas que
muitos estudantes possuem em relação aos cientistas, podendo ser,
1. A imagem caricaturada do cientista descrevendo o cientista como um
homem de idade, careca (por vezes, algo louco ou excêntrico) que usa óculos
e bata branca, trabalha sozinho e faz experiências perigosas (de resultados
completamente imprevisíveis) num laboratório ou numa cave, com o objetivo
de fazer descobertas.
2. O cientista como vivisseccionista representando o cientista como uma
pessoa disposta a infligir sofrimento em animais inocentes através da
realização de experiências com resultados imprevisíveis.
3. O cientista como pessoa que sabe tudo descrevendo o cientista como
uma pessoa com imensos conhecimentos e que, como tal, conhece
antecipadamente os resultados das experiências.
4- O cientista como tecnólogo concebendo o cientista como um inventor de
artefatos (e não de conhecimentos) destinados a auxiliar a população.
5. O professor como cientista vendo os seus professores como cientistas
com imensos conhecimentos que, pelo facto de terem realizado as
“experiências”, já conhecem as “respostas certas”.
6. Os alunos como cientistas considerando que os alunos também podem
ser cientistas e recorrendo à sua experiência pessoal nas aulas para
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descreverem a atividade científica como a realização de experiências que
nem sempre “funcionam”.
7. O cientista como empresário descrevendo o cientista como uma pessoa
que, motivada pelo lucro, procura novos conhecimentos e produtos de forma
competitiva e desleal (REIS; RODRIGUES; SANTOS, 2006, p. 53-54).
Ainda em relação as representações errôneas que estudantes apresentam
referente aos cientistas, Mead e Metraux (1957 apud REIS; RODRIGUES; SANTOS,
2006), relatam que, para que ocorra a devida correção”, é necessário que a mídia
participe de modo a enfatizar:
[...] mais o lado real e humano da ciência, mostrando os cientistas a trabalhar
em grupos, a partilhar problemas e não como máquinas que trabalham de
forma isolada e solitária. Sugerem ainda que imagens de cientistas de
diferentes idades, sexos, nações, a trabalhar juntos, poderiam funcionar
como um elemento preponderante na transformação de concepções
negativas sobre a ciência (REIS; RODRIGUES; SANTOS, 2006, p. 55-56).
Segundo Sanmartí (2002), muitas pessoas apresentam representações de
ciência formadas, sendo representações consideradas simplistas, pois, mesmo
após estas receberem informações aceitáveis, continuam a manter suas
representações antigas. Para a autora,
[...] é importante que os professores tenham um conhecimento dos diversos
pontos de vista atuais e, em função deles, reconheçam a complexidade do
suporte [de] que os estudantes necessitam para poder aprender ciência
(SANMARTÍ, 2002, p. 33, tradução nossa).
Ainda para a mesma autora, nas escolas também há equívocos, pois os
professores precisam mostrar representações aceitáveis de ciência para os
estudantes e não distorcidas, contudo muitos estudantes ainda persistem com
representações estereotipadas em relação a ciência. Quanto a isso, Sanmar
(2002) afirma:
As Ciências, especialmente a Física e a Química, são um conhecimento muito
difícil, está ao alcance somente dos mais capacitados da turma.
O que disser um texto de um livro (e o que o professor disser) é uma verdade
indiscutível, que você deve saber repetir tal qual.
As ciências são um conjunto de rmulas, equações e termos que não têm
nada a ver com a vida cotidiana. Servem somente para aquelas pessoas que
desejam continuar estudando Ciências.
A “experimentação” e a “teoria” são duas atividades totalmente
diferenciadas. O que se observa é real, confiável e nos diz como se sucedem
os fenômenos. O que se pensa, em troca, são “coisas” inventadas pelos
cientistas que é necessário conhecer para entrar em seu mundo (e para
aprovar), mas isso não tem muita relação com os fatos observados.
A ciência está formada por um conjunto de compartimentos pouco
relacionados entre si: Física, Química, Biologia e Geologia, e, por sua vez:
mecânica, óptica, teoria atômica, química orgânica, genética, botânica,
petrografia... (SANMARTÍ, 2002, p. 39, tradução nossa).
