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ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 56-74, jan./abr. 2018.
http://periodicos.utfpr.edu.br/actio
A fotografia científica e as atividades
experimentais: livros didáticos de química
RESUMO
Catherine Flor Geraldi Vogt
catherine.geraldi@hotmail,com
orcid.org/0000-0002-3346-0818
Universidade Estadual do Oeste do
Paraná (Unioeste), Toledo, Paraná, Brasil
Ana Julia Cecatto
anajulia.cecatto@gmail.com
orcid.org/0000-0002-1285-8077
Universidade Estadual do Oeste do
Paraná (Unioeste), Toledo, Paraná, Brasil.
Marcia Borin da Cunha
borin.unioeste@gmail.com
orcid.org/0000-0002-3953-5198
Universidade Estadual do Oeste do
Paraná (Unioeste), Toledo, Paraná, Brasil
A fotografia é uma linguagem não verbal que contribui para a exposição de pesquisas
teóricas e aplicadas, em manifestações artístico-culturais e como coadjuvante eficaz em
inúmeras descobertas científico-tecnológicas. No ensino regular de Ciências, em especial
em experimentos, a fotografia pode ser utilizada como meio eficaz de observação e também
para o registro de fenômenos. Este trabalho de pesquisa tem por objetivo analisar imagens
(fotografias) e textos presentes nas atividades experimentais de livros didáticos de Química,
aprovados pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) 2015. Em especial queremos
investigar o modo como as fotografias são apresentadas e a validade do seu uso para a
experimentação em Química, quando elas vêm acompanhando os textos referentes à
condução dos experimentos. Após selecionar todos os experimentos presentes em todos os
volumes das quatro coleções do PNLD foi realizada a análise dos textos e das imagens,
considerando a definição de categorias de análise. Esses dados foram quantificados e
tabelados para a análise de acordo com as categorias. Os resultados indicam que os autores
não priorizam a utilização da fotografia como meio de observar fenômenos e analisar etapas
de um experimento. Foi observado que a fotografia é utilizada apenas para ilustrar uma
etapa do experimento, não fazendo parte do processo mais elaborado de ensino e
aprendizagem. Dessa maneira, aponta-se a necessidade de os autores de livros didáticos
considerarem a fotografia científica como recurso pedagógico, visto que esta pode
contribuir para a compreensão do conhecimento científico.
PALAVRAS-CHAVE: Livros didáticos. Química. Ensino de Química. Fotografias.
Experimentos.
ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 56-74, jan./abr. 2018.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho originou-se da ramificação de uma pesquisa realizada por
duas acadêmicas do Curso de Química Licenciatura que participam de um projeto
de Iniciação Científica intitulado “A Fotografia Científica e a Experimentação no
Ensino de Química”, na Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de
Toledo. O projeto teve como objetivo investigar o papel da "fotografia científica"
em experimentos, tratando-se de figuras geralmente presentes em livros didáticos
de Química. Para dar conta do estudo da fotografia, o projeto buscou pesquisar
referenciais teóricos sobre fotografia científica, principalmente aqueles que
indicam o seu uso didático. Diante desses estudos, o processo foi conduzido no
sentido de analisar a presença e a função da fotografia em experimentos já
elaborados e que se encontram presentes em livros didáticos de Química.
Ao longo dos anos tem aumentado a preocupação em estudar questões
relacionadas às distribuições de imagens fotográficas utilizadas nos textos de
Ciências, apontando particularidades em livros didáticos, devido à sua forte
presença. Nesse sentido, faz-se necessário o conhecimento sobre a função da
fotografia e o modo como influência o estudante e a prática dos professores em
atribuir ou produzir significados.
Nesse contexto, nossos trabalhos têm sido conduzidos pelas ideias de Perales
e Jiménez (2002), que trazem contribuições importantes para a compreensão e a
utilização dos recursos da imagem. Segundo esses autores, precisamos contornar
os obstáculos que limitam o uso mais eficiente das imagens e escassas
contribuições empíricas a respeito da integração do trabalho com imagens, assim
como metodologias de ensino com uma orientação construtiva para a
investigação. Em relação às atividades experimentais, temos nos amparado nas
contribuições de Oliveira (2010), que descreve as principais abordagens
experimentais destinadas ao ensino de Ciências e estratégias que possam torná-
las pedagogicamente mais eficientes.
Assim, nesta pesquisa, a nossa intenção está em evidenciar a função das
fotografias presentes em textos de atividades experimentais. Consideramos
significativo observar, no primeiro momento, a funcionalidade das fotografias e se
elas contribuem para a compreensão dos conceitos. Acreditamos ser importante
investigar e analisar a relação da fotografia com o texto apresentado, refletindo
também sobre a sua função didática no processo de ensino e aprendizagem.
Tendo o nosso olhar direcionado para o livro de Química e, mais
especificamente, para as atividades experimentais, pesquisamos um quantitativo
significativo de fotografias, mas, mesmo assim, observamos ausência de estímulo
visual que provoque e promova a formação de um do pensamento científico, assim
como a formação de conceitos.
1.1 O LIVRO DIDÁTICO DE QUÍMICA COMO FOCO DE PESQUISA
Existem vários materiais didáticos que são utilizados para o uso educacional.
Por exemplo, podemos citar: revistas, jornais, filmes, livros didáticos, entre outros.
