ACTIO, Curitiba, v. 4, n. 2, p. 1-14, mai./ago. 2018. Seção Entrevistas.
trajetória de vida. Quando eu fui para o chamado científico, fomos para um colégio
experimental da própria universidade. Transformaram o Colégio Universitário da
UFMG num outro, chamado Colégio Integrado, com uma disposição bastante
interessante, porque as disciplinas eram oferecidas em três módulos diferentes,
onde, para cada módulo, era obrigatório fazer certa quantidade de crédito, então
você podia compor o currículo como você queria. Por exemplo: eu tinha interesse
em química e fiz todas as disciplinas de química, mas não fazia nenhuma disciplina
de biologia, até mesmo porque eu não gostava de biologia, ou seja, dessa maneira
bastante individual se compunha o currículo de cada aluno.
Em função da reforma do ensino básico, esse colégio durou apenas um ano.
A reforma da universidade determinou que não poderia haver duas unidades com
a mesma finalidade. Já havia o Colégio Técnico, que estava de acordo com a nova
reforma da LDB, pois introduziu o ensino técnico. Desta forma, o Colégio Integrado
acabou. No momento em que fomos para o Colégio Técnico, passei para o Curso
Técnico em Química. Foi neste exato momento que eu passei a estudar
verdadeiramente a química, isso foi em 1972. Acabei concluindo o Curso Técnico
e trabalhei, como técnico em química, na indústria.
Assim, eu fui fazer o curso superior em química. Lembrando que o curso
técnico que eu fiz foi maravilhoso, nível excelente, e no curso superior fiquei
esperando que eu fosse aprender algo de química que fosse suplantar aquilo que
eu havia aprendido no curso técnico, e isso não aconteceu. Um exemplo para
ilustrar o que digo: eu tive dois semestres de química orgânica no colégio, depois,
eu tive quatro semestres de química orgânica no curso superior que não
suplantaram aquilo que eu tive no Colégio Técnico. Isso acabou me dando uma
certa frustração, quer dizer, com o curso e os professores em geral. Foi nesse
momento que eu fui para a Faculdade de Educação, e por um acidente de pura
sorte, eu tive professores muito bons, todos bons. Eu fiz bacharelado e
licenciatura. Na licenciatura eu fui aluno do professor Miguel Arroyo, da saudosa
Agnela Giusta, ou seja, professores que fizeram a minha cabeça enquanto futuro
professor. Foram eles a minha verdadeira inspiração, foi a partir deles que escolhi
a educação orientado por esses professores.
Quando me formei, eu tive a opção de fazer o curso de mestrado em
bioquímica, mas surgiu uma chance de seguir a carreira acadêmica: entrei na
universidade em 1983 como auxiliar de ensino, pois eu tinha apenas a graduação
e, consequentemente, fiz o mestrado e o doutorado em educação já lecionando
na universidade. Essa mudança de foco aconteceu devido a todas essas
circunstâncias: na verdade era para eu ser atuante na “química dura.” Mas por ter
feito o Colégio Técnico, isso acabou me dando uma base muito boa em química.
Essa base não foi suplantada na universidade em quase nenhuma área. A única
área na qual ela foi suplantada foi à físico-química, físico-química moderna,
química quântica. Mas aí já era tarde.
Assim, eu acabei me fixando na área da educação e naturalmente acabei
fazendo o concurso para a área de ensino de química na Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG), onde tinha o departamento de metodologia, que é chamado
de Métodos e Técnicas de Ensino, onde tinha uma cadeira, chamada de Prática de
Ensino de Química. Assim, já como professor do ensino superior, fiz a minha
dissertação de mestrado sobre a história dos livros didáticos de química dedicados