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Visto que professores e estudantes podem apresentar representações mais
ou menos mistificadas, tanto em relação a ciência quanto aos cientistas, os
projetos de Iniciação Científica (de todas as modalidades, incluindo a Iniciação
Científica Júnior) visam aproximar os estudantes do conhecimento científico, bem
como promover a alteração de representações iniciais apresentadas pelos
estudantes.
As representações individuais são formadas com o objetivo de identificar e de
resolver os problemas que a sociedade nos apresenta, na tentativa de explicar a si
mesmo o significado de conceitos e de situações, ou seja, as chamadas
Representações Sociais (RS) têm como objetivo “[...] tornar familiar algo não-
familiar, ou a própria não-familiaridade(MOSCOVICI, 2003, p. 54). Para Jodelet
(2001),
[...] Igualmente designada como saber de senso comum ou ainda saber
ingênuo, natural, esta forma de conhecimento é diferenciada, entre outras,
do conhecimento científico. Entretanto, é tida como um objeto de estudo tão
legítimo quanto este devido a sua importância na vida social e à elucidação
possibilitadora dos processos cognitivos e das interações sociais. (JODELET,
2001, p. 22).
Essas representações são resultado de interações sociais e são importantes na
vida das pessoas, pois elas denominam os diferentes aspectos da realidade,
fazendo-as interpretar, tomar decisões e situar-se em relação a estes aspectos
(JODELET, 2001).
O presente trabalho tem o intuído de explorar as representações de ciência e
de cientista que participantes do projeto de Iniciação Cientifica Júnior ICJ
CNPq/CAPES apresentam. Trata-se de uma das etapas de uma pesquisa maior de
uma das autoras desse estudo, na qual investigou a transição progressiva das
ideias dos estudantes, ao longo de todo o projeto de ICJ.
METODOLOGIA
Este trabalho foi desenvolvido a partir da abertura do Edital de Chamada
MCTI/CNPQ/SECIS/CAPES 44/2014 Feiras de Ciências e Mostras Científicas,
em que órgãos competentes como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico disponibilizavam, aos coordenadores do projeto, verbas para a
realização de uma Feira de Ciências. Em forma de premiação, os vencedores da
Feira de Ciências teriam a oportunidade de receber uma bolsa de estudos
mediante participação em projeto que deveria ser desenvolvido sob a orientação
do coordenador da feira no período letivo de 2016.
Os vencedores do prêmio foram 03 estudantes do Ensino Fundamental II
3
e
cursavam o ano. O projeto desenvolvido no âmbito da Iniciação Científica Júnior
consistia em análises da quantidade de glúten existente em diferentes cereais. O
grupo era formado por 02 do gênero masculino e 01 do gênero feminino. As
atividades foram desenvolvidas no Núcleo de Ensino de Ciências de Toledo
(NECTO), espaço pertencente à Universidade Estadual do Oeste do Paraná
(Unioeste), no município de Toledo/PR.
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Essa abordagem possui caráter qualitativo, que [...] não se preocupa com
representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão
de um grupo social, de uma organização, etc. [...]” (SILVEIRA; CÓRDOVA, 2009, p.
31).
As atividades foram desenvolvidas em três etapas, porém, como mencionado,
abordaremos, neste trabalho, somente a primeira etapa. Os instrumentos de
coleta de dados utilizados para esta etapa foram produções de desenhos e
respostas a questionários.
Propusemos um questionário (Q1) contendo quatro questões abertas para
que os estudantes descrevessem o que é um cientista, o que um cientista faz (que
características um cientista possui), o que é ciência e onde acham que a ciência
está presente. Já na produção de um desenho sobre cientista (D1), aos estudantes
foi solicitado que desenhassem um cientista da maneira como eles o imaginavam.
Todos os dados obtidos no decorrer do projeto de Iniciação Científica Júnior
foram transcritos e anotados em um diário de campo. Os dados foram analisados
por meio dos pressupostos teóricos e metodológicos da Análise de Conteúdo de
Bardin (1977), metodologia em que é preciso realizar regras de fragmentação do
texto para que haja uma compreensão efetiva e por etapas, sendo: a pré-análise,
exploração do material e tratamento dos resultados.