Dentre eles ressaltamos a importância do livro didático, que, segundo Santos
(2007), é um elemento da cultura escolar, sendo um material que contribuiu para
a construção do conhecimento, constituído de um conjunto de conteúdos e de
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símbolos que são transmitidos no âmbito escolar. No contexto atual da educação
brasileira, o conjunto dos livros didáticos destinados às escolas públicas é
inicialmente selecionado por um programa do governo federal, denominado de
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que, por meio de bancas de docentes
formadas pelo Ministério da Educação (MEC), faz uma primeira análise,
considerando critérios previamente definidos (SANTOS, 2007).
O material didático escolhido pelo PNLD deve atender a um número
preestabelecido de páginas e a uma seleção adequada de conteúdo, com uma
determinada quantidade de texto e atividades. Ainda, durante o processo de
escolha, os docentes nas escolas devem seguir, além dos critérios já citados,
algumas regras estabelecidas pelo MEC, tais como atender ao cronograma do
período de escolha, analisar o Guia do Livro Didático, organizar-se para analisar e
definir as obras, preencher o formulário de escolha, entre outras opções (SANTOS,
2007).
Por outro lado, as diversas pesquisas que são feitas a respeito do livro didático
no ensino revelam a contribuição significativa desse recurso para o processo de
ensino aprendizagem. O que ocorre, porém, é que, para alguns professores, o livro
não somente contribui significativamente para o ensino, mas este é utilizado como
principal recurso pedagógico para a administração do conteúdo, tornando-se o
livro a única fonte do saber nas aulas. Segundo Vasconcellos e Souto (2003), o livro
de Ciências deve oferecer aos estudantes o entendimento do conhecimento
científico e filosófico da sociedade, com isso, deve tornar-se um instrumento capaz
de criar reflexões mais amplas sobre a realidade, o que implica a utilização de
variados outros recursos didáticos em sala de aula.
Com base nessa premissa, esperamos que um livro didático aborde conteúdos
e experimentos necessários para uma condução completa das aulas de Química
nas escolas. Assim, o livro deve permitir que os estudantes realizem experiências
pedagógicas significativas, promovendo reflexões sobre a realidade, estimulando
a capacidade imaginativa e investigativa. Entretanto, toda essa expectativa pode
ser frustrada quando observamos com mais acuidade os livros didáticos de
Química destinados ao ensino médio, pois eles seguem um mesmo padrão:
primeiramente a apresentação de textos para a apresentação do conteúdo, depois
uma lista de exercícios que também obedece a um padrão e, em alguns deles,
atividades experimentais em geral conduzidas por meio de roteiro ou textos
complementares. Nesse contexto, são raros os livros que trazem alguma atividade
diferenciada e que possa desenvolver um pensamento inovador dos estudantes.
1.2 TEXTOS E IMAGENS NO ENSINO DE QUÍMICA
Textos e imagens fazem parte da constituição dos livros didáticos de Química
e uma investigação dirigida para uma análise desse tipo deve considerar os
sentidos e os significados que podem apresentar aos estudantes que fazem uso
desse material.
Para Perales (2006), é fundamental entender o papel desempenhando pela
representação da imagem e texto para o ensino e aprendizagem de conhecimentos
científicos. Esses autores estabeleceram um campo de análise para avaliar a
maneira como as imagens e os textos são empregados nos livros destinados ao
ensino. No Quadro 1 estão elencadas as categorias e as suas descrições.
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Quadro 1 Categorias e descrições estabelecidas por Perales e Jiménez (2002) e Perales
(2006)
Categoria
Descrição
Sequência didática
Passagens dos textos que são situadas em relação às
imagens
Iconicidade
Grau de complexidade das imagens
Funcionalidade
Função da imagem como ferramenta didática
Relação com o texto
principal
Referências mútuas entre texto e imagem. Ajuda para a
interpretação.
Conteúdo científico
Conteúdo específico em que apresentam a imagem
Fonte: Adaptado de Perales e Jiménez (2002) e Perales (2006).
A função da sequência didática em que aparece a imagem: os livros didáticos
assumem um planejamento na sua estrutura. Os elementos, nessa estrutura,
obedecem a uma ordem de exposição dos conteúdos para facilitar o processo de
aprendizagem. A relação entre a sequência didática e o ensino de Ciências foi
apontada no estudo de Zabala (2007, p. 18), o qual ressalta como “[...] um conjunto
de atividades ordenadas, estruturadas e articuladas para a realização de certos
objetivos educacionais, que têm um princípio e um fim, conhecido tanto pelos
professores como pelos alunos”. A sequência didática no ensino de Ciências deve
conduzir a um ensino integral do conhecimento científico, como apontam
Guimarães e Giordan (2012, p. 2): “[...] é necessário que se busque[m] métodos
que promovam um entendimento menos fragmentado e mais significativo do
conhecimento científico”.
A iconicidade: Estabelece o grau de complexidade das imagens, ou seja, para
avaliar as imagens pela semelhança ao objeto representado. Dessa maneira, as
imagens que apresentam um maior grau de iconicidade, terão menor a abstração
e mais realista será a imagem. Perales e Jiménez (2002) citam, como exemplo, a
fotografia. No ensino de Química, a fotografia pode ser utilizada como um recurso
de acompanhamento de experimentos, por meio da observação e registro de
etapas, de modo a possibilitar análises mais detalhadas e que possibilitem a
ampliação do “fazer ciência na escola”.
