ACTIO, Curitiba, v. 4, n. 2, p. 1-14, mai./ago. 2018. Seção Entrevistas.
inclusive me rendeu um prêmio na Suécia, ele chama-se Meaning Making in
Secondary Science Classroom. Aqui no Brasil teve um artigo que saiu na revista
Investigações no Ensino de Ciências que é mais ou menos um capítulo desse livro,
no qual mostramos a análise de uma sequência de aulas de uma professora inglesa,
analisada usando a estrutura analítica que tínhamos desenvolvido. No livro nós
apresentamos também a análise das aulas de um professor brasileiro. Foi nesse
momento que a minha trajetória acadêmica se firmou. Eu trabalhava, por um lado,
a análise do discurso em sala de aula, que é uma parte importante da minha
trajetória, e, por outro lado, a questão dos Perfis Conceituais, que já era meu
campo de pesquisa. Eu orientei algumas teses que buscaram determinar Perfis
Conceituais para diferentes conceitos básicos da ciência. Em 2014 nós fizemos um
livro que saiu pela Springer. Esse livro, chamado Conceptual profiles: a theory of
teaching and learning scientific concepts, consolidou esse programa de pesquisa.
Ele tem muitas novidades: nós fizemos um capítulo teórico, um metodológico e
um epistemológico, colocando todas as formulações que fomos desenvolvendo
desde a saída do primeiro artigo sobre perfis conceituais, chamado Conceptual
Change or Conceptual Profile Change?, que apareceu em 1995 na revista Science
& Education. Esse livro reúne os estudos dos meus ex-alunos, e também de uma
ex-aluna do Charbel Niño El-Hani, que é meu parceiro na organização desse livro,
na determinação do perfil de diferentes conceitos: molécula, calor, morte, vida,
adaptação biológica, etc.
Essas duas áreas – discurso de sala de aula e perfis conceituais - tiveram uma
grande repercussão, do ponto de vista da minha trajetória acadêmica. Eu diria que
eu construí uma carreira primeiramente buscando ter uma abordagem original, a
abordagem de perfis conceituais. De certa forma eu me inspirei em Bachelard, mas
eu acabei desenvolvendo, com o auxílio dos meus alunos e do Charbel, uma teoria
que vai muito mais além de Bachelard. Hoje, a influência de Bachelard nessa teoria
é muito pequena. Também me aprofundei em Análise do Discurso, uma vez que a
partir de 2010, mais ou menos, começou a ficar evidente que o discurso não era
apenas o discurso verbal, ou seja, você tem que analisar os outros modos de
comunicação que circulam na sala de aula, como gestos, representações gráficas,
modelos, etc. Nós fizemos um aprofundamento nessa área, chamada
multimodalidade, e produzimos vários artigos e agora temos um livro que saiu em
2018 pela Editora UNIJUÍ que chama-se “Multimodalidade no Ensino Superior”,
que é editado por mim e por Ana Luiza de Quadros. A multimodalidade incorpora
uma outra dimensão ao discurso. O discurso não é apenas discurso verbal. Muitas
vezes o aluno não compreende o que o professor está falando em sala de aula mas
para essa compreensão você não pode olhar apenas o discurso verbal, é preciso
olhar o que o professor está fazendo em termos gestual, em termos do uso de
diferentes representações, etc.
Eu acho que tudo isso dá uma ideia de como foi minha trajetória acadêmica,
e hoje eu estou investigando uma nova dimensão, a epistêmica, do discurso, para
estudar a inclusão e a exclusão do estudante por via dessa dimensão. Faço uma
coisa que tem a ver com a relação de poder em sala de aula, isso também é uma
novidade, pois surgiu a partir de um pós-doutorando que eu supervisionei, Bruno
dos Santos, ele era um especialista em Bernstein e depois eu tive a oportunidade
de conhecer os escritos de Karl Maton sobre Legitimation Code Theory (LCT), que
é uma evolução dos estudos de Bernstein, para caracterizar práticas sociais por
meio dessa teoria dos códigos de legitimação. Hoje eu estou nessa vertente. Mas