Para codificar as respostas dos estudantes, utilizamos a sigla “E” para a
codificação do estudante, em sequência o numeral de chamada (ordem
alfabética). Utilizamos essa sigla no momento de intervenção em que o estudante
respondeu.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Por meio da análise de conteúdo de Bardin (1977), pudemos identificar as
representações que os estudantes apresentavam no início do projeto referentes à
ciência e ao cientista. Com base nos instrumentos de análise de Reis, Rodrigues e
Santos (2006) e de Chambers (1983), pudemos averiguar se os estudantes
apresentavam representações estereotipadas em relação aos cientistas e à ciência,
assim como outras representações que emergissem dos dados. A apresentação e
a análise das respostas e dos desenhos de cada estudante foram feitas de forma
individual.
REPRESENTAÇÕES SOBRE CIENTISTA DO ESTUDANTE E1
“É uma pessoa, que estuda para descobrir coisas novas. Ex: Descoberta da
cura de alguma doença, distância dos astros.” E1Q1
“Inteligente, usa jaleco, pesquisa muito, fica dias acordados tentando fazer
tal coisa, inventa coisas novas e repassa para outras pessoas.” E1Q1
O estudante E1 refere que um cientista seja um descobridor de doenças, ou
seja, destinado a auxiliar a população, um ser inteligente, que faz o uso de jaleco,
e que dedica seu tempo estudando, pesquisando, inventando diferentes produtos
e/ou conhecimentos para os repassar a outras pessoas. Podemos identificar que
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essas representações remetem a um modelo sobre os cientistas que foi criado pela
sociedade, mesmo sendo uma representação errônea.
Além disso, o estudante E1 trata o cientista como sendo um inventor,
descobridor da cura de doenças, ou seja, uma representação errônea de acordo
com os instrumentos de análise de Reis, Rodrigues e Santos (2006), pois esse
estudante pensa que, para ser cientista, é preciso possuir características como ser
“[...] um inventor de artefactos (e não de conhecimentos) destinados a auxiliar a
população” (2006, p. 54).
No momento da produção de um desenho sobre um cientista, o estudante E1
teve sua resposta estritamente estereotipada (Figura 1).
Figura 1 - Produção do desenho sobre cientista - E1D1
Fonte: Autoria própria (2017).
Na Figura 1 podemos perceber que o estudante retrata um cientista como
sendo um homem com jaleco aberto de manga curta, óculos de grau, cabelo
arrepiado, de pele clara e com uma expressão apreensiva no rosto. Essa
representação do estudante remete a representações corriqueiras, comuns na
sociedade, de como a população os cientistas. São também representações que
Chambers (1983) e Reis, Rodrigues e Santos (2006) consideram como errôneas do
ponto de vista científico.
Ainda em relação à Figura 1, é possível verificar que o estudante E1 também
representa o cientista em um laboratório (onde seria seu local trabalho), um
computador, que pode ser considerado pelo estudante como um instrumento de
pesquisa, que este, estaria usando para medir a distância dos astros. Além disso, o
cientista está fazendo o uso de vidrarias, como o balão volumétrico, que contém
uma solução em que o cientista está “buscando” a cura de uma doença, como
descrito pelo estudante. De acordo com Reis, Rodrigues e Santos (2006), muitos
estudantes possuem a representação estereotipada de que um cientista é
“destinado a auxiliar a população”, cabendo aos professores desmistificar esses
tipos de representações no decorrer de atividades desenvolvidas no contexto
escolar.