A função da imagem como ferramenta didática: O professor deve utilizar as
imagens para expressar as ideias inseridas nos textos para o ensino de Ciências, e
requerer uma “alfabetização gráfica”, como citam Perales e Jiménez (2002), para
facilitar o entendimento dos conceitos científicos por parte dos estudantes é
necessário criar condições como, por exemplo, a observação crítica e registros
sistemáticos de fenômenos na experimentação. Consideramos como princípio
básico que o acesso a novas ferramentas didáticas como, por exemplo, a
fotografia, é um meio de possibilitar a instrumentalização que garante a
participação dos estudantes. Segundo Lotero (2014), os estudantes não são
estimulados a investigar e explorar na experimentação e, como educadores,
precisamos “[...] transformar a prática da educação em Ciência” (LOTERO, 2014, p.
244).
Relação com o texto principal: Refere-se à relação estabelecida pelos autores
dos textos com as imagens apresentadas. Esses dois elementos devem ser
combinados, estabelecendo uma dupla codificação, que deve ser corretamente
interpretada de modo a ajudar no processo de ensino aprendizagem. Uma prática
constante em livros de Ciências é a utilização do recurso visual para tornar a leitura
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mais atraente. Esse uso é bastante comum no ensino de Química, por ser uma
disciplina que exige entendimento de conceitos abstratos. Por isso, a utilização de
imagens auxilia na produção de significados e na contextualização do
conhecimento.
O conteúdo científico: A imagem apresentada precisa caracterizar o conteúdo
específico da temática apresentada. Dessa forma, deve valorizar as situações
representadas como um todo, apresentando as etapas e não apenas o processo
final. Assim, é importante que os livros didáticos apresentem vários exemplos de
imagens que podem melhor representar uma determinada situação.
Nossa intenção é apresentar um trabalho de pesquisa a fim de avaliar as
fotografias inseridas nas atividades experimentais presentes nos livros didáticos
de Química. Nosso questionamento é: Como pode a fotografia ser valorizada
nesses textos para representar o conhecimento científico? Como pode a
fotografia ser utilizada para o registro e análise de dados? Como pode a
fotografia auxiliar os processos de observação em experimentos didáticos?
METODOLOGIA
Nesta seção apresentamos os elementos que serviram de embasamento
teórico para a amostra e os objetos de análise. Dessa forma, optamos pela
pesquisa qualitativa das atividades experimentais, considerando o texto e a
fotografia presentes nessas atividades.
2.1 ESCOLHA DOS LIVROS DIDÁTICOS AMOSTRA DA PESQUISA
Para esta investigação, selecionamos as coleções de livros didáticos de
Química elegida pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD, 2015), que estão
sendo utilizados por professores das escolas públicas brasileiras.
Os livros selecionados pelo PNLD encontram-se listadas e identificados no
Quadro 2, abaixo.
Quadro 2 Coleções de LDQ selecionadas para análise
Coleção
Livros Didáticos
Título
Autores/
Editores
Código de
identificação
A
SANTOS, W. P.;
MOL, G. S.
(Coords.).
Química cidadã.
Volumes 1,2 e
3. 2. Ed. São
Paulo: Editora
AJS, 2013.
Química para a
nova geração:
Química Cidadã
Wildson Santos
e Gerson Mol
A1 (vol 1)
A2 (vol 2)
A3 (vol 3)
B
FONSECA, M. R.
M. Química.
Volumes 1,2 e
3. 1. ed. São
Paulo: Ática,
2013.
Química
Martha Reis
B1 (vol 1)
B2 (vol 2)
B3 (vol 3)
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Coleção
Livros Didáticos
Título
Autores/
Editores
Código de
identificação
C
MACHADO, A.
H.; MORTIMER,
E. F. Química.
Volumes 1,2 e
3. 2. Ed. São
Paulo: Editora
Scipione, 2013.
Química
Eduardo Fleury
Mortimer e
Andréa Horta
Machado
C1 (vol 1)
C2 (vol 2)
C3 (vol 3)
D
ANTUNES, M. T.
(Editor
Responsável).
Ser
protagonista
Química.
Volumes 1,2 e
3. 2. ed. São
Paulo: Edições
SM, 2013.
Ser
Protagonista:
Química
Murilo Tissoni
Antunes
D1 (vol 1)
D2 (vol 2)
D3 (vol 3)
Fonte: Autoria própria (2017).
2.2 OBJETO DE ANÁLISE IMAGEM E TEXTO
Os critérios utilizados para estabelecer nosso objeto de análise foram
inspirados nas propostas de Perales e Jimenez (2002) e de Perales (2006), porém
procedemos com algumas modificações para melhor adequar esses critérios as
nossas intenções de pesquisa. Inicialmente, fizemos uma análise cuidadosa do
material de forma a definirmos nosso objeto de análise. Assim, consideramos dois
aspectos para análise: texto e imagem. Dentre as possibilidades de análise da
imagem elegemos a fotografia, pois esta apresenta um maior grau de iconicidade.