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REPRESENTAÇÕES SOBRE CIENTISTA DO ESTUDANTE E2
Quando questionado sobre o que é um cientista, o estudante E2 citou algumas
contribuições que alguns cientistas fizeram para a sociedade, conforme o trecho a
seguir:
“Um Cientista para mim é um estudioso que dedica seu tempo a descobrir
coisas novas. Ex: alimentos modificados, remédios, protozoários, doenças. E
para isso ele precisa estudar durante muitos anos de sua vida, fazendo
pesquisas e descobertas sobre os mais diversos assuntos. Marie Curie foi uma
mulher de fibra, descobriu o dio que era um elemento muito elevado
financeiramente, e por esse motivo Marie e seu marido, também Cientista,
pediam doações de dinheiro para a compra desse elemento e até mesmo ele
próprio para seus experimentos. Estes dois grandes Cientistas morreram
buscando informações complementares.” E2Q1
Podemos verificar que o estudante E2 relaciona o cientista como um
pesquisador que fará novas descobertas, necessitando estudar muitos anos de sua
vida e buscando sempre novas informações (pesquisador ao extremo), sendo esta
uma representação idealizadora que o estudante apresenta em relação ao
cientista, tanto em relação ao nosso ponto de vista quanto ao dos autores Reis,
Rodrigues e Santos (2006), que tomamos como referência. Entretanto, o mesmo
estudante também cita importantes nomes da ciência, sendo eles Marie Curie e
Pierre Curie, o que remete a representações de que o estudante relaciona o
trabalho científico com a participação da mulher na ciência e também ao trabalho
em grupo realizado pelo casal, sendo essas representações aceitáveis do ponto de
vista científico.
O estudante E2, ao retratar um cientista, representa-o como sendo do gênero
feminino, em que identifica a figura como Marie Curie (Figura 2), sendo esta uma
representação aceitável no ponto de vista científico, porém isso pode ter ocorrido
pelo fato de o estudante ser do mesmo gênero.
Figura 2 - Produção de desenho sobre Cientista realizado pelo estudante E2 - E2D1
Fonte: Autoria própria (2017).
Na Figura 2, o estudante representa a cientista Marie Curie e a configura como
uma mulher moderna, isso por estar com maquiagem, de vestido e colar ao
pescoço. Ocorre, entretanto, que a cientista está representada com roupas
indevidas ao ambiente que o estudante tentou representar (laboratório). Além
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disso, dentre as normas de segurança laboratoriais, o modo como a cientista foi
ilustrada estaria equivocado, porque a necessidade de um cientista estar
vestido apropriadamente para a sua proteção. Mesmo assim, contudo, a
representação foge ao estereótipo, e isso pode ser considerado como positivo.
O estudante ainda retrata a cientista no laboratório, podendo-se observar a
utilização de vidrarias e de equipamentos. Isto pode significar que o estudante E2
possivelmente assistiu a cenários semelhantes nos meios de comunicação ou que
possuía experiência anterior de contato com o ambiente, visto que, com o
projeto de ICJ, o estudante não havia frequentado o laboratório ainda.
Além disso, a Figura 2 retrata pesagem de uma maçã e também o uso de
animais para experimentos, com isso se pode entender que o estudante tentou
representar um laboratório de Ciências (geralmente da área da Biologia) ou
apresenta representações estereotipadas em relação ao perfil do Cientista, em
que o estudante E2 possa ver um Cientista como um vivisseccionista, ou seja, que
utiliza animais inocentes para a realização de experimentos (REIS; RODRIGUES;
SANTOS, 2006).
REPRESENTAÇÕES SOBRE CIENTISTA DO ESTUDANTE E3
Quando interrogamos o estudante E3 sobre o que um cientista é e faz no
decorrer de sua vida, o estudante descreveu as seguintes representações:
“Um Cientista para mim é aquele que procura examinar tipo o que é glúten,
porque a água fica embaixo e o óleo em cima, saber fazer remédios, faz
experimentos, procura saber tudo e mais sobre química. Eles usam jalecos,
mulher também participa, fazendo experimentos em local próprio, precisam
ser inteligentes para mexer com essas coisas.” E3Q1
O estudante E3 cita um trabalho que ele mesmo realizaria durante o projeto
sobre o glúten (pois já havia sido comentado sobre isso no início do projeto). Além
disso, ele acrescenta, em sua resposta, que, para ser um cientista, é preciso ser
inteligente, utilizar jaleco, fazer experimentos, ajudar a população (saber fazer
remédios), saber tudo de química, podemos perceber que essas representações
que o estudante possui são representações triviais que a sociedade também possui
sobre os cientistas, assim como Reis, Rodrigues e Santos (2006) apresentaram em
seu trabalho. O estudante também possui representações aceitáveis em relação
ao cientista, citando a participação da mulher no ramo de atividade científica.