Entretanto, para analisar uma fotografia qualquer é fundamental considerar essa
fotografia com a sua legenda ou com texto que a acompanha, pois ancorar o
sentido de uma fotografia na perspectiva de um autor empírico é um equívoco,
tendo em vista que a fotografia é um ato intencional e pode implicar em sentidos
diversos, dependendo de quem a observa. Desse modo, uma legenda ou um texto
que acompanha a fotografia é um elemento esclarecedor (mesmo que parcial) do
sentido e posição em que determinado material se encontra, especialmente
quando é um material didático. Diante disso, nesta pesquisa temos a fotografia e
o texto como objetos de análise, em especial as fotografias presentes em
descrições de experimentos de livros didáticos de Química.
2.2.1 Texto de Experimentos: Tipos de atividades experimentais
Como primeiro objeto de análise, temos os textos dos experimentos
disponibilizados nos livros didáticos de Química. Realizamos a análise exploratória,
análise na qual registramos e tabelamos a quantidade relativa de textos referentes
às atividades experimentais presentes nos livros da amostra. A seguir, analisamos
o tipo de experimento, ou seja, que abordagem é utilizada pelos autores dos LDs
nas atividades experimentais. Para essa análise realizamos a leitura de cada texto
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das atividades experimentais e as relacionamos com as categorias propostas por
Oliveira (2010), que serão apresentadas no item “resultados”.
2.2.2 Imagens Fotográficas: Funcionalidade
Registramos e tabulamos a quantidade relativa de fotografias presentes nas
atividades experimentais dos livros e analisamos a função de cada fotografia no
experimento. Cabe destacar aqui que foi necessária a leitura minuciosa do material
para categorizarmos a funcionalidade da fotografia, considerando os aspectos
mais relevantes presentes nos experimentos.
Para a apresentação dos resultados trazemos a análise de textos (tipo de
atividades experimentais) e imagens fotográficas (funcionalidade) de cada uma das
coleções, considerando seus três volumes. Nesse sentido, averiguarmos como o
autor torna evidente os objetivos e as estratégias e se há a preocupação de
relacionar o experimento com a imagem. E, por fim, trouxemos algumas figuras
(exemplos de fotografias inseridas nos experimentos) dos LDs e apontamos críticas
e sugestões de como a apresentação da fotografia poderia ser melhorada e
valorizada em experimentos didáticos de Química.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Nesta seção, apresentamos os resultados das amostras e objetos de análise
obtidos a partir das ferramentas utilizadas nesta pesquisa. Assim, a análise se
constituiu no estabelecimento de 98 imagens fotográficas presentes em 135
atividades experimentais, nas quatro coleções de livros didáticos de Química.
Lembramos que cada coleção consta de três livros (1º, e ano) do Ensino
Médio, aprovados pela PNLD 2015. No primeiro momento, apresentamos a
definição que permitiu a categorização para a análise das atividades experimentais
e, logo após, as imagens fotográficas, que foram separadas em seus respectivos
subtítulos.
3.1 CATEGORIAS DE ANÁLISE: ATIVIDADES EXPERIMENTAIS
Definimos o tipo/abordagem das atividades experimentais relacionadas ao
ensino de Química, tendo como referencial os estudos de Oliveira (2010). De
acordo com esses estudos e nossas análises, estabelecemos três categorias, as
quais são apresentadas no Quadro 3:
Quadro 3 Categorias de análise das atividades experimentais
Categoria
Descrição
Demonstração
Usos de roteiros de forma fechada para que os estudantes
apenas observem os fenômenos ocorridos, não promovendo a
discussão e impossibilitando a construção do conhecimento
científico.
Verificação
São desenvolvidas para comprovar a validade da teoria
remetendo aos resultados do experimento.
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Categoria
Descrição
Investigação
Atividades com fins estratégicos permitem aos estudantes um
papel mais ativo na construção do conhecimento, propondo
investigar e testar hipóteses para solucionar o problema.
Fonte: Adaptado de Oliveira (2010).
3.2 CATEGORIAS DE ANÁLISE: IMAGENS FOTOGRÁFICAS
Observamos, no conjunto das quatro obras analisadas, que as imagens
desempenham papéis semelhantes, como: descrever os procedimentos,
orientação de materiais e reagentes a serem utilizados, e exposição de fenômenos
(realizados por meio de etapas/processos). Com base nessa observação, definimos
as seguintes categorias de análise: Materiais e Reagentes, Processo e Resultados.
No Quadro 4 estão elencadas as categorias utilizadas para a análise da fotografia e
sua descrição.
Quadro 4 Categorias de análise da função da fotografia no experimento
Categoria
Descrição
Materiais e
Reagentes
A fotografia apresenta a informação restrita de materiais e
reagentes de modo descontínuo, ou seja, sem relação com o
texto.
Processo
A Fotografia como recurso para o ensino e aprendizagem de
conceitos científicos durante o processo, como fase de
observação dos fenômenos.
Resultados
A fotografia revela-se como um recurso para buscar a resolução
de um problema a ser investigado na experimentação e não
apenas apresentado como resultados.
Fonte: Autoria própria (2017).
3.3 ANÁLISES DO TEXTO E IMAGEM DE CADA COLEÇÃO
Com a definição das categorias de análise estabelecida para texto e imagem,
propomos a seguinte apresentação de resultados. No primeiro momento,
apresentamos os resultados da quantidade de experimentos de cada livro e
registramos em tabelas. Após, apresentamos o resultado da análise do
tipo/abordagem da atividade experimental. No segundo momento, o mesmo se
procedeu com as imagens fotográficas. E, por último, trouxemos um exemplo de
figura com a ilustração de um experimento, para discussão do uso de imagens nos
experimentos.