Ainda conforme as análises realizadas por Reis, Rodrigues e Santos (2006), um
dos erros está em o estudante considerar-se um cientista por ter algum dia
realizado alguma atividade no laboratório. Podemos perceber que o estudante E3
considera que as atividades que foram discutidas no início do projeto (que incluía
a participação no laboratório da Universidade) serão as mesmas que um cientista
realizaria e que ele realizará, considerando-se também como um cientista.
O estudante E3 apresenta representações estereotipadas quanto às
vestimentas utilizadas pelo cientista, pensando que eles usam somente o jaleco
(não se lembrando de que o cientista também possui uma vida ativa na sociedade,
podendo utilizar outros tipos de vestimentas, obviamente fora do laboratório),
conforme a resposta:
ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 131-147, jan./abr. 2018.
“A roupa que eles usam é jaleco, eles são inteligentes para saber mexer com
essas coisas, onde mulher e homem participam fazendo experimentos em
local próprio.” E3Q1
Além disso, uma das representações aceitáveis retratada pelo estudante é
homem e mulher participando das atividades juntos. Mesmo que ele tenha escrito
que seria em um local próprio, é importante que os estudantes vejam os cientistas
trabalhando em grupos e não em atividades solitárias. Sobre isso, Reis, Rodrigues
e Santos (2006) afirmam que os professores deveriam demonstrar aos estudantes
a validade dessa proposição, para terem representações aceitáveis e não
entenderem que somente o gênero masculino trabalha como cientista (em
trabalho em que geralmente está solitário).
A Figura 3 representa o desenho realizado pelo estudante E3 sobre o perfil
que imagina que um cientista possui:
Figura 3 - Produção do desenho sobre Cientista do estudante E3 - E3D1
Fonte: Autoria própria (2017).
Na Figura 3, podemos identificar certa semelhança das representações sobre
o perfil dos cientistas com o ambiente de trabalho que o estudante frequentou,
pois no local existe um quadro em que há as representações de duas crianças (de
ambos os gêneros), no qual o corpo é representado por um balão de Erlenmeyer.
Logo, as representações desse estudante podem ter sido influenciadas. Mesmo
assim não deixam de ser representações errôneas sobre cientista, e também
podemos entender que o cientista está somente envolvido com as vidrarias e
instrumentos contidos em um laboratório, sem ter uma vida social.
REPRESENTAÇÕES SOBRE A CIÊNCIA QUE OS ESTUDANTES POSSUEM
REPRESENTAÇÕES SOBRE CIÊNCIA DO ESTUDANTE E1
Ao questionarmos o estudante E1 sobre qual era a sua definição para ciência,
ele afirmou:
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“Um dos significados é: Uma matéria escolar do Ensino fundamental e, é a
descoberta de alguma coisa importante ligada a Ciência. Ex: Descobriu que a
terra é o terceiro planeta mais próximo do Sol é um tipo de ciência.” E1Q1
Podemos identificar que o estudante relaciona ciência como uma disciplina
escolar e para isso cita o conteúdo da astronomia como algo importante para a
sociedade. No caso, relacionar o próprio ambiente de trabalho/estudo é muito
comum acontecer com as crianças e com pessoas que apresentarem
representações ingênuas de ciência (MACHADO, 2007). O estudante ainda relata
que a ciência descobre informações úteis para a sociedade. Quanto a isso,
podemos dizer que o estudante trata o conhecimento científico como absoluto,
considerando-o como uma verdade (HARRES, 1999), sendo essas também
representações ingênuas que a sociedade possui sobre ciência.
Quando questionado sobre em quais locais a ciência pode existir, o estudante
E1 completa:
“Nos laboratórios, nos planetários, na internet, nos livros, nas escolas. Porque
nos laboratórios de ciências são feitos experimentos tem tudo a ver com
ciência. Porque nos planetários se não existisse os Cientistas a gente não
saberia o nome do nosso planeta. Porque na internet a gente pesquisa
alguma coisa relacionada a ciência e aparece o que os Cientistas falam.
Porque nos livros se a gente ler um livro de astronomia é a mesma coisa que
ler um livro de ciência. Porque nas escolas vem professores e ensinam o
básico da ciência.” E1Q1
Na resposta apresentada pelo estudante, a ciência é citada em diversos meios,
destacando a presença nos laboratórios, nos planetários, na internet e nas escolas,
sendo representações aceitáveis, pois o estudante E1 cita uma vasta área em que
a ciência pode ser empregada.
O estudante também alude a ferramentas que podem ser usadas como
instrumentos de pesquisa e/ou meios de informações, como a internet e livros,
sendo estes frutos da ciência.
Para os autores Reis, Rodrigues e Santos (2006), muitos estudantes veem seus
professores como cientistas por estes terem realizado “experiências” e por
acharem que sabem sempre as respostas “corretas”. É o que se pode verificar na
situação do estudante E1, pois descreve que o professor é um cientista por
socializar seus conhecimentos aos estudantes (ensinam o básico).
REPRESENTAÇÕES SOBRE CIÊNCIA DO ESTUDANTE E2
Quando questionamos o estudante E2 sobre o que é ciência, ele respondeu:
“Ciência para mim é o estudo/dedicação voltado (a) para o
autoconhecimento humano. Além disso os Cientistas (pessoas que estudam
a ciência) tentam descobrir as causas de doenças, suas curas, alimentos para
pessoas com restrições alimentares e etc.” E2Q1
O estudante trata a ciência como uma dedicação voltada para conhecimento
do próprio ser humano, o que não deixa de ser uma resposta correta. Além disso,
também se refere aos cientistas como que sejam auxiliadores para a humanidade.
Reis, Rodrigues e Santos (2006) destacam que muitos estudantes e a maioria da
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sociedade tratam os cientistas como descobridores de verdades. O estudante
ainda cita alguns exemplos em que, para ele, o cientista está presente, como para
descobrir as causas de doenças, suas curas e alimentos para pessoas que possuem
restrições alimentares. Pode-se verificar que o estudante não relaciona a teoria
com a pesquisa, sendo representações simplistas de ciência.
A fim de nos certificamos sobre o que o estudante E2 pensa, questionamos
em que locais ele considera que a ciência está presente:
“A ciência está presente em todos os lugares desde restaurantes até
zoológicos. E o porquê disso é que sem estudos não saberíamos quais
alimentos fazem mal para saúde ou sobre as origens das mais diversas
espécies. Obs.: Charles Darwin foi um renomado naturalista que estudou
sobre as espécies de animais, etc., e escreveu o livro "A Origem das Espécies'.”
E2Q1
A ciência, para esse estudante, está em vários lugares, desde restaurantes a
zoológicos, sendo representações aceitáveis em relação aos locais em que a ciência
pode existir. Ele também cita que sem a ciência não saberíamos sobre as restrições
alimentares e a origem das espécies, mostrando que o estudante apresenta
representações singelas de ciência. Além disso, o estudante alude à obra “A
Origem das Espécies”, de Charles Darwin, fazendo uma associação de que a
biologia também seja uma forma de ciência.
REPRESENTAÇÕES SOBRE CIÊNCIA DO ESTUDANTE E3
Quando questionado sobre ciência e onde esta se faz presente, o estudante a
relaciona com alguns conhecimentos prévios que ele possui:
“Ciências para mim é você saber o que é planetário, os planetas, o Universo,
o que é o Big Bang, meteoros, atmosfera, experimentos, etc.” E3Q1
“Nos laboratórios, nas farmácias, no Universo, nos postos, nos
computadores, na informática, etc.” E3Q1
Por meio da resposta do estudante, podemos identificar que ele relaciona a
ciência com pesquisas espaciais, em que também cita um método científico. Em
relação aos locais onde essas pesquisas são empegadas, estudante E3 cita diversos
ambientes, tais como laboratórios, farmácias, universo, postos e na informática,
relacionando a ciência com a tecnologia, sendo essas representações admissíveis
no que se refere a ciência.
Em uma análise geral, podemos ver que as representações dos três
estudantes, tanto referentes a Ciência quanto ao perfil de cientista, na sua maioria,
podem ser consideradas representações simples e ingênuas, que de modo geral a
própria sociedade perpetua.
CONCLUSÃO
Por meio das produções dos desenhos e das descrições dos estudantes foi
possível identificar que os três apresentavam representações de que os cientistas
são pessoas de pele clara e experientes, estando constantemente em ambiente de
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trabalho que é o laboratório (fazendo uso de vidrarias). Tais representações
podem ter sido influenciadas pelos meios de comunicação (MELO; ROTTA, 2010),
como, por exemplo, por filmes, por desenhos animados, por seriados, entre outros
meios.