3.3.1 Coleção a Química Cidadã
3.3.1.1 Resultados quantitativos das análises de abordagens dos experimentos
Esta unidade identifica a quantidade de atividades experimentais presentes
no livro didático de Química intitulado Química Cidadã. Revelamos um número
significativo de experimentos, num total de 23. Dentre os volumes da coleção, o
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volume 1 (A1) se destaca. No volume 2 (A2) e no volume 3 (A3) há um decréscimo
na quantidade de experimentos, sendo 7 e 4, respectivamente. Os experimentos
são apresentados pelos autores em uma seção intitulada como “Química na
escola”. Essa seção aparece em todos os capítulos. No Quadro 5 se encontram a
quantidade de experimentos em cada um dos volumes.
Quadro 5 Quantidades de experimentos em cada volume da coleção Química Cidadã
TEXTOS
Volume A1
Volume A2
Volume A3
Atividades
experimentais
12
7
4
Fonte: Autoria própria (2017).
Após a análise das atividades experimentais dessa coleção e, diante das
categorias de análise já apresentadas neste trabalho, podemos dizer que são
predominantes as atividades experimentais do tipo "demonstrativo" ou
"verificação". Para a apresentação da atividade, os autores criaram um padrão
para todos os experimentos, um padrão no qual consta: “Materiais”,
“Procedimento”, Destino dos resíduos” e Análise de dados”, assim
caracterizando um roteiro fechado, o que nos permitiu concluir que seguem uma
tendência de ensino tradicional. Nessa proposta de abordagem "demonstrativa",
segundo Oliveira (2010), o professor assume o papel principal, e cabe a ele
direcionar o experimento, o qual depende apenas dos seus objetivos. Em alguns
dos textos analisados, os próprios autores da coleção citam que o experimento
deve ser realizado de forma demonstrativa pelo professor, e que os estudantes
devem apenas visualizar, o que acaba gerando conflitos no processo de ensino e
aprendizagem, não promovendo a interação dos estudantes. Destacamos também
que, no fim de cada conteúdo, aparece um prenúncio (uma chamada) referente ao
experimento e, com isso, evidenciamos uma abordagem de experimento a fim de
verificar/comprovar a teoria descrita no texto anterior, ou seja, também existe a
intenção de realizar o experimento com características de "verificação".
3.3.1.2 Resultados e Função das Imagens Fotográficas
Esta unidade identifica a quantidade de imagens fotográficas presentes nas
atividades experimentais. Deparamo-nos com 16 imagens distribuídas em toda
coleção A. Observamos que no volume 1 (A1) temos 10 imagens fotográficas,
enquanto em A3 aparece apenas uma. No Quadro 6 se encontra a quantidade de
fotografias presentes em cada volume da coleção.
Quadro 6 Quantidades de fotografias em cada volume da coleção na coleção Química
Cidadã
IMAGEM
Volume A1
Volume A2
Volume A3
Fotografias
10
5
1
Fonte: Autoria própria (2017).
Identificamos a frequente utilização de fotografias na maioria dos textos
avaliados. Ponderamos que a utilização é uma tentativa de tornar a leitura mais
atraente, não sendo identificada uma função mais pedagógica para as fotografias.
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Na maioria dos experimentos, as fotografias se encontram para demonstração do
"resultado" do experimento. Não encontramos elementos que buscassem
valorizar o processo experimental. Dessa forma, os autores não têm a fotografia
como um recurso para observação e acompanhamento do processo.
3.3.1.3 Discussão do uso da imagem nos experimentos da Coleção A
Selecionamos, da amostra da coleção A, Química Cidadã, uma figura para
ilustrar a forma como os autores utilizam a fotografia em experimentos. Vejamos
inicialmente a Figura 1 a seguir:
Figura 1 Teste do êmbolo
Fonte: Santos e Mol (2013, p. 124).
Na tentativa de fazer a análise da imagem, é notável a necessidade de
aprimorar aspectos que relacionam a fotografia com o texto do experimento.
Acreditamos que a fotografia deveria ser melhor explorada, para que o estudante
entenda novas maneiras de compreender o conteúdo, utilizando o recurso da
imagem. Nesse exemplo, a imagem da seringa é apresentada apenas para ilustrar
o resultado, pois, ao lado da imagem, os autores da Coleção A indicam o resultado
do experimento, quando escrevem “Observe que: é mais fácil empurrar o êmbolo
com ar do que o da seringa com água”. Nesse caso não existe uma análise dos
fenômenos que ocorrem durante o processo, porque a resposta foi dada antes
da realização do experimento. Assim, levantamos os seguintes apontamentos:
Notamos que, no decorrer da atividade, os estudantes o o instigados a
observar a fotografia, e cabe ao professor inserir o recurso fotográfico no processo
de ensino aprendizagem. Então perguntamos: Afinal, qual é o propósito de
utilizar a fotografia como ilustração em experimentos didáticos?
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3.3.2 Coleção B Química
3.3.2.1 Resultados quantitativos das análises de abordagens dos experimentos
Essa unidade identifica a quantidade de atividades experimentais presentes
no livro didático intitulado Química. Revelamos que, considerando a quantidade
total, temos na coleção B o mesmo número de experimentos da coleção A, ou seja,
23. O volume B2 apresentou uma quantidade maior de experimentos, enquanto
que no volume B3 identificamos apenas 4. No Quadro 7 se encontra o número de
experimentos obtidos em cada volume.