Podemos identificar que apenas o estudante E1 apresenta totalmente
representações simples e estereotipadas em relação aos cientistas em geral, pois
os considera como sendo seres exclusivamente inteligentes, do gênero masculino,
que utilizam jaleco, fazendo diversas pesquisas e dedicando o seu tempo a fim de
auxiliar a sociedade com “descobertas”. Os estudantes E2 e E3 também
apresentam representações simples em relação aos cientistas, mas também
podemos constatar a existência de representações aceitáveis, em que o estudante
E2 apresenta o perfil de cientista como sendo do gênero feminino e o estudante
E3 vê cientistas trabalhando em grupo.
Referentemente às representações de ciência, percebemos que o estudante
E1 apresenta representações de que a ciência seja uma disciplina escolar e, ainda,
os estudantes E1 e E2 consideram que o cientista é um ser fundamental no âmbito
da ciência, porém tem como intuito descobrir leis e verdades, contudo sem sofrer
alterações. Assim, essas representações são errôneas e muito comuns em nossa
sociedade. Mesmo assim, os estudantes E2 e E3 apresentam também
representações aceitáveis a respeito de ciência, afirmando que ela pode estar
presente em diversos locais e em diversos âmbitos da sociedade.
Consideramos que projetos de Iniciação Científica Júnior possam auxiliar os
estudantes em relação às suas representações, pois nessa iniciação os estudantes
têm a oportunidade de expor suas representações, sendo fundamental sempre
partir das ideias iniciais que apresentam. Além disso, seria interessante/necessário
um acompanhamento dos estudantes por meio do contexto escolar, visando à
inclusão de assuntos relacionados à ciência e ao perfil de cientista, fazendo com
que se reduzissem as representações distorcidas, tanto em relação às ciências,
quanto em relação aos cientistas.
ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 131-147, jan./abr. 2018.
Science and scientist representation of
children participants of Project of Junior
Scientific Initiation info (CNPq/CAPES)
ABSTRACT
The present work intends to present the analysis of representations referring science and
scientist of children who are part of a Junior Scientific Initiation project. The instruments
used for the data collection were questionnaires and drawings, in which the analysis of this
study were carried out from the Content Analysis the Laurence Bardin. With the results it
was observed that the three students involved in the research have some stereotyped
representations both in relation to the knowledge identified as science and in relation to
the profile of scientist. It is expected, with the study, it is hoped that teachers will reflect on
the information and activities they propose to students in science classes, being of great
importance the previous knowledge of the students on these representations. Besides that,
should teachers consider the fundamental Scientific Initiation Junior so that the students
can express and extend their representations in relation to science and scientist, it is
necessary that the school context modifies the ways of approaching subjects related to
science and to scientists
KEYWORDS:
Representations. Junior Scientific Initiation. Chemistry Teaching.
ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 131-147, jan./abr. 2018.
NOTAS
1 Referimo-nos a representações errôneas, estereotipadas e simplistas como
sendo representações generalizadas, comuns e inadequadas, que geralmente as
pessoas possuem em relação a ciência e a cientistas.
2 Provável tradução: "Imagens Estereotipadas de Cientista: O Teste do Desenho de
um Cientista".
3 No mesmo edital de bolsas de Iniciação Cientifica Júnior houve a distribuição de
bolsas por meio do mesmo programa para estudantes do Ensino Médio.
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ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 131-147, jan./abr. 2018.
Recebido: 30 jul. 2017
Aprovado: 30 dez. 2017
DOI: 10.3895/actio.v3n1.6843
Como citar:
FORTUNA, C; GRANDO, L. M.; LEITE, R. F. Representações de ciência e de cientistas de crianças
participantes de iniciação científica júnior. ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 131-147, jan./abr. 2018. Disponível
em: <https://periodicos.utfpr.edu.br/actio>. Acesso em: XXX
Correspondência:
Caroline Fortuna
Avenida Rio Grande do Sul, n. 770, Centro, Marechal Cândido Rondon, Paraná. Brasil..
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