Quadro 7 Quantidades de experimentos em cada volume da coleção na coleção
intitulada Química
TEXTO
Volume B1
Volume B2
Volume B3
Atividade
experimental
9
10
4
Fonte: Autoria própria (2017).
Em relação à abordagem da atividade experimental, a grande maioria dos
experimentos pode ser considerada do tipo "demonstrativo". Segundo Oliveira
(2010), nessa situação é o professor que realiza o experimento e cabe a ele decidir
se os estudantes apenas observam ou participam de forma interativa da atividade.
Dessa forma, o experimento é realizado no final do conteúdo como um feedback
para os estudantes relembrarem o conteúdo. Além disso, ao analisar o contexto
em que as atividades foram inseridas, também são utilizadas para comprovar uma
teoria, podendo assim ser caracterizada também como uma atividade de
"verificação". Os autores dessa coleção organizam de maneira padrão os
experimentos em três subtítulos, sendo eles: “material necessário”, “como fazer”
e investigue”. Dentre eles vale ressaltar o subtítulo "investigue", que contém uma
série de questionamentos que devem ser respondidos apenas no final da
atividade, não despertam no estudante um senso crítico, pois seus
questionamentos são gerais e não buscam nem refletem sobre a solução do
experimento.
3.3.2.2 Resultados e análise das imagens fotográficas
Deparamo-nos com uma menor quantidade de fotografias nos experimentos.
Temos um total de nove fotografias para os 23 experimentos apresentados nos
três volumes da coleção B. Vale, porém, destacar o volume B3 não tem nenhuma
imagem fotográfica. Os experimentos são abordados em sessões intituladas como
“experimentos’’ e aparecem no decorrer dos capítulos. No Quadro 8 se encontra
a quantidade de fotografias presentes em cada volume da coleção.
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Quadro 8 Quantidade de fotografias em cada volume da coleção Química
IMAGEM
livro B1
livro B2
livro B3
Fotografias
4
5
0
Fonte: Autoria própria (2017).
Nos volumes 1 (B1) e 2 (B2) identificamos uma menor quantidade de
fotografias e as encontradas têm a funcionalidade de "materiais e reagentes".
Dessa forma, os autores apresentam as fotografias apenas com a função de
apresentar os objetos que fazem parte do experimento, não atribuindo à
fotografia um papel mais relevante.
3.3.2.3 Discussão do uso da imagem nos experimentos da Coleção B
Selecionamos, da coleção Química, uma figura que ilustra como os autores do
livro utilizam a fotografia. Vejamos a Figura 2 a seguir:
Figura 2 Indicadores ácido-base
Fonte: Reis (2013, p. 47).
Ao analisar a figura acima, percebemos que a autora da coleção B utiliza
apenas uma fotografia para representar um dos materiais utilizados no
procedimento, visto que o experimento demanda mais materiais e não
exclusivamente um, o repolho roxo. É importante que estabeleça a relação da
imagem com o texto do experimento, mesmo que seja apenas para apresentar
uma etapa (apresentação dos materiais), pois é necessário que os estudantes
explorem e entendam as etapas do processo para compreender o conteúdo. Nesse
sentido, a fotografia busca auxiliar o estudante no entendimento e pode promover
a imaginação. Ousamos dizer que é necessário utilizar mais de uma ilustração ou
imagem com a intenção de representar o que está sendo exposto no experimento.
Apontamos os seguintes questionamentos: Será que o estudante tem
interesse em realizar o experimento ilustrado apenas com a imagem de um
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repolho roxo? No caso do subtítulo “Material Necessário”, a maioria dos
estudantes têm o conhecimento dos materiais e reagentes descritos, porém será
que eles sabem qual é a função desses materiais no experimento? No item “Como
Fazer”, a autora demonstra como preparar uma solução de repolho roxo e conclui
com a verificação de substâncias frente ao indicador. Para concluir o experimento,
a autora não questiona o processo. Assim, a atividade experimental é meramente
de verificação. Diante disto, é conveniente utilizar a fotografia como processo e
não como fim. Assim, portanto, a falta de fotografias e a ausência de uma
metodologia investigativa não estimula o senso crítico nem a leitura imagética dos
estudantes.
3.3.3 Coleção C - Química
3.3.3.1 Resultados quantitativos a análises das abordagens dos experimentos
Esta unidade identifica a quantidade de atividades experimentais presentes
na coleção Química. Revelamos uma maior quantidade de experimentos nesta
coleção, num total de 42. Entre eles, vale destacar o volume 2 (C2), que apresentou
o maior número de experimentos (21). Os experimentos aparecem nas sessões
intituladas ''Atividades'', porém nem todas são experimentais. As atividades são
apresentadas antes ou após os textos explicativos no decorrer dos capítulos. No
Quadro 9 trazemos a quantidade de experimentos para cada volume da coleção.
Quadro 9 Quantidade de experimentos em cada volume da coleção Química
TEXTO
Volume C1
Volume C2
Volume C3
Atividades
experimentais
16
21
5
Fonte: Autoria própria (2017).
Segundo os autores dessa coleção, os experimentos são propostos com o
objetivo de promover uma interação entre o teórico e o prático, utilizando os
experimentos como forma de discutir fenômenos da química. Após analisar as
obras, podemos perceber a presença da atividade experimental em dois casos: o
primeiro é apresentado antes do texto explicativo, sendo uma introdução para o
conteúdo. Ao colocarem a atividade experimental antes do texto teórico
(conteúdo do capítulo), os autores buscam que o estudante se interesse e procure
respostas para o experimento. A realização de experimentos antes de abordar o
conteúdo é uma metodologia que possibilita ao professor questionar os
estudantes e promover discussões. No segundo caso, o experimento é
apresentado após o texto teórico, como uma conclusão da explicação. Os autores
da obra estabeleceram para apresentação dos experimentos o seguinte formato:
''Material'', ''O que fazer'', ''Questões''. Em ambos os casos, a ideia é permitir que
o estudante formule hipóteses sobre fenômenos do cotidiano, de forma a
contextualizar o conteúdo. Podemos concluir que a coleção C apresenta
experimentos com caráter "investigativo".
ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 56-74, jan./abr. 2018.
3.3.3.2 Resultados e análise das imagens fotográficas
Na coleção C encontramos a maior quantidade de fotografias presentes nos
experimentos, um total de 40 fotografias. Assim, os autores dão destaque às
imagens como forma de apresentar os experimentos. No Quadro 10 se encontra a
quantidade de fotografias presentes em cada volume da coleção.
Quadro 10 Quantidade de fotografias em cada volume na coleção Química
IMAGEM
livro C1
livro C2
livro C3
Fotografias
15
21
4
Fonte: Autoria própria (2017).
É predominante a utilização de fotografias em quase todos os experimentos.
Podemos observar uma ou mais fotografias em um mesmo experimento. Assim, o
livro é bem colorido, o que pode chamar a atenção do estudante. Quanto à função,
contudo, cada experimento traz a fotografia com uma função diferente. Em alguns
experimentos, as fotografias apresentam "materiais e reagentes", em outros,
"resultados". Isso implica uma grande discussão, pois esse experimento é
categorizado como investigativo, porém a fotografia não acompanha o processo
investigativo, dado que os autores a apresentam como resultado e não como um
processo. Esse fato pode levar o estudante apenas a observar o fenômeno e não a
refletir sobre ele, implicando haver falta da construção do conhecimento
científico.
3.3.3.3 Discussão do uso da imagem nos experimentos da Coleção C
A figura abaixo mostra a fotografia de uma maneira bem interessante, pois
remete às etapas do processo, descrevendo o experimento de maneira ilustrativa.
Com isso, arriscamos dizer que o estudante pode compreender o experimento por
meio da interpretação da imagem fotográfica. Vejamos o exemplo na Figura 3
abaixo:
ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 56-74, jan./abr. 2018.
Figura 3 Vitamina C como agente redutor
Fonte: Mortimer e Machado (2013, p. 199-200).
Diante da análise dessa coleção, é possível perceber que as atividades
experimentais e as fotografias apresentadas chamam a atenção de quem às
observa e podem ser consideradas imagens autoexplicativas, estimulando a
reflexão e auxiliando no processo de ensino aprendizagem dos estudantes. Cabe
lembrar que é importante o papel do professor para explorar, com seus
estudantes, a função das imagens para a formação dos conceitos.
3.3.4 COLEÇÃO D: Química Ser Protagonista
3.3.4.1 Resultados quantitativos das análises de abordagens dos experimentos
Na coleção intitulada Ser Protagonista - Química, deparamos com o maior
quantidade de experimentos em relação às demais coleções analisadas, com um
total de 47 experimentos. Os experimentos são apresentados pelos autores em
uma seção intitulada como “Atividade Experimental”. Essa seção aparece em todos
os capítulos. No Quadro 11, encontra-se a quantidade de experimentos em cada
volume da coleção.
Quadro 11 Quantidade de experimentos na coleção Ser Protagonista - Química
TEXTO
Volume D1
Volume D2
Volume D3
Atividades
experimentais
17
17
13
Fonte: Autoria própria (2017).
Nos três volumes analisados dessa coleção, os autores padronizaram os textos
com os seguintes subtítulos: “Objetivo”, “Material”, “Procedimento” e Analise e
discuta”. A abordagem da atividade experimental pode ser considerada como
"demonstrativa", sendo utilizada para ilustrar e relembrar os conteúdos abordados
ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 56-74, jan./abr. 2018.
anteriormente. Nesse processo, como discutimos anteriormente, cabe ao
professor decidir se organiza os estudantes como observadores dos fenômenos ou
se o incluí na realização do experimento.
3.3.4.2 Resultados e análise das imagens fotográficas
Nessa coleção temos uma quantidade significativa de imagens (33) e, como já
referimos anteriormente, é nessa coleção que temos também o maior número de
experimentos. No Quadro 12 apresentamos a quantidade de fotografias em cada
volume da coleção D.
Quadro 12 Quantidade de fotografias na coleção Química Ser Protagonista
IMAGEM
livro D1
livro D2
livro D3
Fotografias
Científicas
12
13
8
Fonte: Autoria própria (2017).
Identificamos a presença de fotografias em alguns dos experimentos com a
funcionalidade de "materiais e reagentes", apresentando informações restritas e
descontínuas. Em geral, a apresentação da fotografia não auxilia na compreensão
do assunto abordado e não permite a realização do processo de observação dos
fenômenos. Nessa situação, o papel do professor é fundamental para delinear o
conhecimento científico e relacionar o experimento com a imagem fotográfica.
3.3.4.3 Discussão do uso da imagem nos experimentos da Coleção D
Selecionamos, da amostra da coleção D, Ser Protagonista Química, uma
figura para ilustrar a forma como os autores utilizam a fotografia em experimentos.
Vejamos inicialmente a Figura 4 a seguir:
Figura 4 Exemplo de Figura
Fonte: Antunes (2013, p. 109).
ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 56-74, jan./abr. 2018.
A combinação das análises entre a imagem e texto permitiu evidenciar o uso
da fotografia. Observamos que as imagens estão inseridas num contexto
exclusivamente ilustrativo, reduzindo-a apenas ao tratamento de uma das etapas
do experimento, ou seja, apresentação dos "materiais e reagentes" que o
utilizados no experimento. Diante desse exemplo, podemos observar que a
fotografia presente na coleção D, de um modo geral, não é valorizada para
acompanhar os fenômenos que ocorrem durante o experimento. Nesse caso,
pode-se dizer que o recurso da fotografia não tem a intenção de auxiliar no
processo da investigação.
CONCLUSÃO
De modo geral, todas as coleções fazem uso da fotografia em seus
experimentos, mas somente uma, a coleção C (Química), apresenta a fotografia
em experimentos do tipo "investigativo". A maior parte das coleções utiliza
experimentos "demonstrativos" ou de "verificação", o que implica utilizar as
fotografias apenas para ilustrar os experimentos, desconsiderando as
possibilidades da fotografia para o acompanhamento e análise de processos. Se
assim fosse, poderíamos dizer que os autores conhecem o potencial da fotografia
e, neste caso, da fotografia científica. Podemos definir fotografia científica pela
aquisição e utilização de imagens no processo de produção científica e de sua
divulgação.
Em qualquer tipo de utilização da fotografia científica devemos estar atentos
para reflexões sobre a natureza e a função da fotografia, que, em geral, uma
análise textual permite chegar muito além do que aquilo que uma fotografia pode
representar.
Vale destacar que, as fotografias sejam produzidas pelo próprio estudante, e
os momentos dessa produção sejam indicados no experimento, pois o modo de
produzir é mais importante do que interpretar aquilo que é dado como o sentido
já produzido por outro, neste caso produzido o autor do livro.
O que queremos salientar, em nossas conclusões, é que, na Química, é
importante que os estudantes aprimorem a habilidade de observação e esta pode
e deve ser estimulada durante a realização de experimentos didáticos. Nesse
sentido, a observação tem importância para o desenvolvimento de processos que
envolvem a ciência e a construção do conhecimento científico. Segundo Afonso
(2008, p. 76, tradução nossa), a observação “[...] envolve a descrição e a
identificação de propriedades dos objetos e fenômenos e das semelhanças e
diferenças entre essas propriedades e ainda a descrição de mudanças observáveis
nas propriedades desses objetos e fenômenos”. Tal fato não foi observado em
nenhuma das coleções, ou seja, a fotografia é utilizada ou para ilustrar o
experimento ou para apresentar o processo, mas em nenhum caso para o
levantamento de dados ou registro por parte do estudante daquilo que ele observa
no experimento que está realizando.
ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 56-74, jan./abr. 2018.
Scientific photography and experimental
activities: didactic books of chemistry
ABSTRACT
Photography is a non-verbal language that contributes to the exposition of theoretical
research, artistic-cultural manifestations and as an effective adjunct in numerous scientific-
technological discoveries. In regular science teaching, especially in experiments,
photography can be used as an effective means for observation and also for the recording
of phenomena. This research aims to analyze images (photographs) and texts present in the
experimental activities of Chemistry textbooks, approved by the National Program of
Textbooks (PNLD) 2015. In particular, we want to investigate the way in which the
photographs are presented and the validity of their use for the experimentation in
Chemistry, when these are accompanying the texts referring to the conduction of the
experiments. After selecting all the experiments present in all volumes of the four PNLD
collections, we then proceeded to the analysis of texts and images, considering the
definition of categories of analysis. These data were quantified and tabulated, for the
analysis according to the categories. The results indicate that the authors do not prioritize
the use of photography as a means of observing phenomena and analyzing stages of an
experiment. We observed that photography is used only to illustrate a stage of the
experiment, not being part of the more elaborate process of teaching and learning. In this
way, we point out the need of textbook authors to consider scientific photography as a
pedagogical resource, since they can contribute to the understanding of scientific
knowledge.
KEYWORDS: Didactic Books. Chemistry. Cemistry Education. Photos. Experiments.
ACTIO, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 56-74, jan./abr. 2018.
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ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre, RS: Artmed, 2002.
Recebido: 30 jul. 2017
Aprovado: 30 jan. 2018
DOI: 10.3895/actio.v3n1.6827
Como citar:
VOGT, C. F. G.; CECATTO, A. J.; CUNHA, M. B. A fotografia científica e as atividades experimentais: livros
didáticos de química. ACTIO, Curitiba, v. 2, n. 3, p. 56-74, jan./abri. 2018. Disponível em:
<https://periodicos.utfpr.edu.br/actio>. Acesso em: XXX
Correspondência:
Catherine Flor Geraldi Vogt
Rua da Faculdade, n. 645, Jardim Santa Maria, Toledo, Paraná, Brasil.
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